SINOPSE:
Doni, Nando e Rita são moradores da mesma favela em São Paulo.
Crescendo juntos pelas ruas da comunidade, eles descobriram aos poucos o mundo do tráfico de drogas, da religião e também da música.
No entanto, as experiências da infância os levaram a trilhar caminhos bem diferentes e agora esse trio sabe que quem pode salvá-los dos problemas com os quais se envolveram são eles mesmos.
CRÍTICA:
KondZilla tem razão quando afirma: “A favela venceu”.
Esse jovem, saído da periferia do Guarujá, traz toda a garra e exemplo de sua história pessoal para a narrativa da série Sintonia, produzida em parceria com a Netflix e a Los Bragas e lançada em 190 países.
Se você ainda não conhece KondZilla, que juntou seu nome de batismo Konrad Dantas com o nome do gigante monstro do cinema japonês Godzilla, saiba que ele é um monstro do Funk e da Internet, dono do maior canal de YouTube do Brasil e da América Latina, produtor dos clipes mais bombados do gênero, além de diretor criativo, palestrante e empresário, dentre muitas outras atividades.
Konrad Dantas na Festa de seu Canal Kondzilla em comemoração aos 50 milhões de inscritos - Reprodução/ Divulgação
A nova produção nacional da Netflix é desenvolvida a partir de uma ideia original de Kondzilla, que também dirigiu metade dos seis episódios, estreou na plataforma de streaming gerando bastante interesse, já que é a estreia de um dos principais nomes do audiovisual musical brasileiro em um segmento diferente e com uma premissa realmente interessante: apresentar a vida na periferia sob um ponto de vista menos estigmatizado e mais humano.
Assim, a série opta por mostrar três histórias do universo da periferia paulistana sob a influência de três pilares: o contato com a igreja evangélica, a vontade de viver do sonho musical e a complicada dinâmica de se sustentar em um ambiente hostil ao fazer parte do tráfico.
É isso que vemos, acompanhando a bela amizade de Rita (Bruna Mascarenhas), Doni (Jottapê Carvalho) e Nando (Christian Malheiros), com uma dinâmica honesta e que joga luz sobre elementos que ou passam despercebidos ou já foram estereotipados ao limite quando retratados em outras produções.
Com tudo isso em evidência, o que chama a atenção é a construção da amizade do trio - o que é tanto a força quanto a fraqueza da série.
Bacana também é a amplificação do jeito falar da periferia de São Paulo, das gírias, que soam bem estranhas para quem é de outros estados e cidades, e já são motivo de busca de “tradução”.
Há vídeos e postagens nas mídias falando sobre esse falar da quebrada, exibindo glossários com seus significados, como esse, abaixo:
Se as conversas entre os amigos geram grandes momentos dentro da trama, o todo apresentado como parte dessa relação se perde ao não ser aprofundado em seus respectivos núcleos.
Aqui, as sutilezas são deixadas de lado, com personagens que se parecem com a gente e que tenham uma origem igual ou próxima a nossa, retratando a vida de três jovens buscando encontrar seus caminhos nessa fase conflitante da vida, mostrando a delicadeza e a brutalidade das dúvidas, ao invés de cair em uma sucessão de tramas que, muitas vezes, não encontram na direção ou no desenrolar da história o apoio necessário para manter a performance dos atores alinhada ao que acontece com os personagens.
Assim, à medida em que a série avança, a indefinição sobre o que deveria ser o centro das atenções (as relações, a busca por algo, os conflitos), faz com que momentos significativos sejam perdidos.
Basta prestar atenção em como os protagonistas se apresentam logo depois de passarem por acontecimentos importantes.
Praticamente não existe leitura do fato ocorrido anteriormente como parte do comportamento e das ações dos personagens, o que tira a força da trama como um todo e ignora nuances que dariam mais complexidade ao desenrolar da história.
A premissa de apresentar personagens, suas famílias, de fazer com que nos reconheçamos na tela e garantir que vejamos essas pessoas com rostos tão reais, vivendo os dramas e os sonhos de seus mundos é algo que já torna tudo mais próximo, porém não é suficiente para sustentar a narrativa de uma série.
Observar o trio de amigos conversar sobre a vida e suas vontades é o ponto alto da proposta.
Percebe-se que quando o recorte sai do que é mostrado diariamente na TV e parte para as pessoas, para o que eles querem, tudo fica mais claro e mais forte.
Entre os bons momentos também estão todas as reuniões dos traficantes que são apresentadas na tela.
Os diálogos reais, o sentimento de tensão, as escolhas de câmera, tudo funciona perfeitamente para delimitar e criar uma proximidade angustiante com o ambiente e a situação.
Sintonia se mostra, por fim, uma produção corajosa ao buscar fugir dos estereótipos e lançar um olhar de dentro da favela para tópicos como a busca por um sonho, a problemática do caminho do tráfico ou ainda a presença da igreja evangélica — sem que ela seja estigmatizada — como parte importante da dinâmica do espaço no acolhimento e cuidado de pessoas que têm uma rotina conturbada e cheia de problemas.
Mesmo que a Netflix não tenha se pronunciado sobre a renovação, a 1ª temporada chega ao fim deixando uma estrutura já definida para próximos arcos, mantendo em aberto todas as possibilidades para aprofundar os personagens em torno da tríade igreja, funk e tráfico e sair do superficial, o que vai tornar a série muito mais do que interessante.
Vale ver.
GALERIA DE IMAGENS:
TRAILER:
FICHA TÉCNICA:
SINTONIA
Gênero:
Drama
Direção:
Guilherme Quintella, Felipe Braga, Konrad Dantas
Elenco Principal:
Christian Malheiros, João Pedro Carvalho, Bruna Mascarenhas
Número de Episódios:
06
Duração média de cada episódio:
45 min.
Nacionalidade:
Brasil
Produção:
Los Bragas, Netflix
Exibição:
Netflix
COTAÇÃO DO KLAU:
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