sábado, 28 de novembro de 2015

'ZÉ DO CAIXÃO': MATHEUS NATCHTERGAELE INCORPORA MITO DO TERROR NA MELHOR SÉRIE BRASILEIRA DE 2015



SINOPSE:

A biografia 'Maldito – A Vida e o Cinema de José Mojica Marins', de Ivan Finotti e André Barcinski, serviu como inspiração para essa minissérie em seis episódios, que mostra a carreira de quem é considerado um dos maiores cineastas brasileiros de todos os tempos.

A minissérie começa no final dos anos 50, vai até os anos 80 e retrata os primeiros anos da carreira de Marins, sua maior criação - o personagem Zé do Caixão - e, de forma paralela, a vida pessoal e as grandes obras do artista são retratadas.

CRÍTICA:

Muitos, principalmente os críticos cariocas, torcem o nariz, mas José Mojica Marins é um dos maiores cineastas brasileiros de todos os tempos - isso é fato.

Com sua mistura de gênio, louco, picareta e fanfarrão, Mojica criou filmes antológicos como 'À Meia-Noite Levarei Sua Alma', 'Esta Noite Encarnarei no Seu Cadáver', 'Finis Hominis', 'Inferno Carnal', entre vários outros.

Suas histórias como diretor e como pessoa são igualmente geniais e foram integralmente relatadas no ótimo livro 'Maldito', de André Barcinski e Ivan Finotti.

É justamente essa obra que inspira a minissérie de TV 'Zé do Caixão', que estreou na sexta-feira, 13, no canal a cabo Space (Grupo Warner).

Com direção de arte primorosa, retratando a cidade de São Paulo na virada dos anos 50/60, o primeiro e segundo episódios têm ótimo ritmo e um elenco memorável, mas quem dá show em todas as cenas é o protagonista Matheus Nachtergaele.

O aclamado ator, que já aparecia nas fotos de divulgação da série muito parecido com Mojica, incorporou à perfeição não só os tiques e maneirismos do diretor, mas também o seu característico tom de voz e seu jeito errado de falar, sem os 's'.

Foto
Matheus Nachtergaele como Zé do Caixão, em foto promocional - Fotos dessa Postagem: Divulgação/canal Space
Ver Nachtergaele atuando é um assombro, uma aula bem dada de interpretação, pois em nenhum momento sua composição fica caricata.

É de longe, a mais impressionante atuação masculina da TV brasileira neste 2015.

A ação do primeiro episódio acontece no fim dos anos 1950, inicialmente no centro de São Paulo, onde Mojica tinha seu estúdio.

Depois, as filmagens acontecem no distrito de Paranapiacaba, em Santo André, na Grande SP, que virou um cenário perfeito, pois o lugar tem construções bem antigas e muita névoa.

Este momento do episódio recria os bastidores do longa 'A Sina do Aventureiro', lançado em 1958.

Apesar de a minissérie ser inspirada na biografia, o que vemos na TV tem uma certa liberdade poética em relação a alguns fatos mostrados.

Como a trajetória de Mojica é longuíssima, não daria para mostrar tudo em detalhes e assim, a produção junta características de personagens e faz algumas outras mudanças pontuais.

Claro que nada disso compromete a trajetória do cineasta, até porque um dos roteiristas da série é Barcinski, um dos autores do livro.

Aliás, há muitos momentos engraçados, de humor mesmo, principalmente nas falas de Mojica e isso dá uma leveza ao que se vê na telinha, tornando tudo muito fácil de acompanhar.

A trama começa em 1958, na capital Paulista, onde Mojica, dono da Apolo Produções,  professor de teatro e com seu jeito icônico de falar, está à procura de atores para sua nova "fita" - como ele diz, chamada 'Sina de um Aventureiro', um “bang bang” nacional que foi filmado em uma cidade do interior de São Paulo.

Com um estilo pornochanchada, a produção bateu de frente com os conservadores da cidade,  com suas cenas quentes de sedução e do possível interesse carnal do padre da cidade pela gostosíssima protagonista do longa.

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Leonardo Miggiorin (direita), como ator do longa  'Sina de um Aventureiro'
A ‘fita’, infelizmente, não foi um sucesso e Mojica passou os anos seguintes em busca de uma nova inspiração, que o levasse ao reconhecimento.

Já em em 1963, Mojica está devendo pra tudo e todos em São Paulo, sem alunos e terminando seus dias com longas noites de bebedeiras.

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Mojica dirigindo uma atriz
Dormindo no sofá da produtora, certa noite, ele tem um sonho sinistro, onde um vulto preto o arrasta pelo chão de seu escritório.

Esse sonho, somado à uma recente experiência com um ritual religioso africano, resulta na criação do personagem que os críticos estrangeiros sempre exaltam como sendo um dos melhores do terror mundial: o Zé do Caixão, um agente funerário amoral e niilista, que cativa sua audiência com cenas de pancadaria, sexo e frases explícitas sobre vida e morte, como:

O que é a vida? É o princípio da morte.

O que é a morte? É o fim da vida.

O que é a existência? É a continuidade do sangue.

O que é o sangue? É a razão da existência!

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Zé do Caixão em ação
Sádico, com um visual inspirado no clássico personagem Drácula e com as unhas do Nosferatu, Zé do Caixão procura a mulher perfeita cuja intelectualidade seja superior à média para lhe dar um filho.

A ideia de ser pai de uma criança perfeita cultiva sua obsessão por sangue por meio do horror - uma estrutura de personagem que não poderia resultar em nada diferente do que o sucesso.

Foto
Equipe assiste à primeira exibição da estreia de Zé do Caixão
Matheus Nachtergaele está sensacional, encarnando as figuras  de José Mojica Marins e Zé do Caixão com uma capacidade de imersão absurda.

Um dos melhores da sua geração,o ator paulistano de atuais 46 anos consegue aqui superar sua performance como o João Grilo de 'O Auto da Compadecida' (1999) e também o sonhador e batalhador Joãozinho Trinta - no longa 'Trinta' (2014) - proporcionando um realismo em cena que vem encantando tanto os fãs de Marins e do Zé do Caixão, quanto do telespectador comum.

A produção do Canal Space é surpreendente e de nível internacional.

Atentos à recriação das ambientações das décadas de 1950 e 1960, os cenários embasam de forma detalhista a vida pessoal do cineasta e de seu personagem, garantindo à audiência uma experiência profunda nas duas personalidades do diretor.

De forma irreverente e em muitos momentos divertida, a série mostra como os efeitos práticos foram idealizados pela equipe de produção de Mojica e o funcionamento dos bastidores de seus filmes.

Já em 1963, todo cenário por trás do longa 'À Meia-Noite Levarei Sua Alma' é apresentado para levar o público a uma imersão intensa pela mente visionária e criativa do cineasta.

Foto
Matheus Nachtergaele: melhor performance masculina do ano
Hoje, aos 79 anos, Mojica é reconhecido mundialmente, com todas as honras e glórias, por quem atua e gosta do gênero - os americanos, por exemplo, o cultuam com o nome de 'Coffin Joe'.

José Mojica Marins encarnando Zé do Caixão em foto recente - Observatório de Imprensa
Por ter se mantido no ramo do cinema, em fases como a ditadura militar e décadas de repreensão ao “politicamente incorreto”, o cineasta deixa um legado sobre a arte da atuação e como dar vida ao gênero terror, sempre usando um baixíssimo orçamento - algo que a série, a melhor feita no Brasil neste ano, mostra com sobras.

Aguardando ansiosamente os demais episódios.

TRAILER:


FICHA TÉCNICA:
'ZÉ DO CAIXÃO'
O que é:
Minissérie brasileira em seis episódios
Gênero:
Drama, Terror, Biografia
Status:
Em produção
Criada por:
André Barcinski, Vitor Mafra
Direção:
Vitor Mafra
Elenco principal:
Matheus Nachtergaele, Maria Helena Chira, Felipe Solari, Antonio Saboia, Leonardo Miggiorin, Vanesa Prieto, Bruno Autran
País:
Brasil
Ano:
2015
Cor:
Colorido
Emissora:
Space
Quando:
Sextas, às 22h30

COTAÇÃO DO KLAU:

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