segunda-feira, 12 de agosto de 2019

'MISSÃO NO MAR VERMELHO': QUANDO A VERDADE PASSA LONGE DE COMOVER


SINOPSE:

Em 1997, a Mossad, agência de inteligência israelense, recebe a missão do primeiro ministro de resgatar os judeus etíopes do Sudão e levá-los para Israel.

Ari Kidron (Chris Evans), um charmoso agente israelense, reúne um grupo de pessoas para formar uma equipe de ajuda no êxodo de judeus.

CRÍTICA:

Chris Evans tornou-se um dos atores mais conhecidos da última década por encarnar o icônico Capitão América no Universo Cinemático Marvel.

Agora, depois de aparentemente ter dado adeus ao personagem em ‘Vingadores: Ultimato’, Evans se aventurou em um gênero que já não aparecia há algum tempo em sua filmografia – o drama tour-de-force.

Não demorou muito para que ele encontrasse seu próximo projeto e migrasse para a Netflix, com o longa-metragem baseado em fatos reais Missão no Mar Vermelho, que estreou no streaming no último dia 31 de julho.

Mas o resultado é bem aquém do esperado: com exceção de poucas sequências bem conduzidas, a narrativa prova que, às vezes, contos verdadeiros podem não comover e se mostrar bastante desnecessários.

No filme, Evans dá vida a Ari Levinson, um ex-antropólogo que se tornou agente da organização israelense de resgate de refugiados do Sudão, também conhecida por Mossad.

Em colaboração com um grupo de espiões e assassinos muito habilidosos, Ari arquiteta um plano envolvendo um hotel resort abandonado na costa sudanesa para salvar milhares de judeus etíopes do cárcere e do massacre que sofriam em terras muçulmanas – ainda que tenha enfrentado diversos obstáculos pelo caminho.

Entretanto, como já mencionado acima, o time em questão não enfrenta perigos palpáveis (ao menos nas telas) que nos façam torcer ou sofrer à medida que as tramas se desenrolam.

Gideon Raff encabeça o projeto e fica responsável pelo roteiro e, apesar de alguns trabalhos impecáveis (incluindo a série ‘Homeland’, vencedor de múltiplos Emmy Awards), parece não saber o que está fazendo.

De fato, a primeira sequência serve como prólogo para o concreto início dessa jornada e até arranca alguns suspiros de tensão à medida que Ari leva dezenas de refugiados para um local mais seguro, onde poderão esperar até que as autoridades governamentais os levem de volta para casa.

A captação da atmosfera oitentista, marcada por golpes ditatoriais e intolerância religiosa nos países do centro-norte africano, permanece durante poucos momentos antes de se render a qualquer melodrama novelesco cuja mensagem se perde em investidas incoerentes.

Em uma análise curta, por assim dizer, Raff poderia ter se restringido a diversas outras obras fílmicas que ganharam nossa atenção nos recentes anos – como os premiados ‘Cafarnaum’ e ‘A Boa Mentira’.

O diretor, como forma de se manter em um fixo pedestal criativo, também poderia ter utilizado referências documentárias para compor o longa, mas opta por aglutinar inúmeros estilos fragmentários que não fazem o menor sentido e não acrescentam em nada para envolver o público.

A apresentação dos coadjuvantes parece ter sido tirado das tragicomédias criminais de Steven Soderbergh, enquanto a ambiência de pura agonia é uma cópia mal feita da franquia ‘Sicario’, falhando em praticamente todos os aspectos.

Para dar continuidade ao plano que tinha tudo para dar errado, Ari recruta colegas de longa data e recorre à financiadora NatCorp para reabrir o abandonado resort que empresta seu nome ao título.

O Red Sea Diving Resort, deixado às traças por uma empreendedora italiana após perceber que o território era habitado por tribos supostamente canibais, transformou-se em uma fachada crível o suficiente (ao menos em teoria) para que as pessoas fossem transportadas para fora do país e levadas para Israel.

Porém, essa belíssima ideia, como sempre, atraiu a atenção de uma organização militar que queria impedir e exterminar os benfeitores – incluindo o líder Abdel Ahmed (Chris Chalk).

Os deslizes insurgem com mais força no momento que o filme transita para seu segundo ato: nenhum dos atores carrega uma carga expressiva suficientemente aprazível para nos guiar através dessa intrincada narrativa.

Na verdade, ainda que o roteiro se construa com uma notável cautela, bons diálogos de nada servem quando jogados sem relação de causa e consequência num lugar “paradisíaco”.

Evans encarna o mocinho, o homem branco que veio para salvar todos, e é ajudado por seus fiéis escudeiros Rachel (Haley Bennett), Jacob (Michiel Huisman), Sammy (Alessandro Nivola) e Max (Alex Hassell), bem como Kabede (Michael Kenneth Williams), uma fonte interna responsável por reunir os refugiados e levá-los até o ponto de encontro.

No tocante ao tema, a obra passa longe de ser original; entretanto, isso não impediria Raff de criar algo diferente, com perspectiva ou condução cinematográfica competente o bastante para nos afastar dos convencionalismos.

A infeliz surpresa é quando percebemos – talvez tarde demais – que estamos diante de um tour-de-force panfletário que se salva por pouquíssimos elementos.

Afinal, Chalk encarna uma versão canastrona de Abdel que é tão inofensivo quanto uma chuva de verão (não representando nenhum óbice real); Williams se restringe ao seu patamar de back-up e se finca a uma performance imemorável; ao menos Evans e Nivola conseguem ter um pouco de química em performances frenéticas resumidas a uma breve sequência na prisão local.

A interação não se perde por completo, visto que ganha alguns pontos pela contrastante paleta de cores entre o cenário principal e as múltiplas embaixadas e organizações ocidentais do Sudão e até mesmo por certas cenas: Raff consegue arquitetar uma interessante jornada de resgate que envolve dois caminhões lotados de judeus etíopes e um bloqueio rodoviário que, numa tristeza apática, carregava elementos o bastante para se tornar um ótimo jogo de perseguição. O restante, todavia, se rende ao mais do mesmo.

‘Missão no Mar Vermelho’ configura-se como mais um erro das produções originais Netflix e, no final das contas, funciona apenas colocar grandes atores em complexos de cavaleiros brancos.

São poucos os esforços que refletem a habilidade de cada um dos nomes envolvidos na produção – e nem eles apagam os múltiplos e quase amadores equívocos.

Por Thiago Nolla - Cinepop

GALERIA DE IMAGENS:






TRAILER:


FICHA TÉCNICA:
MISSÃO NO MAR VERMELHO
Título Original:
The Red Sea Diving Resort
Gêneros:
Ação, Histórico
Direção:
Gideon Raff
Elenco:
Chris Evans, Michael K. Williams, Sir Ben Kingsley e outros
Roteirista:
Gideon Raff
Trilha Sonora:
Mychael Danna
Produtor:
Aaron L. Gilbert, Gideon Raff
Produtor Executivo:
Jason Cloth, Ali Jazayeri, Alex Lebovici
Diretor de fotografia:
Roberto Schaefer
Diretora de elenco:
Mary Vernieu
Produção:
Bron Studios, EMJAG Productions
Distribuição internacional:
Netflix
Distribuidor brasileiro:
Netflix
Nacionalidade:
EUA
Ano de produção:
2019
Duração:
2h09min
Data de lançamento:
31 de julho de 2019
Exibição:
Netflix

COTAÇÃO DO KLAU:

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