segunda-feira, 16 de março de 2020

'ELITE': CRÍTICA DA 3ª TEMPORADA

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Melhor série espanhola da Netflix entrega nova temporada com tensão, boas reviravoltas, muitas festas e elenco afiadíssimo
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SINOPSE:

Voltamos ao colégio Las Encinas acompanhando a revolta de todos com o retorno de Polo (Alvaro Rico), que não foi acusado formalmente da morte de Marina (María Pedraza).

Enquanto isso, uma disputa por uma bolsa de estudos opõe novamente Nadia (Mina El Hammani) e Lucrecia (Dana Paola), que juntamente com Gusmán (Miguel Bernardeau), mostram que, afinal, priorizam as amizades.

Ander (Áron Piper) está com leucemia e a doença abala sua relação com Omar (Omar Ayuso).

Carla (Ester Expósito) namora um novo rico, Yeray (Sergio Momo), para salvar seu pai da falência.

Samuel (Itzan Escamilla) continua seu romance com Rebeca (Claudia Salas), mas gosta mesmo é de Carla.

Por fim, Cayetana (Georgina Amorós), já mantendo um romance com Polo, acaba num trisal com ele e Valerio (Jorge López), meio irmão de Lucrecia, que volta para agitar a vida de todos.

CRÍTICA:

Os estudantes de Las Encinas já vivenciaram dilemas típicos da idade e se envolveram em mistérios decorrentes de assassinatos e outros crimes.

Dessa vez, a terceira temporada de Elite os coloca diante do peso que as consequências de seus atos têm sobre si mesmos e os demais ao seu redor.

Além do drama vir da carga que se acumula nas vidas dos personagens, ainda há uma sensação de encerramento proveniente tanto da conclusão dos estudos básicos quanto da proximidade da morte e da conclusão de seus arcos narrativos.

A terceira temporada da série original Netflix tem início com os desdobramentos da liberação de Polo da prisão, por conta da insuficiência de provas para condená-lo pela morte de Marina.

Apesar disso, seus colegas de escola sabem a verdade e se recusam a aceitar sua presença, exceto Cayetana e Valerio que se aproximam dele e formam um caliente trisal.

Paralelamente, todos os jovens seguem suas vidas pensando em qual universidade estudarão no futuro próximo e enfrentando outras dificuldades próprias do amadurecimento.

Enquanto o presente avança, flashforwards indicam que na festa de formatura Polo será assassinado, colocando Samuel, Guzmán, Ander, Omar, Carla, Lucrecia, Valerio, Cayetana, Nadia e Rebeca como suspeitos.

O primeiro capítulo rapidamente aponta que o novo suspense é um novo “quem matou?”.

Diferentemente da mesma abordagem usada sem tanto sucesso no caso de Marina, o vaivém no tempo entre os antecedentes do homicídio e a morte em si (com a investigação subsequente) cria um suspense absurdamente eficiente.

Acompanhamos os comportamentos suspeitos, contradições e mudanças profundas atingirem cada personagem e novas dinâmicas surgirem para surpreender o público.

A opção de dar aos títulos dos oito novos episódios o nome de cada personagem destaca quem está, naquele instante, fazendo a trama avançar e qual ponto de vista será trabalhado.

A grande sacada dessa nova temporada é que o mistério nunca assume o tom primordial da narrativa como havia acontecido na segunda temporada.

Resgatando o estilo da primeira, a ideia passa a ser, inicialmente, equilibrar suspense e conflitos dramáticos alternando entre núcleos onde essas perspectivas aparecem: a morte de Marina e as tentativas de incriminar Polo envolvem o próprio assassino, Cayetana, Samuel e Guzmán, enquanto os dramas cotidianos cercam Ander, Omar, Nadia, Lucrecia, Valerio e Rebeca.

Com o passar do tempo, o mistério é colocado apenas pontualmente e, assim, as questões emocionais são tratadas como prioridade – inclusive, os esforços de levar o assassino de Marina para a prisão se reduzem consideravelmente e apenas atingem Samuel.

Desse modo, subtramas relacionadas a doenças precoces, decisões sobre o futuro, uso exagerado das redes sociais, desigualdades de classe, venda de drogas, divergências familiares, amores concretizados ou não e influência nociva do dinheiro percorrem cada arco narrativo, com cenas bem elaboradas, roteiro perfeito, diálogos marcantes e direção de cada episódio absolutamente primorosas.

Mesmo que o peso dramático seja o principal, a maioria dos conflitos que funcionam está ligada de alguma maneira à morte de Marina e à liberdade de Polo, porque os novos personagens inseridos levam a história para rumos insatisfatórios por não dialogarem com o plot principal.

Assim, o envolvimento de Malick (Leïti Sène) com Nadia e de Yeray com Carla prejudicam o desenvolvimento das duas mulheres e não desperta tanta atenção também pelo pouco interesse que os recém-chegados causam no espectador - ambos os dois atores até que se esforçam, mas são ruins e quase estragam todas as cenas em que aparecem.

Entretanto, alguns velhos conhecidos do elenco igualmente sofrem com problemas narrativos, alguns mais sérios do que outros, como as interações adiadas entre Guzmán e Nadia e Lucrecia e Valerio.

Os clichês na relação entre Omar e Ander são bem colocados: com Ander com câncer e tentando afastar todos que gostam dele, Omar fica confuso e se entrega a um ficante, justamente Malick, o namoradinho perfeito de sua irmã, Nadia.

Felizmente, o arco retoma seu rumo e após alguns embates e cenas espetaculares entre Arón Piper e Omar Ayuso, o melhor casal da série termina juntos e felizes.

Por outro lado, outros personagens revelam com maior clareza os impactos de escolhas erradas, tragédias mal resolvidas e ressentimentos ainda abertos em suas evoluções.

Se antes Valerio e Rebeca eram coadjuvantes, nessa temporada assumiram importância considerável e apresentaram um percurso dramático interessante.

Ele mantém o humor irresponsável de uma criança crescida, mas amadurece, em parte, para deixar a superficialidade de um bon vivant que só se preocupava com festas, drogas e uma vida sem compromissos e ela se encontra muito mais nos embates com a mãe traficante (algo que inclui a luta para não seguir os erros de sua família) do que no relacionamento com Samuel, também em função da fragilidade de performance do ator com quem tanto contracena - Itzan Escamilla parece que desaprendeu a atuar e seu Samuel nessa terceira temporada é muito ruim.

Outras três figuras possuem caminhos inesperadamente positivos que demonstram a possibilidade de o roteiro ser original, por exemplo o controle da fúria de Guzmán para perceber que sua sede de justiça o consumia como uma vingança atormentadora; a autonomia conquistada por Nadia em buscar sua felicidade enfrentando a tentação de mentiras e o tradicionalismo familiar; e a maturidade desenvolvida por Lucrecia para se tornar uma pessoa mais solidária, independente e menos competitiva (apesar de preservar sua  bem vinda ironia confrontadora).

Em termos técnicos, existe também um peso de mudanças que os criadores Darío Madrona e Carlos Montero conseguem lidar melhor do que nos outros anos.

Além de uma utilização mais feliz da montagem não linear, a estética novelesca está contida devido a cenas esteticamente muito mais bem feitas: as aberturas de episódios que, por exemplo, mostram a força das redes sociais entre os jovens, as atitudes condenáveis de Valerio para sobreviver financeiramente e os paralelos entre as jornadas de Rebeca e Carla.

Em compensação, quando o último episódio chega e os acontecimento da festa de formatura são encenados, há diversas falhas entre o que havia sido mostrado anteriormente e a cadeia de acontecimentos desenrolada sem interrupções, além de conveniências de roteiro logo após a morte de Polo.

Ainda que sejam perceptíveis os problemas de diferentes naturezas, a terceira temporada de Elite é mais bem resolvida e bem acabada delas.

Se o equilíbrio entre suspense e drama já era desafiador, vermos os personagens através da questão do peso das consequências de seus atos e de outras pessoas sobre suas vidas e futuros se revelou um achado, de sincronia e maturidade.

O espectador sente o cansaço que eles vivem em razão das mortes e perdas continuarem a criar conflitos e infelicidades e os próprios jovens percebem como se uniram de maneira inesperada.

A última cena, com os alunos remanescentes voltando a las Encinas para o primeiro dia de aula, demonstra que a vida segue - e eles tem de seguir em frente também.

Um fechamento de ciclo muito honesto para uma série que cresceu com o tempo e ainda promete novas temporadas pela frente.

GALERIA DE IMAGENS:
Elenco principal reunido na festa de formatura do último episódio

Georgina Amorós é Cayetana
Miguel Bernardeau é Guzmán


Omar Ayuso é Omar

Jorge López é Valerio
Sergio Momo é Yeray
Ester Expósito é Carla
Dana Paola é Lucrecia
Leïti Sène é Malik

Mina El Hammani é Nadia

Claudia Salas é Rebeca

Itzan Escamilla é Samuel

Áron Piper é Ander






TRAILER:


FICHA TÉCNICA:
ELITE
Título Original:
Elite
Formato:
Série
Gênero:
Drama/Suspense
Criador(es):
Carlos Montero, Darío Madrona
País de origem:
Espanha
Produção:
Zeta Producciones
Distribuída por:
Netflix
Elenco principal da terceira temporada:
Itzan Escamilla, Miguel Bernardeau, Álvaro Rico, Arón Piper, Mina El Hammani, Ester Expósito, Omar Ayuso, Danna Paola, Claudia Salas, Georgina Amorós, Jorge López
N.º de temporadas:
3
N.º de episódios:
24
Estreia da terceira temporada:
13.03.2020

COTAÇÃO DO KLAU:

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