quinta-feira, 29 de agosto de 2013

70ª EDIÇÃO DO FESTIVAL DE VENEZA COMEÇOU COM HOMENAGEM A DIRETOR DE 'O EXORCISTA' E O DRAMA ESPACIAL 'GRAVIDADE', ESTRELADO POR COONEY E BULLOCK


O Festival de Veneza, a mostra de cinema mais antiga do mundo, comemora sua 70ª edição de 28 agosto a 7 setembro com uma programação variada, que combina filmes de diretores veteranos e jovens promessas do cinema.

Os organizadores do evento pretendem apresentar um "espelho" da realidade crua do mundo.

"O cinema reflete sobre a crise atual que estamos atravessando: econômica, social, familiar. É o espelho da realidade, que muitas vezes é trágica", diz o diretor do festival, Alberto Barbera, ao descrever a nova edição.

Alberto Barbera, diretor do Festival de Veneza - AFP
Como acontece há vários anos, os cinemas espanhol e latino-americano não estão representados na mostra oficial, mas terão um lugar especial, já que o evento foi aberto com "Gravidade", do mexicano Alfonso Cuaron, um "suspense" espacial estrelado por Sandra Bullock e George Clooney, dois dos poucos astros convidados este ano, já que está prevista um tapete vermelho particularmente sóbrio.

Ao todo, 20 filmes competem pelo cobiçado Leão de Ouro, que será concedido por um júri liderado pelo exigente cineasta italiano Bernardo Bertolucci.

Entre os diretores experientes escolhidos para a competição oficial está o britânico Stephen Frears - que entra na disputa com "Philomena", a história real de uma mulher (Dame Judi Dench) que foi obrigada a vender o filho - enquanto o seu compatriota Terry Gilliam vem com "The Zero Theorem" - que tem no elenco Christoph Waltz e Matt Damon.

Dame Judi Dench em cena de "Philomena", de  Stephen Frears 

O grande mestre japonês da animação Hayao Miyazaki apresenta "Kaze Tachinu", enquanto o jovem canadense Xavier Dolan chegará ao Lido com "Tom à la Ferme".

O talentoso diretor e ator James Franco apresentará em Veneza "Child of God", uma adaptação do livro de Cormac McCarthy sobre um jovem solitário e desajustado, cuja sexualidade reprimida o leva a buscar vítimas para satisfazer sua luxúria insaciável.

"Abuso sexual, violência contra as mulheres, dissolução de laços familiares, crise de valores... Os cineastas não dão sinais de otimismo e nem oferecem saídas", reconhece Barbera.

Entre os diretores de destaque estão ainda o israelense Amos Gitai, os franceses Merzak Allaouache e Philippe Garrel e o diretor taiwanês Tsai Ming-Liang.

A renomada diretora de teatro italiana Emma Dante se aventura pela primeira vez no cinema com o filme "Via Castellana Bandiera", enquanto seu compatriota Gianni Amelio (que ganhou o Leão de Ouro em 1998) concorre com "El intrépido".

Pela primeira vez na história do festival, dois documentários concorrem pelo Leão de Ouro: "The Unknown Known", do americano Errol Morris, uma longa entrevista com o ex-ministro da Defesa Donald Rumsfeld, e "Sacro GRA", do italiano Gianfranco Rosi, rodado na estrada circular de Roma.

Para a mostra Horizontes, a mais experimental e inovadora do festival, foram escolhidos dois filmes latino-americanos: "La vida después", do mexicano David Pablos, um filme de baixo orçamento feito por estudantes, e "Algunas chicas", do argentino Santiago Palavecino.

Santiago Palavecino and Agustina Munoz - 'Algunas Chicas' Photo Call in Venice
Atriz Agostina Lopez, diretor Santiago Palavecino  e atriz  Agustina Munoz , de  'Algunas Chicas'  - Zimbio 

Para comemorar o 70º aniversário da mostra, os organizadores prepararam uma homenagem coletiva com o projeto "Future Reloaded", assinado por 70 cineastas de todo o mundo, que devem muito de seu sucesso a Veneza - incluindo Andrzej Wajda, o coreano Kim Ki Duk e o italiano Ettore Scola, que também vai apresentar um retrato do grande Federico Fellini.

Na abertura, ontem, o diretor mexicano Alfonso Cuarón ("Filhos da Esperança", "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban") fez de Veneza um gigantesco observatório espacial.

Seu esperado "Gravidade" - um drama espacial em 3D, protagonizado por Sandra Bullock e George Clooney e repleto de efeitos especiais - foi muito aplaudido na estreia mundial.

Escrito por Cuarón e seu filho, Jonás, o filme, orçado em US$ 80 milhões (cerca de R$ 187 milhões), tem um roteiro de simples premissa e execução complicada.

O longa está fora de competição em Veneza e deve estrear no Brasil no dia 11 de outubro.

Sandra Bullock em cena de 'Gravidade', de Alfonso Cuarón - Divulgação

Bullock e Clooney são dois astronautas americanos na órbita terrestre com a missão de consertar o telescópio espacial Hubble,
mas a explosão de um satélite russo provoca uma onda destruidora de detritos, que deixa a dupla à deriva no espaço - eles precisam voltar à estação internacional, antes que os destroços voltem e o oxigênio acabe.

É um texto simples, que se contrapõe à exigência de uma série de técnicas para simular gravidade zero, desmanches épicos de ônibus espaciais e satélites e o próprio espaço, a grande estrela do filme.

"O espaço é o ambiente mais hostil que existe, com ação e reação imprevisíveis. O grande desafio foi representar essas ações, porque somos acostumados a deixar as coisas caírem. Lá em cima isso não existe", disse Cuarón, que não dirigia um longa-metragem havia sete anos.

Diretor Alfonso Cuarón posa com Sandra Bullock, George Clooney e seu filho  Jonás,  na première de 'Gravidade' em Veneza - Zimbio

"Queríamos fazer um filme pelo qual o espectador roesse as unhas, mas também se importasse com os personagens", completou Jonás.

A equação deu certo: "Gravidade" funciona - mas é quase impossível descrever a experiência de assisti-lo sem estragar seu impacto.

Os 17 minutos iniciais formam quase um plano-sequência e só não são o melhor do filme porque pouco depois Bullock protagoniza uma sequência de fuga tão tensa e nervosa que praticamente obriga o cinema inteiro a prender a respiração.

Alfonso Cuarón consegue brincar com os efeitos especiais sem relegar a dramaticidade.

"Gravidade" é sobre renascimento e superação, algo que exige bastante do talento de Sandra Bullock.

"Preciso falar sobre a performance de Sandra no filme, porque foi algo impressionante. Você precisa se mover devagar e falar depressa. Isso é muito difícil. Nunca conseguiria fazer igual", disse Clooney, em entrevista à imprensa mundial em Veneza.

"Na verdade, minha preparação foi beber durante o filme todo", brincou o ator.

Clooney consegue interpretar a si próprio, mesmo perdido no espaço: é um bonachão charmoso, um veterano repleto de histórias engraçadas e piadas instantâneas.

É justamente por saber explorar essas personalidades e por não se contentar em gerar cenas corriqueiras que "Gravidade" figura como o primeiro filme-evento de 2013 que não decepciona.

Confira o trailer de 'Gravidade':


O primeiro dia de Veneza também teve a exibição de "Veneza 70 - Future Reloaded", filme com curtas de 70 diretores em comemoração do aniversário do festival.

O resultado da experiência é mais festivo do que significativo: com o limite de 90 segundos para cada "doação" dos cineastas, nada muito espantoso foi produzido por nomes como o iraniano Abbas Kiarostami, o israelense Amos Gitai e pelos diretores brasileiros Karim Aïnouz, Júlio Bressane e Walter Salles.

Também um Leão de Ouro especial foi concedido ao cineasta americano William Friedkien - diretor do célebre "O Exorcista" (1973) - pelo conjunto de sua obra.

Friedkin, 78 anos, recebeu 10 indicações ao Oscar em 1973 pelo "Exorcista" e também dirigiu "Operação França" (1971),  thriller premiado com cinco estatuetas, inclusive a de melhor diretor.

Seu último filme, "Killer Joe" - uma comédia de humor negro adaptada da obra teatral de Tracy Letts - foi apresentado na mostra competitiva do Festival de Veneza em 2011.

Outro filme de Friedkin, o sombrio "Bug", de 2007, também foi adaptado de uma peça de Letts.

William Friedkin exibe o Leão de Ouro recebido pela carreira no Festival de Veneza - Claudio Onorati/EFE

Criticado por seu temperamento difícil no set, Friedkin ainda é uma referência para o cinema de ação contemporâneo.

O diretor teve um casamento breve com a Diva francesa Jeanne Moreau - estrela de clássicos como "Jules e Jim" - e nos anos 1990, ele passou a dirigir óperas.

Em 1998, sua montagem de "Wozzeck", de Alban Berg, com a orquestra de Zubin Mehta, foi apresentada num festival de arte lírica em Florença.

Em seguida, dirigiu em Los Angeles "Ariadne auf Naxos", de Richard Strauss, e a mítica "Aída", de Giuseppe Verdi, na Itália.

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