MARA MANZAN sempre foi um ser humano pra lá de especial.
O grande público a conhecia e a amava pelas inúmeras novelas que fez na Globo, mas eu a conheci bem antes disso, quando ainda era uma atriz, de palco e circence, na batalha diária na São Paulo dos 80.
Pequenina, era só essa paulistana pisar no palco ou no picadeiro que se tornava uma gigante, talento idem.
Mara como TETÉIA, no "Sítio do Picapau Amarelo"
Nunca vi Mara uma única vez triste ou de mau humor, naqueles tempos em que nos topávamos quase que diáriamente pelas noites paulistanas. Pelo contrário: bastava ela chegar que o ambiente se transformava, tudo era alegria elevada ao quadrado. Me lembro sempre de que foi por causa dela que eu - primeira e única vez - me mijei de tanto rir!
Mara era assim: nas noites de sampa, era a alegria, a energia e o ótimo papo, que muitas vezes nos surpreendia com o dia já raiando.
Começou no teatro aos 20 anos, no teatro Oficina, meio na base do improviso.
Era amiga de um ator do teatro Oficina, onde José Celso Martinez Corrêa encenava 'O Casamento do Pequeno Burguês'. "Achei tudo mágico, mas não tinha coragem de ser atriz -fazia de tudo --até buscar comida para o elenco. Um dia uma atriz ficou doente, e o Zé Celso me botou no lugar dela. Nunca mais larguei a profissão", sempre contava.
Mas começou a ser conhecida do grande público ao fazer o papel de " Sexta-Feira", na novela "Salsa e Merengue" (1996), de Miguel Falabella - seu admirador declarado e um dos melhores amigos -, na Globo, emissora em que ela iniciou sua carreira televisiva em "A Viagem" (1992).
Após rápida passagem pelo SBT, onde participou de "Ô, Coitado!" -humorístico de Gorette Milagres, a Filó - Mara trabalhou em "O Clone" (2001), de Gloria Perez. Na trama, ela interpretava Odete, que virou um megassucesso com o bordão "Cada mergulho é um flash!"
Apesar do sucesso em papéis cômicos, ela se dizia uma atriz "que pode fazer drama e comédia". "Eu também sei chorar."
E também era de uma impulsividade assombrosa. Fazia o que lhe vinha à cabeça, meio que sem pensar nas consequências, como no "causo da pirofagia pra Madonna".
Experiente no picadeiro, resolveu homenagear Madonna na primeira visita da estrela pop ao Brasil, em 1993, com um show de pirofagia - engolir fogo!- da sacada do seu apê, que ficava num predinho diante do hotel Caesar Park em que a cantora estava hospedada, na Rua Augusta.
Colocou na cabeça que não poderia perder o enorme público que ficava horas a fio na frente do hotel, mas sem grana no dia, resolveu fazer a pirofagia com gasolina, sem lembrar que gasolina incendiada gera fuligem, e da mais preta!
Esse é o momento de vida que eu mais me lembro da Mara: da sacada do apê, fez o show pirofágico, pra delírio da multidão e da Madonna, que apareceu na janela sorrindo e com cara de quem gostou! Mas o pior - e mais engraçado - foi depois: tinha deixado a porta da sacada aberta, a fuligem da gasolina deixou o apartamento todo preto, até as frutas em cima da mesa do cozinha, para desespero da filha, estudante na época.
Mas nada que os amigos não resolvessem. Passamos a madrugada aspirando e limpando, e de manhã, lá estava ela em tudo quanto é jornal da época, até no 'New York Times'! Virou atração da muvuca à porta do hotel, deu até entrevista agradecendo à Madonna pela platéia que ela proporcionou.
Com as novelas na Globo, passava a maior parte do tempo no Rio de Janeiro.
Em abril de 2008, passou por uma cirurgia para retirar um tumor maligno no pulmão. À época, a atriz deixou o elenco da novela "Duas Caras", de Aguinaldo Silva, na qual interpretava a personagem Amara, madrasta de Bernardinho.
Seu quadro de saúde foi agravado por causa de um enfisema pulmonar causada pelo cigarro, já que Mara fumou durante 40 anos, segundo ela mesma contava.
No último texto publicado em seu blog, no dia 5 de outubro, Mara escreveu que estava "num momento muito feliz" de sua vida. "Graças a Deus estou me sentindo cada dia melhor, cheia de vontade de trabalhar", disse.
"Hoje eu posso dizer que valorizo muito mais a vida, quero morrer bem velhinha, se possível ver meus netos grandes, quem sabe ser uma biza bem animada, sempre trabalhando e trazendo alegria no coração pros meus queridos fãs que estiveram todo o tempo do meu lado me dando força, me ajudando sempre a confiar."
Nesse ano, ela fez seu último trabalho na televisão:foi na novela "Caminho das Índias", como a personagem Ashima, uma viúva indiana dona uma pastelaria no Rio de Janeiro. Mara chegou a se afastar das gravações por contra do tratamento, mas voltou na reta final, sendo recebida com uma grande festa pelo elenco da novela, ela que era uma figura queridíssima por todos.
como ASHIMA,em "Caminho das Índias" - 2009
Mara morreu nesta sexta-feira no Rio de Janeiro, aos 57 anos. Ela estava internada desde o dia 6 deste mês.
A repercussão da morte da atriz junto aos amigos foi imediata:
Glória Perez, novelista: "Perdemos a Mara Manzan. A alegria em pessoa, o amor à vida em pessoa!"
Marcius Melhem, ator: "Dia de sentimentos muito opostos: enorme alegria porque minhas filhas fazem seis meses, e de muita tristeza pela morte de Mara Manzan. A alegria da Mara vai fazer falta..."
Fernanda Paes Leme, atriz: "Acordei com a triste notícia que a minha querida Mara Manzan faleceu! Dia triste! Maldita doença!! Espero que ela descanse em paz!"
Astrid Fontenelli, apresentadora: "Melhor viagem para Mara Manzan!"
Preta Gil, cantora: "Fiquei arrasada agora. Acabei de ler que nossa querida Mara Manzan faleceu. Dia de luto para o meio artístico e pro público brasileiro"
Maria Clara Gueiros, atriz: "Boa dia, apesar da tristeza pela morte da Mara Manzan"
Serginho Groisman, apresentador: "Boas lembranças como apresentador e admirador de Mara Manzan".
Os principais trabalhos da atriz na TV :
- "Caminho das Índias" (2009) -
como ASHIMA, em "Caminho das Índias", seu último papel na tv
ASHIMA, de "Caminho das Índias" - 2009
ASHIMA,de "Caminho das Índias" - 2009
como AMARA, com LUGUI PALHARES, o CARLÃO, em "Duas Caras" -2008
com sua "família" em "Duas Caras"
como AMARA, em "Duas Caras"
Como MARILENE, em "Cobras & Lagartos" - 2006
MARILENE, em "Cobras & Lagartos" - 2006
- "América" (2005) -
como JANICE, em "Senhora do Destino" - 2004
- "Da Cor do Pecado" (2004) -
- "Kubanacan" (2003) -
como ODETE, em "O Clone" - 2001
- "Terra Nostra" (1999)
- "Pecado Capital" (1998)
- "Salsa e Merengue" (1996)
- "A Viagem" (1994)
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