<>
Atriz, diretora, cantora, compositora e apresentadora morreu em seu apartamento, no Rio, aos 96 anos ** Filha de Procópio Ferreira, artista brilhou por décadas no teatro e nas telas
<>
A atriz e cantora Bibi Ferreira, diva dos musicais brasileiros, morreu nesta quarta (13), aos 96 anos, no Rio.
Também apresentadora, diretora e compositora, ela foi um dos maiores fenômenos artísticos do país.
Segundo Tina Ferreira, filha única de Bibi, a artista morreu no início da tarde em seu apartamento no Flamengo, Zona Sul do Rio.
A atriz acordou e a enfermeira que a acompanhava percebeu que o batimento cardíaco estava baixo e, por isso, chamou um médico.
Tina Ferreira e Bibi Ferreira — Foto: Bazilio Calazans/TV Globo
Tina acredita que a mãe morreu dormindo.
"Ela amanheceu normal, acordou tomou seu café da manhã e tudo. Depois ela só se queixou que estava se sentindo um pouco com falta de ar. Então como tem enfermeira, tem tudo, tiramos a pressão, o pulso estava fraco. Imediatamente chamamos o Pró-Cardíaco. Eles vieram muito rápido, muito rápido mesmo, ambulância, médico, tudo, mas quando chegaram ela já tinha partido. Ela morreu dormindo, tranquila", explicou Tina.
NASCEU NO TEATRO E ESTREOU COM 20 DIAS
Abigail Izquierdo Ferreira nasceu em 1º de julho de 1922.
Filha de um dos maiores nomes das artes cênicas do Brasil, o ator Procópio Ferreira (1889-1979), e da bailarina espanhola Aída Izquierdo, Bibi – apelido que ganhou ainda na infância – estreou nos palcos com pouco mais de 20 dias de vida.
Em cena, ela apareceu no colo da madrinha, Abigail Maia, em encenação de "Manhãs de sol", de Oduvaldo Vianna (1892-1972).
Bibi Ferreira com o pai, Procópio Ferreira, em 1978 — Foto: TV Globo
Artista multimídia, Bibi ao longo da carreira fez filmes, apresentou programas de TV, gravou discos e dirigiu shows.
Tudo sem nunca abandonar o teatro, sua grande paixão.
Também foi enredo da Viradouro no Carnaval do Rio em 2003.
Recentemente, teve a vida e obra contadas no espetáculo "Bibi, uma vida em musical", escrito por Artur Xexéo e Luanna Guimarães, com direção de Tadeu Aguiar.
Na montagem, a protagonista foi interpretada por Amanda Costa.
Em março de 2018, já aos 95 anos, Bibi foi assistir a uma apresentação do musical, então em cartaz em um teatro no Rio e fez o público se emocionar ao cantar, da plateia e sem microfone, uma música de Edith Piaf (1915-1963).
Bibi Ferreira durante entrevista com Roberto D'Avila — Foto: Tata Barreto/Globo
A própria Bibi interpretou a cantora francesa com maestria em um musical - Bibi Canta Piaf de enorme sucesso no Brasil e em Portugal.
O trabalho minucioso foi considerado tão perfeito que mesmo pessoas que conheceram Piaf se espantaram com o nível de semelhança.
Com o espetáculo, Bibi conquistou os principais prêmios do teatro nacional, como Molière, Mambembe, Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), Governador do Estado e Pirandello.
Foram apenas alguns dos muitos prêmios que colecionou ao longo das décadas de carreira.
Veja Bibi cantando Piaf:
TELEVISÃO
Em 1960, Bibi inaugurou a TV Excelsior com o programa ao vivo "Brasil 60", que levou à TV os maiores nomes do teatro.
A atração mudaria de nome nos anos seguintes ("Brasil 61", depois "Brasil 62" e assim por diante).
Bibi, estrela da TV Excelsior - Divulgação |
Na mesma emissora, também apresentou o programa "Bibi sempre aos domingos".
Em 1968, estrelou o musical "Bibi ao vivo" – com direção de Eduardo Sidney, o programa era transmitido do auditório da Urca.
MUSICAIS
Ainda nos anos 1960, Bibi estrelou outros dois dos musicais mais marcantes de sua carreira.
O primeiro foi "Minha querida dama" ("My Fair Lady"), de Frederich Loewe e Alan Jay Lerner, adaptação de "Pigmaleão", de George Bernard Shaw.
No espetáculo, atuou ao lado de Paulo Autran (1922-2007) e Jaime Costa (1897-1967).
Bibi, com Autran e Costa, em cena de "My Fair Lady" - divulgação
O outro trabalho marcante foi "Alô, Dolly!" (Hello, Dolly!), versão da obra "The Matcmaker", de Thornton Wilder, com Hilton Prado e Lísia Demoro.
Em cena de "Alô, Dolly!" - Divulgação
Já na década de 1970, Bibi foi o principal nome de "O homem de La Mancha", musical de Dale Wasserman dirigido por Flávio Rangel e com letras adaptadas para o português por Chico Buarque.
Em cena de O homem de La Mancha", ao lado de Paulo Autran e Grande Otelo - Divulgação
MARCA NO CANECÃO
A artista deixou ainda seu nome marcado na casa de shows Canecão, no Rio, ao dirigir o espetáculo "Brasileiro, Profissão Esperança", de Paulo Pontes e Oduvaldo Vianna Filho (1936-1974), produção inspirada na obra do compositor Antonio Maria.
No início, o show foi concebido em escala menor para ser apresentado em boates, com Ítalo Rossi e Maria Bethânia nos papéis centrais.
Mas depois o musical foi reformulado e ampliado.
Passou, então, a ser protagonizado por Paulo Gracindo e Clara Nunes, transformando-se em um dos maiores sucessos da história do Canecão.
Clara Nunes e Paulo Gracindo: encontro no musical "Brasileiro, Profissão Esperança" - O Globo
Em 1975, Bibi recebeu o Prêmio Molière pela interpretação da personagem Joana, de "Gota d’água", de Paulo Pontes e Chico Buarque, montagem que ambientava a tragédia "Medeia", de Eurípedes, em um morro carioca.
Em cena de "Gota d’água" - Divulgação
AMÁLIA RODRIGUES
No início dos anos 2000, Bibi Ferreira fez mais um trabalho impressionante ao interpretar a fadista Amália Rodrigues (1920-1999) no espetáculo "Bibi Vive Amália".
Veja Bibi entoando 'Foi Deus', um dos hinos de Amália Rodrigues:
Em seguida, Bibi apresentou dois recitais, "Bibi in concert" e "Bibi in concert pop", nos quais se apresentou acompanhada por orquestra e coral.
VIDA RESERVADA
Admirada pelo público e adorada e respeitada pelos colegas, Bibi sempre manteve uma rotina discreta, evitando a exposição de detalhes de sua vida pessoal – raras eram suas aparições em eventos sociais.
Segundo amigos mais próximos, quando estava fora dos palcos, Bibi preferia passar o tempo em seu apartamento no Flamengo.
Teve oito casamentos e apenas uma filha, Teresa Cristina.
AFASTAMENTO
"Nunca pensei em parar. Essa palavra nunca fez parte do meu vocabulário, mas entender a vida é ser inteligente. Fui muito feliz com minha carreira. Me orgulho muito de tudo que fiz. Obrigada a todos que de alguma forma estiveram comigo, a todos a que me assistiram, a todos que me acompanharam por anos e anos. Muito obrigada! Bibi."
Com essas palavras, em comunicado publicado em rede social, a Diva anunciou, em 10 de setembro de 2018, que encerrava uma das carreiras mais gloriosas construídas por uma artista no Brasil e no mundo.
Já nonagenária, ainda brilhando nos palcos - Foto: Rayan Ribeiro/Divulgação
Aos 96 anos, a artista se retirou voluntariamente de cena para preservar a saúde, após três sucessivas internações.
De acordo com a nota, Bibi disse que não iria mais se apresentar nos palcos como atriz e/ou cantora.
Tampouco daria entrevistas, nem mesmo por e-mail, como vinha fazendo nos últimos tempos.
O que nos resta é ainda nos deliciarmos com o enorme talento de Bibi.
A Secretaria Estadual de Cultura e Economia Criativa informou que o velório vai ser no Theatro Municipal do Rio.
A cerimônia, aberta ao público, ocorre de 10h às 15h.
Depois, o corpo de Bibi deve ser cremado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário