terça-feira, 17 de maio de 2016

FESTIVAL DE CANNES: SESSÃO DE GALA DE 'AQUARIUS' TEM PROTESTO DE ATORES CONTRA O GOLPE NO RED CARPET

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A mídia do mundo todo noticiou o protesto conta o golpe do elenco e produção do filme brasileiro que concorre à Palma de Ouro
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A sessão de gala de "Aquarius", filme brasileiro que concorre à Palma de Ouro no Festival de Cannes 2016, foi marcado nesta terça (17) por protestos contra o golpe de estado chefiado por Michel Temer.

A exibição também agradou os presentes, que aplaudiram o filme por sete minutos.

Elenco e o diretor Kléber Mendonça Filho deixaram o Palácio dos Festivais emocionados.

Ao chegar ao topo da escadaria que leva ao Palácio dos Festivais, o diretor Kléber Mendonça Filho, os atores Humberto Carrão e Maeve Jinkings e outros integrantes da equipe mostraram cartazes com frases em inglês e francês com dizeres como "O mundo não pode aceitar este governo ilegítimo", "Um golpe está acontecendo no Brasil", "54.501.118 de votos foram queimados", "Misóginos, racistas e impostores como ministros" e "Dilma, vamos resistir com você".

Um dos presentes abriu sua camisa para deixar à mostra uma camiseta com a frase "Super Dilma", em referência à presidente Dilma Rousseff, afastada neste mês de seu cargo por um golpe de estado dado por setores de direita e partidos que há tempos vem perdendo as eleições presidenciais no Brasil.

Elenco e diretor de 'Aquarius' denunciam o golpe de estado brasileiro no red carpet do festival de Cannes - AFP

Pouco antes da exibição, a câmera do festival filmava a estrela brasileira e protagonista do longa, Sônia Braga - e alguém posicionou um pequeno cartaz atrás dela, escrito: "Salvem a democracia brasileira".

Ainda no topo das escadas, Thierry Fremaux, diretor do festival, fez uma pausa no protocolo e pediu que a equipe do evento filmasse os cartazes - uma chancela importante da poganização do festival do mundo contra o golpe brasileiro.

Durante a passagem pelo tapete vermelho, outros convidados e membros da equipe também empunharam cartazes com frases como "Nós resistiremos", "O povo não pode aceitar um governo ilegítimo", e "O Brasil não é mais uma democracia".

Depois, dentro da sala de exibição, os convidados do filme estenderam uma faixa com a frase "Stop the coup in Brazil" (parem o golpe no Brasil), que foi mostrada à exaustão pelas TVs que transmitiam a cerimônia ao vivo.

Na sala de imprensa do festival, jornalistas que acompanhavam o evento por um telão aplaudiram entusiasmados em apoio.

Faixa aberta pelos convidados do filme na sala de exibição, com os dizeres "parem o golpe no Brasil" - Reprodução - Canal +

"Aquarius", dirigido por Kléber Mendonça Filho ("O Som ao Redor"), é protagonizado por Sonia Braga.

Mais cedo, o cineasta e a atriz já haviam falado sobre o assunto à agência AFP.

"O que está acontecendo é um golpe de Estado", disse o diretor.

"Eu moro nos Estados Unidos, mas também no Brasil, tenho família e amigos lá e penso que o que está acontecendo, a manipulação da tomada do poder, tem que ser exposto ao mundo inteiro", afirmou a atriz, que passa a maior parte do ano em Nova York.

"Uma das coisas que mais me preocupa é como o Brasil está dividido. Nunca havia visto o meu país tão dividido", disse.

Em entrevista ao UOL, a atriz Maeve Jinkings, que vive a filha de Sonia no filme, também juntou-se ao grupo expressivo de atores, diretores e produtores que protestam, dentro e fora do festival, contra a nova situação, especialmente a fusão do Ministério da Cultura com o da Educação.

"É um paradoxo tão grande estar em Cannes representando o cinema nacional nesse momento", afirma.

"Existe um trabalho colossal por trás dessa seleção do filme em Cannes. O cinema só está produzindo uma média de 130 longas por ano porque tivemos leis de incentivo", defende.

"Na última vez em que sofremos um grande baque, na era Collor, produzimos um ou dois filmes por ano apenas. Não podemos nunca voltar a isso" - concluiu.

Assim como a maior parte da produção cinematográfica brasileira - que segue modelo próximo ao de países como a França, que tem pesados subsídios para o cinema local- "Aquarius" foi financiado através da Lei do Audiovisual - lei de fomento que autoriza projetos a captarem recursos junto à iniciativa privada, que em contrapartida pode descontar parte desse patrocínio do imposto de renda devido- que autorizou a produção a captar R$ 2,9 milhões, além de editais como o do BNDES, através do qual o filme recebeu R$ 1 milhão do banco estatal.

O jornal londrino 'The Guardian' divulgou agora a pouco a capa da sua edição em papel de amanhã, com destaque para o protesto dos brasileiros no red carpet de Cannes.

Veja:

O filme foi aplaudido na exibição para a imprensa, antes da projeção no Grande Teatro Lumière, na presença do elenco.

A interpretação de Sônia Braga é responsável por boa parte dos elogios reservados ao filme e alguns críticos apostam que "Aquarius" não deve sair de mãos vazias da cerimônia de premiação - ela mesma aparece agora muito cotada à Palma de Melhor Atriz.

Aos 65 anos, Sônia Braga interpreta Clara, uma ex-crítica musical que mora no "Aquarius", um edifício dos anos 1940 construído na orla do Recife, cercada por seus discos, livros e recordações.

As coisas se complicam quando o prédio é adquirido por uma empresa que planeja demolir o edifício para construir um complexo residencial moderno.

Clara rejeita a proposta apresenta pelo promotor imobiliário e, apesar do relacionamento difícil com os filhos e do câncer de mama que a fez perder um seio, ela não está disposta a ceder.

Sônia Braga acena no red carpet do Festival de Cannes - AFP

Em uma entrevista à AFP em um hotel de Cannes, a atriz disse que sua personalidade e a de Clara "se uniram em uma só".

"É uma mulher da minha idade que tem três filhos - eu nunca tive filhos, esta seria a diferença - e a situação em que se encontra, a pressão, a luta, o 'não faça isto', eu vivi, no Brasil e em toda minha vida", afirmou.

Parabéns à Diva, ao diretor e a todos os envolvidos no longa - e parabéns duplos pela denúncia do golpe ao mundo, num dos lugares mais filmados e fotografados do mundo como é o red carpet de Cannes.

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