sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

'O LOBO DE WALL STREET': SCORSESE E DICAPRIO VÃO FUNDO NAS FRAUDES, DROGAS E SEXO E RECONTAM NOVAMENTE A HISTÓRIA AMERICANA


Poucos diretores conseguem captar as particularidades de gente marginal ou excluída como Martin Scorsese.

Em 'O Lobo de Wall Street' - em exibição em 234 salas em todo o Brasil a partir de hoje - o melhor diretor americano de todos os tempos mergulha novamente na marginália e trata com humor ácido fraudes na bolsa de valores de forma divertida, sem tentar explicar como aquilo tudo funciona - e mais importante, sem julgar seus personagens.

O ótimo roteiro, de Terence Winter, é baseado no livro de memórias de Jordan Belfort, o tal Lobo - e que hoje em dia vive de dar palestras motivacionais depois da prisão.

Na trama, vemos Winter  (Leonardo DiCaprio) como um jovem corretor da bolsa de Nova York, que fez fortuna ao enganar clientes com métodos ilegais.

O personagem é tão inescrupuloso e amoral e a interpretação de Dicaprio é tão sensacional, que até  Gordon Gekko - papel de Michael Douglas em 'Wall Street - Poder e Cobiça'- é um anjo perto dele.

Leonardo DiCaprio em cena como Terence Winter - fotos dessa postagem: Divulgação/Paris Filmes
Milionário aos 26 anos, a história de Belfort é pontuada por   muita grama, muita  drogas, centenas de prostitutas e muito dinheiro.

Com tema semelhante a de outro filmaço de Scorsese - 'Os Bons Companheiros', mas sem a parte da máfia, a estreia está entre as melhores – e mais sombrias - comédias dos últimos tempos.

Vulgar em todos os sentidos e exagerado ao ponto do absurdo, o longa é uma ode  à decadência, no qual poder e ambição movem os personagens.

Aqui, Scorsese despiroca de vez e cria uma atmosfera capaz de captar o atrevimento do energético protagonista, com rápidos movimentos de câmera, cenas fortes e bem coreografadas, onde tudo é visto pela perspectiva de Belfort e com sua voz guiando a ação, mesmo quando ele está no meio dela.

Como resultado, o personagem impõe seu ponto de vista e, com monólogos direcionados ao espectador,desnuda sua personalidade.

Filme mais longo da carreira do diretor (179 minutos) temos como consequência um certo arrasto do meio para final, com cenas repetidas e situações desnecessárias.

Ainda bem que o inspiradíssimo elenco compensa essa falha - especialmente DiCaprio, que se destaca em sua quinta parceria com Scorsese.

Seguramente um dos melhores atores de sua geração, Leo se entrega totalmente e sem medo do improviso - e essa liberdade faz com que crie o personagem mais autêntico e espontâneo de sua vitoriosa carreira.

Por conta dessa entrega total, sua performance já começa a ser premiada: levou o Globo de Ouro de Melhor Ator (Comédia ou Musical) e segue indicado ao Bafta e ao Oscar - em cerimônias que ainda vão acontecer.

Leo teve um 2013 maravilhoso: antes, brilhou como Jay Gatsby na nova versão de 'O Grande Gatsby', dirigido por Baz Luhrmann, e pelo papel, levou o People's Choice, prêmio concedido pela votação do público.

Foi indicado também ao SAG e ao Critic's Choice por 'O Lobo...' .

Além disso, outro candidato ao Oscar 2014 de Melhor Ator, Matthew McConaughey, consegue roubar a cena em sua breve aparição como Mark Hanna, tutor de Jordan, que basicamente ensina a ele como ser um completo imbecil.

Pena que McConaughey suma da telona rápido demais.

Matthew McConaughey  como Mark Hanna
Outro desempenho marcante vem do irregular Jonah Hill: sua performance como Donnie Azoff - um vendedor que mora no mesmo complexo de apartamentos de Belfort e com ele abre a empresa que vai promover as fraudes e perdas da grana dos investidores - é a melhor de sua carreira, disparado.

Jonah Hill como Donnie Azoff: melhor papel da carreira
O longa só peca no elenco feminino: com exceção de tia Emma (Joanna Lumley), as mulheres só estão na trama por sua beleza, isso quando não interpretam prostitutas de fato.

Margot Robbie até tenta passar credibilidade como segunda esposa de Jordan, mas o papel não rende, o que de certa forma faz sentido para a história.

Afinal a história de Scorsese é sobre homens  testosterônicos - esqueci de citar o ganhador do Oscar Jean Dujardin entre eles -  e as mulheres desse microcosmo estão limitadas a servir, agir como vítimas ou seduzir por interesse.

O longa tem um oceano de prostitutas
Como um show de horrores do qual é impossível desviar o olhar, o longa hipnotiza o público com a degradação dos envolvidos, pelas cenas de sexo fortes e pelo festival de palavrões, nunca visto antes num filme de Hollywood.

Aqui, não importa se o agora assumido despirocado  Scorsese aprova ou não as ações de Belfort, já que é o espectador quem precisa fazer sua própria reflexão.

O longa pode não ter a sutileza ou riqueza de outros trabalhos do cineasta, mas deixa sua marca pela intensidade e diversão.

Filmaço.

‘O Lobo...’  concorre no  Oscar 2014 a cinco estatuetas: Melhor Filme, Diretor (Scorsese), Ator (Leo), Ator Coadjuvante (Jonah Hill) e Roteiro Adaptado (Terence Winter). 

Confira o trailer do longa:


*****
'O LOBO DE WALL STREET'
Título Original:
THE WOLF OF WALL STREET
Gênero:
Comédia Dramática
Direção:
Martin Scorsese
Roteiro:
Terence Winter, baseado em livro de Jordan Belfort
Elenco:
Cristin Milioti, Jake Hoffman, Jean Dujardin, Jonah Hill, Justin Wheelon, Kenneth Choi, Kyle Chandler, Leonardo DiCaprio, Margot Robbie, P.J. Byrne, Rob Reiner
Produção:
Emma Tillinger Koskoff, Joey McFarland, Leonardo DiCaprio, Martin Scorsese, Riza Aziz
Fotografia:
Rodrigo Prieto
Trilha Sonora:
Howard Shore
Duração:
179 min.
Ano:
2013
País:
Estados Unidos
Cor:
Colorido
Estreia no Brasil:
24/01/2014
Distribuidora:
Paris Filmes
Estúdio:
Appian Way / EMJAG Productions / Red Granite Pictures / Sikelia Productions
Classificação:
18 anos
Cotação do Klau:

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