domingo, 22 de maio de 2016

FESTIVAL DE CANNES: BRITÂNICO 'I, DANIEL BLAKE' LEVA A PALMA DE OURO - BRASILEIRO 'AQUARIUS' SAI SEM PRÊMIOS

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'A Moça Que Dançou com o Diabo', de João Paulo Maria Miranda, foi aclamado pela quebra de padrões de representação social
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Aclamado pela crítica internacional quando estreou no Festival de Cannes, o brasileiro "Aquarius" saiu sem nenhum prêmio da cerimônia de premiação neste domingo (22).

A derrota brasileira já podia ser sentida antes de a cerimônia começar, já que nem a protagonista Sonia Braga, nem o diretor Kleber Mendonça, foram vistos no tapete vermelho para a cerimônia.

A Palma de Ouro foi para o drama social britânico "I, Daniel Blake", de Ken Loach, sobre um operário doente que não consegue receber seu seguro-desemprego devido à imensa burocracia do sistema social no Reino Unido.

Confira o trailer de "I, Daniel Blake":


Loach aproveitou para criticar veementemente o crescimento dos governos de direita pelo mundo.

"A política neoliberal trouxe a miséria, da Grécia a Portugal, com um pequeno número de pessoas que enriquecem com isso", afirmou.

"Defendo um cinema de protesto, que coloca os fracos contra os poderosos. Um outro mundo não é só possível, mas necessário".

Ken Loach recebe a Palma de Ouro de Mel Gibson e do presidente do júri, George Miller - Reuters

É a segunda vez que o diretor britânico vence a Palma de Ouro – a primeira foi com "Ventos da Liberdade", há dez anos.

A filipina Jaclyn Jose, do drama "Ma'Rosa", tirou as chances de Sonia Braga e levou a Palma de melhor atriz.

Ela vive a mãe do título, uma mulher que vende drogas para sustentar os filhos e acaba indo presa.

Jaclyn Jose (à esquerda, segurando o diploma) se emociona com a filha, Andi Eigenmann, e o diretor Brillante Mendoza pela Palma de melhor atriz - Reuters

Como grande surpresa, o Grande Prêmio do Júri (segundo melhor filme da competição) foi para o canadense Xavier Dolan, 27, com o drama "Juste la Fin du Monde" (Apenas o Fim do Mundo), sobre um rapaz que volta para casa depois de muitos anos longe para anunciar à família que vai morrer em breve.

Menino-prodígio criado por Cannes, com cinco de seus seis filmes exibidos no festival, ele já havia sido premiado com um Prêmio do Júri por "Mommy" (2014).

"Prefiro a loucura dos pacientes à sabedoria dos indiferentes", disse Dolan, ao receber o prêmio.

Xavier Dolan recebe o Grande Prêmio do Júri (segundo melhor filme da competição) - Montreal Gazette

O prêmio mais polêmico foi o de direção - para o francês Olivier Assayas pelo suspense "Personal Shopper", com Kristen Stewart, muito vaiado em sua primeira sessão.

A vaia se repetiu na sala de imprensa quando o prêmio foi anunciado.

Olivier Assayas posa com Kristen Stewart, protagonista do seu longa 'personal Shopper', em Cannes - AFP

O prêmio de direção foi dividido com o romeno Cristian Mungiu, por "Graduation" – o diretor já ganhou a Palma de Ouro por "4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias".

O cineasta alertou para o pouco espaço dado ao cinema de autor no mundo hoje.

"American Honey", com Shia Laboeuf, sobre jovens americanos que vendem revistas viajando os EUA numa van enquanto levam uma vida selvagem de sexo e drogas, levou o Prêmio do Júri.

Confira o trailer e comentários de "American Honey":


O iraniano "The Salesman", de Asghar Farhadi – o mesmo de "A Separação", vencedor do Oscar –, que foi incluído por último na Competição, levou dois prêmios: melhor roteiro e ator para o iraniano Shahab Hosseini pelo professor que precisa lidar com uma provável tentativa de estupro da mulher.

O Brasil, que tinha muita expectativa de levar algum prêmio com o longa "Aquarius" na disputa pela Palma de Ouro, levou um prêmio menor, uma menção especial do júri (um segundo lugar) para o curta "A moça que dançou com o diabo", de João Paulo Miranda Maria.

Ao narrar o périplo de uma jovem criada em seio religioso para buscar seu próprio Paraíso, o diretor de 'Command Action' (2015) quebra padrões de representação social, construindo uma reflexão irônica.

A Palma de Ouro na categoria foi para um curta espanhol, "Time Code".

Antes do início da cerimônia, o júri deu a entender que a decisão dos prêmios foi difícil e cheia de discordâncias.

"Foi muito difícil. Mas aqui estamos", disse o ator dinamarquês Mads Mikkelsen, astro da série "Hannibal".

"Não foi muito fácil", declarou o húngaro Laszlo Nemes, diretor de "O Filho de Saul".

A cerimônia de premiação tentou imitar o Oscar e apresentou números musicais, tudo muito chato, tão chato quanto o prêmio americano.

Na apresentação, um grupo de músicos no palco tocavam músicas da trilha sonora de filmes vencedores da Palma de Ouro, como "Pulp Fiction" e "Dançando no Escuro".

Ken Loach recebe a Palma de Ouro em Cannes neste domingo - Reuters

CONFIRA OS VENCEDORES DO FESTIVAL DE CANNES 2016:

Palma de Ouro
"I, Daniel Blake", de Ken Loach (Reino Unido)

Grande Prêmio do Júri
"Juste la Fin du Monde" (Apenas o Fim do Mundo), de Xavier Dolan (Canadá/França)

Melhor diretor
Olivier Assayas, por "Personal Shopper" (França), e Cristian Mungiu, por "Graduation" (Romênia) (empate)

Melhor atriz
Jaclyn Jose, por "Ma' Rosa", de Brillante Mendoza (Filipinas)

Melhor ator
Shahab Hosseini, por "The Salesman", de Ashgar Farhadi (Irã)

Melhor roteiro
Asghar Farhadi, por "The Salesman" (Irã)

Prêmio do Júri
"American Honey", de Andrea Arnold (Reino Unido/EUA)

Prêmio Caméra d'Or (melhor primeiro filme)
"Divines", de Houda Benyamina (Afeganistão)

Melhor curta-metragem
"Time Code", de Juanjo Gimenez (Espanha)

Menção especial – curta-metragem
"A Moça que Dançou com o Diabo", de João Paulo Miranda Maria (Brasil)

Palma de Ouro Honorária
Jean-Pierre Léaud, ator dos filmes de François Truffaut como "Os Incompreendidos"
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