terça-feira, 3 de março de 2020

'ONISCIENTE': CRÍTICA DA PRIMEIRA TEMPORADA

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A Netflix a vendeu como "a Black Mirror brasileira" - mas a série é pouco inventiva
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SINOPSE:

Em um futuro (não tão distante), uma cidade é monitorada constantemente pelo sistema de vigilância Onisciente.

Cada cidadão possui um pequeno drone em forma de libélula, quase imperceptível que monitora tudo o que acontece e repassa os dados para um supercomputador que analisa tudo sozinho.

Nenhuma pessoa tem acesso a ele e desta forma, a criminalidade é quase nula, já que odos sabem que se algum crime ou infração for cometido, o culpado será capturado quase que imediatamente e responderá por seus atos.

Para a jovem Nina (Carla Salle) tudo parece funcionar perfeitamente.

Ela faz parte de um programa de trainee da Empresa Onisciente, sonha em ser efetivada e leva uma boa vida com o pai e seu irmão Dani (Guilherme Prates).

Os cidadãos vivem em segurança e a criminalidade quase não existe, mas tudo muda quando acontece um assassinato que não é reportado ao supercomputador.

A partir disso, Nina começa sua própria investigação em busca da verdade.

Diante de dilemas morais e éticos, a protagonista trilha um caminho perigoso onde acaba esbarrando em segredos do governo e da própria empresa.

CRÍTICA:

Pedro Aguilera foi bem sucedido ao produzir a série 3%  e isso animou a Netflix a apostar mais nas produções brasileiras.

Com a quarta e última temporada da série 3% já garantida, o roteirista e criador nos apresenta um novo projeto.

Sem muita divulgação, a nova produção brasileira, Onisciente, chegou à plataforma da Netflix de forma quase silenciosa.

O thriller de ficção científica traz uma premissa interessante que evoca Black Mirror ao mostrar uma sociedade dominada pela tecnologia e seus efeitos negativos.

O conceito do sistema Onisciente apesar de inteligente e interessante, prova que não é perfeito.

O assassinato do pai de Nina não é identificado pelo sistema e, por isso, ela decide investigar para desvendar não só o motivo do crime, mas também quem o matou e, principalmente, como o crime foi encoberto.

Embora a trilha sonora não favoreça muito, a série consegue criar através dessa premissa uma atmosfera de tensão e suspense, onde não é possível confiar em ninguém até que a verdade seja descoberta.

Evidentemente, Aguilera foi buscar inspiração no livro “1984”, de George Orwell, que depois de muitos anos serviu como base para reality shows (Big Brother, por exemplo) e, assim, estabelecer o paralelo entre o “grande irmão” do livro com o sistema Onisciente da série se torna algo natural.

O mesmo cenário de vigilância e o conflito entre privacidade e segurança, pautados pelas propagandas como “Sistema Onisciente, viva sem medo”, ou “Não é privacidade vs. segurança, é privacidade e segurança, nenhum ser humano tem acesso as imagens do sistema” - tudo é uma forma do Sistema controlar a sociedade, plantando a ideia de segurança e privacidade.

O universo criado na série se expande, um grande acerto nesta curta primeira temporada.

A cidade vigiada permite receber visitantes para experimentar o estilo de vida “Big Brother” e também permite a saída de seus cidadãos a qualquer momento - ao sair da cidade, seus drones entram em modo hibernação.

Fora da cidade, a sociedade se parece muito com a nossa sociedade atual. com pessoas vivendo sob o medo e a violência.

Explorar o mundo além da cidade possibilita novas discussões e, mais uma vez, tudo fica apenas na superfície.

Apesar de trazer uma discussão bastante atual sobre segurança, vigilância e privacidade, a primeira temporada com apenas seis episódios sofre com algumas falhas, até consegue ser dinâmica e equilibra todos os temas propostos, mas tudo fica muito raso.

Algumas subtramas parecem não conversar com trama central, como o chefe de Nina, que sai da cidade vigiada e faz expurga seu estressa socando até a morte um morador de rua, cena simplesmente jogada na tela para logo depois ser esquecida.

Mesmo diante de uma vigilância absoluta, Nina não mede esforços para encontrar as respostas que precisa para desvendar a morte de seu pai.

As conveniências da trama que facilitam a investigação da personagem incomodam um pouco.

Outro problema é a superficialidade no funcionamento dos drones, que ficam responsáveis por identificar e reportar os crimes.

Ao longo dos episódios, várias formas de desviar dos drones são apresentadas ao público e dessa forma, a credibilidade do Sistema se torna questionável.

As atuações não são espetaculares, mas também não são tão ruins, mesmo o elenco sendo muito irregular.

A protagonista Nina, interpretada por Carla Salle, alterna o tempo todo boas e más atuações.

Seu romance com o personagem de Jonathan Haagensen, Vinícius Moreira, deve ganhar algum prêmio de pior química de casal em todos os tempos.

Aliás, fazia tenho que não víamos o bom ator num papel tão pífio.

Guilherme Prates, que faz o irmão de Nina, Daniel, não diz a que veio em nenhuma cena.

Assim, o quesito atuação se salva com os veteranos Marcello Airoldi - que na pele do boss da Onisciente, Ricardo Costa, dá show em todas as cenas que aparece - e principalmente, com Sandra Corveloni: sua personagem,Judite Almeida, começa como uma amiga de Nina fora do sistema, sua participação vai aumentando e no último capítulo, finalmente diz a que veio, o que é sensacional.

A direção de arte é um achado: os celulares - que parecem capinhas de bilhete único que os camelôs vendem, são pequenos e muito funcionais.

Os carros, todos elétricos, aparecem por toda parte - parecem ser um grande merchandising de uma marca alemã.

A protagonista roda pela cidade pedalando uma bake, circundada por muitos patinetes elétricos.

Mas a série não é marcada só por erros, já que convida o público a refletir.

Dentre tantas questões que a série levanta, uma delas diz respeito ao comportamento do ser humano enquanto cidadão.

Fazendo uma análise de comportamento, como as pessoas são quando estão sendo vigiadas e como elas são sem vigilância?

Esse modelo de sociedade só funciona porque a disciplina é regida pela política do medo, para ser mais preciso, o medo da punição.

Onisciente é pouco criativa e não se arrisca no desenvolvimento da trama.

Cumpre seu papel em levantar reflexões pertinentes, principalmente se compararmos com nosso momento atual.

Informação é poder e isso se torna ainda mais forte no final da temporada.

A cena final deixa um grande gancho para a segunda temporada.

Tomara que ela venha melhor trabalhada do que essa primeira.

GALERIA DE IMAGENS:
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TRAILER:


FICHA TÉCNICA:
ONISCIENTE
Formato:
Série
Gênero:
Ficção científica
Capítulos:
06
Duração:
50 minutos
Criador:
Pedro Aguilera
País de origem:
Brasil
Diretor(es):
Isabel Valiante, Júlia Pacheco Jordão
Produtor(es) executivo(s):
Tiago Mello, Pedro Aguilera
Roteirista(s):
Pedro Aguilera, Guilherme Freitas, Thais Fujinaga, Ludmila Naves, Maria Shu
Elenco:
Carla Salle, Sandra Corveloni, Guilherme Prates, Jonathan Haagensen, Luana Tanaka, Marcello Airoldi
Compositor da música-tema:
Gui Amabis
Estúdio:
Boutique Filmes
Exibição:
Netflix
Transmissão original:
29 de janeiro de 2020 – presente

COTAÇÃO DO KLAU:

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