sábado, 31 de outubro de 2009
CLÁUDIO NÓVOA, 50 ANOS! O ESPAÇO, A FRONTEIRA FINAL...
Quem me conhece bem descobre facilmente a raiz de minha tristeza.
Tenho a mais absoluta convicção de que nasci pra ser livre, usando de deslocamentos e da velocidade pra conseguir essa liberdade.
Detesto ficar parado em um lugar por muito tempo.
Detesto ser lento, ficar na lentidão do trânsito, e de ter de dar atenção a pessoas lentas de raciocínio.
Ainda hoje, acho um tesão ficar olhando para o céu, imaginando o estado que estará a bandeira americana que Armstrong fincou na superfície lunar,onde andará as sondas terrestres que já passaram dos confins da nossa galáxia, o que os jipes robôs estão aprontando em marte...
Sonhando acordado...
É assim que eu ainda (sobre)vivo, esperando que meu espaço/tempo se modifique, que eu volte a ser livre, andar debaixo das estrelas e tentar finalmente ser feliz.
Enquanto isso não acontece, fico admirando essas imagens do Huble:
Aurora Langhus - Noruega
Cometa Hyakutake
Estrela Antares
Galáxia IC 1396
Bolhas em uma Nebulosa
Plutão e sua lua, Caronte
Sol , sua aura e seus gases
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
BATMAN:DEAD END - A HOMENAGEM DE UM FÃ DIRETOR DE CINEMA VIRA FEBRE NA NET!
Pessoal:
Batmaníaco confesso desde sempre , nos últimos anos venho descobrindo e gostando casa vez mais do trabalho do artista ALEX ROSS.
Ross não é um simples desenhista de HQ. Cada desenho seu tem a textura de um quadro, muitas vezes de película fotográfica, o que dá aos personagens que a gente já conhece,uma dimensão, uma luz e uma profundidade especiais. Ele já trabalhou para a MARVEL e para a DC. Nesta última, fez obras primas com a Liga da Justiça,Superman e BATMAN.
Veja o trabalho de ALEX ROSS e confira: Não é muito legal?
imagens ícone do Morcego, por Alex Ross
Depois do lançamento da obra prima "BATMAN: GUERRA AO CRIME", desenhada por Ross e com argumento e roteiro dele e de PAUL DINI - o responsável pelos ótimos desenhos animados do personagem da década de 90- os batfãs se perguntaram: "Mas por que diabos a WARNER não usa esse visual que Ross deu ao Morcegão nos filmes"? O Batman dos filmes de CHRIS NOLAN - Begins e Dark Night - é fantástico, o personagem aparece em diversas cenas em posições ícone das HQs - tipo alto dos edifícios, agachado, a capa imensa ao vento ou envolvendo seu corpo e arrastando no chão- mas seu figurino é mais uma armadura high-tech do que o bom e velho uniforme dos quadrinhos.
E aí é que entra o diretor de cinema SANDY COROLLA.
O doido tirou grana do próprio bolso pra fazer um curtíssimo filme do Batman - não tem nem 9 minutos - e conseguiu transpor com absoluta fidelidade todo o clima dos desenhos de Alex Ross para a tela.
A história é simples: Batman persegue o CORINGA, que fugiu mais uma vez do Asilo Arkham. Ao encurralá-lo numa noite chuvosa em um beco, acaba topando com o predador e o alien - que já apareceram em HQs importantes do herói também.
Corolla acertou a mão no figurino, na maquiagem do Coringa, nos efeitos,e principalmente na escolha e interpretação dos atores.
O Coringa está realmente ensandecido - o ator é a cara do personagem das Hqs! - , as aparições do predador e do alien são muito legais, e o Batman é uma das melhores caracterizações que eu ja vi do personagem.
Não seria o caso de bombardear a DC e a Warner - que detém os direitos do personagem - para que elas deem uma oportunidade ao Corolla?
Veja aqui BATMAN:DEAD END e me fala se estou exagerando:
E pra não deixar barato, a produção ainda fez esse "making off" caprichado, postado também no YouTube em 2 partes:
BATMAN DEAD END MAKING OFF PARTE 1
BATMAN DEAD END MAKING OFF PARTE 2
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
SARAMAGO XINGA DEUS EM "CAIM", E A IGREJA, COMO SEMPRE, FAZ PROPAGANDA PRA ELE DE GRAÇA!
Pessoal:
Sempre achei esse portuga meio "xupeta" da cabeça.
Mas que ele tem a capacidade de, a cada lançamento fazer um marketing polêmico, como sempre cutucando com vara curta a igreja católica, ele tem!
E o melhor: a igreja sempre compra a cutucada do escritor, e passa recibo, sempre! O cara tem quase 90 e eles ainda não aprenderam! Hehehe!
E com tudo isso, não é à toa que o novo livro do escritor português de 86 anos foi um dos sete livros mais comentados na semana passada. Em "Caim", o ganhador do Nobel de Literatura de 1998 usa até palavrões para contar a história do primogênito de Adão e Eva responsável pela morte do irmão Abel.
Deus é chamado de "filho da puta" com todas as letras,em texto publicado no último dia 17, um dia antes do lançamento mundial da obra em Penafiel (norte de Portugal).
A editora Companhia das Letras autorizou a publicação da passagem do livro em que Saramago usa palavra de baixo calão para narrar com sua ficção irônica um episódio bíblico.
Giuseppe Giglia/Efe
O escritor português e ganhador Nobel de Literatura en 1998, José Saramago, que lança o romance "Caim"
"Feliz vai também caim, já a sonhar com um almoço no campo, entre verduras, fugidios carreirinhos de água e passarinhos a sinfonizar nas ramagens. À mão direita do caminho, além, vê-se uma fila de árvores de bom porte que promete a melhor das sombras e das sestas. Para lá tocou caim o jumento. O sítio parecia ter sido inventado de propósito para refrigério de viajantes fatigados e respectivas bestas de carga. Paralela às árvores havia uma fileira de arbustos tapando o carreiro estreito que subia em direcção ao teso da colina. Aliviado do peso dos alforges, o jumento tinha-se entregado às delícias da erva fresca e de alguma rústica flor tresmalhada, sabores estes que jamais lhe tinham passado pela goela. Caim escolheu tranquilamente a ementa e ali mesmo comeu, sentado no chão, rodeado de inocentes pássaros que debicavam as migalhas, enquanto as recordações dos bons momentos vividos nos braços de lilith voltavam a aquecer-lhe o sangue. Já as pálpebras tinham começado a pesar-lhe quando uma voz juvenil, de rapaz, o fez sobressaltar, Ó pai, chamou o moço, e logo uma outra voz, de adulto de certa idade, perguntou, Que queres tu, isaac, Levamos aqui o fogo e a lenha, mas onde está a vítima para o sacrifício, e o pai respondeu, O senhor há-de prover, o senhor há-de encontrar a vítima para o sacrifício. E continuaram a subir a encosta. Ora, enquanto sobem e não sobem, convém saber como isto começou para comprovar uma vez mais que o senhor não é pessoa em quem se possa confiar.
Há uns três dias, não mais tarde, tinha ele dito a abraão, pai do rapazito que carrega às costas o molho de lenha, Leva contigo o teu único filho, isaac, a quem tanto queres, vai à região do monte mória e oferece-o em sacrifício a mim sobre um dos montes que eu te indicar. O leitor leu bem, o senhor ordenou a abraão que lhe sacrificasse o próprio filho, com a maior simplicidade o fez, como quem pede um copo de água quando tem sede, o que signifi ca que era costume seu, e muito arraigado. O lógico, o natural, o simplesmente humano seria que abraão tivesse mandado o senhor à merda, mas não foi assim. Na manhã seguinte, o desnaturado pai levantou-se cedo para pôr os arreios no burro, preparou a lenha para o fogo do sacrifício e pôs-se a caminho para o lugar que o senhor lhe indicara, levando consigo dois criados e o seu filho isaac. No terceiro dia da viagem, abraão viu ao longe o lugar referido. Disse então aos criados, Fiquem aqui com o burro que eu vou até lá adiante com o menino, para adorarmos o senhor e depois voltamos para junto de vocês. Quer dizer, além de tão filho da puta como o senhor, abraão era um refi nado mentiroso, pronto a enganar qualquer um com a sua língua bífida, que, neste caso, segundo o dicionário privado do narrador desta história, significa traiçoeira, pérfida, aleivosa, desleal e outras lindezas semelhantes.
Chegando assim ao lugar de que o senhor lhe tinha falado, abraão construiu um altar e acomodou a lenha por cima dele. Depois atou o filho e colocou-o no altar, deitado sobre a lenha. Acto contínuo, empunhou a faca para sacrificar o pobre rapaz e já se dispunha a cortar-lhe a garganta quando sentiu que alguém lhe segurava o braço, ao mesmo tempo que uma voz gritava, Que vai você fazer, velho malvado, matar o seu próprio filho, queimá-lo, é outra vez a mesma história, começa-se por um cordeiro e acaba-se por assassinar aquele a quem mais se deveria amar, Foi o senhor que o ordenou, foi o senhor que o ordenou, debatia-se abraão, Cale-se, ou quem o mata aqui sou eu, desate já o rapaz, ajoelhe e peça-lhe perdão, Quem é você, Sou caim, sou o anjo que salvou a vida a isaac. Não, não era certo, caim não é nenhum anjo, anjo é este que acabou de pousar com um grande ruído de asas e que começou a declamar como um actor que tivesse ouvido finalmente a sua deixa, Não levantes a mão contra o menino, não lhe faças nenhum mal, pois já vejo que és obediente ao senhor, disposto, por amor dele, a não poupar nem sequer o teu filho único, Chegas tarde, disse caim, se isaac não está morto foi porque eu o impedi.
O anjo fez cara de contrição, Sinto muito ter chegado atrasado, mas a culpa não foi minha, quando vinha para cá surgiu-me um problema mecânico na asa direita, não sincronizava com a esquerda, o resultado foram contínuas mudanças de rumo que me desorientavam, na verdade vi-me em papos-de-aranha para chegar aqui, ainda por cima não me tinham explicado bem qual destes montes era o lugar do sacrifício, se cá cheguei foi por um milagre do senhor, Tarde, disse caim, Vale mais tarde que nunca, respondeu o anjo com prosápia, como se tivesse acabado de enunciar uma verdade primeira, Enganas-te, nunca não é o contrário de tarde, o contrário de tarde é demasiado tarde, respondeu-lhe caim. O anjo resmungou, Mais um racionalista, e, como ainda não tinha terminado a missão de que havia sido encarregado, despejou o resto do recado, Eis o que mandou dizer o senhor, Já que foste capaz de fazer isto e não poupaste o teu próprio filho, juro pelo meu bom nome que te hei-de abençoar e hei-de dar-te uma descendência tão numerosa como as estrelas do céu ou como as areias da praia e eles hão-de tomar posse das cidades dos seus inimigos, e mais, através dos teus descendentes se hão-de sentir abençoados todos os povos do mundo, porque tu obedeceste à minha ordem, palavra do senhor. Estas, para quem não o saiba ou finja ignorá-lo, são as contabilidades duplas do senhor, disse caim, onde uma ganhou, a outra não perdeu, fora isso não compreendo como irão ser abençoados todos os povos do mundo só porque abraão obedeceu a uma ordem estúpida, A isso chamamos nós no céu obediência devida, disse o anjo.
Coxeando da asa direita, com um mau sabor de boca pelo fracasso da sua missão, a celestial criatura foi-se embora, abraão e o filho também já lá vão a caminho do lugar onde os esperam os criados, e agora, enquanto caim ajeita os alforges no lombo do jumento, imaginemos um diálogo entre o frustrado verdugo e a vítima salva in extremis. Perguntou isaac, Pai, que mal te fiz eu para teres querido matar-me, a mim que sou o teu único filho, Mal não me fizeste, isaac, Então por que quiseste cortar-me a garganta como se eu fosse um borrego, perguntou"
capa de "Caim"
Autor: José Saramago
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 36
Páginas: 176
Onde comprar: pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha
FONTE: Folha de S.Paulo