domingo, 1 de novembro de 2009

50 ANOS DEPOIS: A HONRA RESTAURADA E AGRADECIMENTO SINCERO PELO CARINHO!


Pessoal:

1.
Atos premeditados, frases feitas, telefonemas obrigatórios.

Ligar só por ligar, "porque tenho de ligar", "está aqui na agenda, tenho de ligar" e não ligar porquê "eu gosto de você enquanto pessoa, amigo e ser humano, por isso liguei pra te desejar um dia pra lá de especial".

Se o ser humano é muito complexo, o passar dos anos me deixaram cada vez mais simplificado:
Não vou aos lugares "porquê todo mundo vai", não falo de grifes "porquê todo mundo veste a marca tal", não faço trabalhos que em nada me acrescentarão cultural, ética e profissionalmente só pra ter uns trocados a mais, comprar um telefone de última geração e ficar postando bobagens com 140 caracteres no Twitter pra um bando de gente que é mais iletrado e imaturo que eu.

Meu perfil no Orkut só tem me servido para reencontrar pessoas que eu não via faz tempo, como meu amigo de ginásio JOSÉ FERNANDO LEITE, que reencontrei por causa desse perfil. E quando topo com alguém com mais de 20 "amigos" nesses perfis, tenho certeza de que ele é mais um na legião de solitários da atualidade.

As pessoas nem se dão conta do desperdício de energia que isso traz.

Tenho HORROR A TUDO ISSO. Tenho horror aos cumprimentos obrigatórios, forçados, ainda mais os mascarados de pseudos doçura e atenção.

E é por ter essa certeza de que eu não vou estar nunca mais ao alcance de um cumprimento obrigatório, no meu aniversário, ano novo, o que for. Quem gosta realmente de mim, e de quem eu gosto realmente, saberá me encontrar, e eu saberei encontrá-los. Afinal, a sintonia energética será a mesma.

Mas de onde menos se espera,recebemos sinais de que nem tudo está perdido nessa vida lôka em que estamos mergulhados.

A caixa postal do e-mail do blog amanheceu abarrotada de mensagens de gente que nem conheço, mas que dizem gostar de mim pelo que eu tenho de melhor: minha capacidade de falar e escrever o que penso, o que vivencio. São pessoas que me acompanham sempre, algumas esperam todos os dias uma nova postagem, comentam, expressam suas opiniões, e souberam por uma postagem que eu faço 50 anos hoje.

É pra esses seres pensantes e com conteúdo que eu vivo atualmente. Não importa que eu não os conheça pessoalmente, a troca de energia é intensa e alimenta a minha alma.

Não conseguiria imaginar melhor presente que esse.

A você que me mandou uma das trezentas e tantas mensagens de parabéns hoje, fique tranquilo. responderei todas, uma a uma.

Muito Obrigado.

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2.
Para quem sempre perseguiu incessantemente a honra e a justiça, e que tem horror a julgamentos perpetrados sempre pela minoria hipócrita e moralista - famíliares aí inclusos - não deixa de ser um alento o juramento desse filho ao pai injustamente apontado como "tarado", e isso nos anos 50 em Sampa!

Só posso aplaudir AMAURI QUEIROZ pela perseverança e busca do restauro à honra e memória do pai, 50 anos depois, e ao repórter da Folha de S.Paulo ROGÉRIO PAGNAN pela ótima matéria.

Outro presentaço que ganhei hoje.

Leiam a matéria, e confiram:

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Folha de S.Paulo, domingo, 01 de novembro de 2009

A honra de Mauro
Guarda-civil acusado de se esfregar numa criança em um ônibus é inocentado pela Justiça 50 anos depois


Arquivo pessoal

O ex-policial Mauro Henrique Queiroz, que morreu em 1998, cuida de jardim, em foto de família

ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Meses antes de morrer, vítima de um câncer no intestino, o ex-policial Mauro Henrique Queiroz chorou copiosamente diante do filho. Não pela doença. "Estou lutando contra uma coisa que eu não devo. Me condenaram, mas sou inocente", disse ao filho Amauri, 53.
O ex-policial revelava, ali, um segredo que guardava havia quase 40 anos. Tinha sido condenado, em 10 de julho de 1959, porque, para os juízes, ele passou o pênis no braço de uma menina de 11 anos dentro de um ônibus lotado. Pena: seis meses de detenção, convertidos em liberdade vigiada.
Pela mesma acusação foi expulso da corporação.
Diante do choro do pai, famoso por ser durão, Amauri fez uma promessa. "Pai, enquanto eu viver, vou lutar para limpar seu nome", afirmou.
Ele conseguiu. Depois de 50 anos, a Justiça admitiu a verdade, mas quase 11 anos depois da morte de Mauro, em 1998, aos 69 anos. A família Queiroz cumpriu a promessa.

Ônibus 122
A vida do então policial começou a mudar no dia 22 de janeiro de 1957 quando ele tomou o ônibus 122, linha Vila Galvão, às 10h35, de uma terça-feira. Dirigia-se ao trabalho, no Palácio de Justiça (o mesmo onde seria julgado), na região central de São Paulo.
Mauro era um policial da extinta Guarda Civil, uma espécie de polícia comunitária da época, onde ele trabalhava havia quase nove anos e apresentava uma ficha cheia de elogios. O filho Amauri tinha nove meses, e o casamento completava pouco mais de um ano.
Na época havia, porém, uma outra polícia com funções semelhantes: a Força Pública. A rivalidade entre as duas polícias era tamanha que a capital chegou a ser dividida em duas partes. A Força Pública policiava as zonas leste e norte, e a Guarda Civil ficava responsável pelas sul, oeste e centro. Em 1970, as duas foram unificadas.
Quando entrou no ônibus, Mauro percebeu que pelo menos seis homens da Força Pública já estavam no veículo. Todos estavam fardados.
Minutos depois, um homem sentado ao seu lado, dirigiu-lhe ofensas. "Guarda safado, sem vergonha", teria dito Mário Marcelo, segundo documentos da época. "É você mesmo que está encostando na menina."
Mauro, segundo seu depoimento, disse a Sônia Brasil, com então 11 anos: "Mocinha, encostei na senhorita?"
Com a negativa da menina, o guarda Mauro deu voz de prisão ao homem, mas foram policiais da Força Pública -um deles vizinho de Marcelo- que prenderam o policial.
Irregularmente, Mauro foi levado para o quartel da Força Pública, à base de tapas e socos. Deveria ter ido para uma delegacia. No quartel, a versão oficial mudou: Mauro não tinha apenas encostado na menina, mas tirado o pênis para fora e o esfregado no braço dela.
Só Marcelo, porém, viu crime. O criminoso estava cercado por rivais. Todos eles disseram não ter visto nada. "Faltar com a verdade" é considerado um crime grave nas PMs.

Condenação
A história era tão absurda e os depoimentos tão contraditórios que o juiz de primeira instância João Estevam de Siqueira Júnior absolveu, no início de 1959, o guarda "sob pena de praticar grave erro judiciário".
A Promotoria recorreu. "Só quem não viu nada nos autos foi o juiz, absolvendo o apelado, esquecendo-se de que temos esposas e filhas", escreveu o promotor José Cândido de Oliveira Costa. A tese do promotor foi aceita em segunda instância. Mauro foi condenado por ato obsceno.
O que mais pesou contra o guarda no segundo julgamento foram os depoimentos de Marcelo e de Sônia, que teria confirmado o assédio.
Já em 2003, temendo não conseguir cumprir a promessa ao pai, Amauri decidiu procurar ajuda. Lembrou que o amigo Álvares Nunes Júnior, um ex-administrador de empresas, hoje com 53 anos, tinha se formado advogado em 1997. Foi atrás dele.
Mesmo sendo especialista na área cível -processos de danos morais e materiais-, Nunes aceitou a empreitada. "A história era tão absurda que eu pensei: será que o homem [Mauro] não fez mesmo?", disse. "Só tinha uma solução: tentar encontrar a vítima. Se ela dissesse que aconteceu mesmo, então, era esquecer, enterrar o assunto", disse o advogado.
O próprio Mauro havia gasto quase todo o dinheiro que juntou durante a vida com advogados. Tentou duas revisões na Justiça, mas não havia um "fato novo" que justificasse reabrir o caso. Também contratou outros defensores que o aconselharam a desistir.
O advogado e o vendedor começaram a investigar nos registros de cemitérios e cartórios de imóveis. Pelo processo antigo, tinham os endereços da época e, por eles, rastrearam parentes distantes da "vítima" Sônia. "Tive que usar de um subterfúgio: dizer que ela [Sônia] tinha, talvez, um dinheiro a receber", disse.
Com o endereço na mão, Amauri chegou na porta da casa de Sônia em fevereiro de 2005. Viu caminhar por um estreito corredor a senhora de 64 anos (hoje), apoiada em uma bengala. O coração disparou. "E se ela dissesse que não iria falar nada? Se chamasse a polícia dizendo que eu estava a ameaçando?", lembrou ele.
Ao contrário de todos os seus temores, Sônia confirmou o que o pai disse. Mauro era inocente. "Minha avó é que fez tudo", disse a aposentada. "Eu vou aonde vocês quiserem para contar o aconteceu. Querem que vá agora?", afirmou.
À Folha, na quinta-feira, dona Sônia confirmou a versão contada pela família e pelo advogado, e lembrou da frase que Amauri disse naquele dia. "Eu prometi para meu pai que iria encontrá-la e encontrei", repetiu a senhora.
Amauri voltou para casa nas nuvens. Estava perto, enfim, a redenção de seu pai.
Além de se comprometer a ir à Justiça contar a verdade, Sônia também pediu o endereço de uma pessoa para ela própria contar o que aconteceu. A casa da viúva Maria Aparecida. "Eu fiquei emocionada [quando escutou sobre a inocência] e comecei a chorar. Nessas coisas aí a gente sempre tem o pé atrás", disse a viúva de Mauro.
Dias depois, Sônia estava na frente do juiz para dizer: "Mauro é inocente de ter feito coisa que não se deve fazer com uma criança dentro do ônibus. [...] Minha avó disse que o ônibus estava cheio e a pessoa abriu a calça dele, mas isso é mentira", diz trecho do depoimento.
Tinha-se o fato novo, e o Tribunal de Justiça anulou o processo. Não por falta de provas, mas por falta de ato criminoso. Mauro voltou ficar com o nome limpo.
Agora, a família tenta recuperar com uma outra ação a farda de Mauro que foi tirada, em cerimônia em frente aos colegas, dois dias depois de pegar o mesmo ônibus que Sônia. "Ele morreu quando tiraram a farda. Antes de acontecer isso, ele tocava gaita, dançava. Depois, perdeu toda a graça. Morreu ali", disse a viúva.

Lembrança
Enquanto ouvia o pai narrar toda sua saga, Amauri viu um filme passar em sua cabeça e começou, enfim, a entender porque aquele núcleo da família Queiroz (Maria Aparecida, Amauri e Silvio) sempre foi preterido pelos outros parentes. "Aí, você começa a lembrar das coisas que não conseguia entender: Por que a gente, quando criança, não era chamado para os aniversários? Por que meus primos, na mesma idade, ganhavam presentes [dos parentes] e nós não? Por que os parentes vinham de Barretos [para São Paulo] e não passavam lá em casa? Sabe por quê? Porque, para eles, éramos os filhos do tarado."




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