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Lenda do Cinema, ator escocês vira nonagenário curtindo aposentadoria no Caribe
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Até hoje, não importa quem faça a enquete, Sir Sean Connery é sempre eleito, com folgas, o melhor intérprete de James Bond na cinessérie mais longeva do cinema.
Intérprete original do espião criado por Ian Flemming, Connery apareceu em sete filmes, de 1962 a 1983 (este último após longo hiato e fora da cronologia oficial) e, mesmo afastado das telonas, continua sendo assunto de interesse de todo cinéfilo que se preze.
Afinal, a carreira de Connery não se resume aos filmes de 007: de Hitchcok a Brian de Palma, passando por Spielberg, o ator foi dirigido por grandes nomes, fez papéis fantásticos e ganhou um Oscar - de Ator Coadjuvante por Os Intocáveis, mas ganhou.
No seu Diário da Quarentena, na revista Sight and Sound - Summer 2020 -, Pedro Almodóvar conta que o cinema tem ajudado no isolamento.
Ele tem revisto os clássicos, feito descobertas, adorou rever 007 Contra Goldfinger, de Guy Hamilton, e até fez elocubrações do tipo 'a garota nua pintada de dourado é metáfora do capitalismo'. Uma mulher objeto feita desejo.
Almodóvar lembra que conheceu Sean Connery num jantar em Cannes, sentaram-se próximos e o ex-007 puxou conversa citando detalhes de seus filmes.
O diretor espanhol confessa que se surpreendeu, porque não imaginava que Connery pudesse gostar do tipo de cinema que faz.
Trocaram cartões com números de telefone.
Almodóvar pensou consigo que estava acabado e qual não foi sua surpresa ao receber uma chamada de Connery - foi na época de Fale com Ela e, de novo, o astro surpreendeu o autor espanhol com a perspicácia de suas observações.
Sir Thomas Sean Connery completa nesta terça, 25, 90 anos - nasceu em Edimburgo, em 1930.
Filho do leiteiro, teve um começo modesto.
Entregava leite, serviu na Marinha real, foi motorista de caminhão e, pelo porte atlético, serviu de modelo vivo para os artistas do Colégio de Artes da Escócia.
Sua primeira experiência no teatro foi no coro de marinheiros do muicsal South Pacific.
Somou pequenos papeis no cinema, inclusive como vilão em A Maior Aventura de Tarzan, de John Guillermin, de 1959, com Gordon Scott na pele do rei da selva criado pelo escritor Edgar Rice Burroughs.
Em 1962, foi escolhido pelo diretor Terence Young e pelos produtores Harry Saltzman e Albert Broccoli para o papel de James Bond em O Satânico Dr. No.
Na época, as aventuras do agente secreto com licença para matar - criado pelo escritor Ian Fleming - ganharam popularidade porque o presidente John F. Kennedy serviu de garoto-propaganda, dizendo que adorava ler os livros para relaxar.
Young voltaria a dirigir Connery em Moscou Contra 007 e 007 Contra a Chantagem Atômica e segundo o diretor, o ator tinha o physique du rôle, mas não sabia comportar-se - seu trabalho foi dar-lhe polimento.
Connery somou novas aventuras - 007 Contra Goldfinger e Com 007 Só Se Vive Duas Vezes.
Depois desse último, em 1967, desistiu de seguir fazendo o papel, mas voltou em 1971 graças a uma oferta irrecusável: o o maior salário pago a um ator, para fazer 007 Os Diamantes São Eternos.
A essa altura, já vinha diversificando sua carreira, filmando com diretores importantes como Alfred Hitchcock, Sidney Lumet, Irvin Kershner e Martin Ritt.
A obra-prima Marnie - As Confissões de Uma Ladra, A Colina dos Homens Perdidos, Sublime Loucura e o maior de todos, Ver-Te-Ei no Inferno, deram nova dimensão à sua carreira.
Atravessou os anos 1970 agregando prestígio com filmes como Assassinato no Expresso Oriente (Lumet, de novo), O Vento e o Leão (John Milius), O Homem Que Queria Ser Rei (John Huston), Robin e Marian e Cuba (Richard Lester).
No começo dos 80, aceitou ser de novo James Bond num filme fora da série oficial - 007 Nunca Mais Outra Vez, de Kershner.
Seguiu filmando com Fred Zinnemann (Cinco Dias em Um Verão), Jean-Jacques Annaud (O Nome da Rosa), Brian De Palma (Os Intocáveis) e Steven Spíelberg (Indiana Jones e a Última Cruzada).
Ganhou o Bafta pelo Annaud e o Oscar de coadjuvante pelo papel de Malone no De Palma - foi uma daquelas ocasiões em que a Academia inteira levantou-se para aplaudir.
Na vida pessoal, as coisas complicam-se um pouco e Connery deixa de ser uma unanimidade.
Foi casado por 11 anos com a atriz Diane Cilento, com a qual teve o filho Jason - atalmente com 57 anos.
Quando se divorciaram, Diane escreveu um livro contando que o relacionamento foi abusivo.
Bem antes de movimentos como #MeToo, Connery admitiu em sucessivas entrevistas que havia batido em mulheres e até defendeu seu direito.
"Não penso que seja ruim e até acho que depende das circunstâncias, se há merecimento. Se você tentou tudo antes e as mulheres não querem deixar você quieto e insistem em ter a última palavra, então você impõe sua última palavra a elas."
Outra polêmica: Connery é apoiador do Partido Nacional Escocês, que defende a independência da Escócia do Reino Unido.
Seus opositores não levam a sério a militância por dois motivos:
1) aceitou o título de Sir do Império Britânico, e
2) há muito tempo reside nas Bahamas com a segunda mulher, Micheline Roquebrune, para fugir das pesadas taxas de imposto de renda do país.
Em 1993, submeteu-se à radioterapia, por causa de nódulos na garganta, e em 2003 operou os dois olhos de catarata.
Não filma desde 2003 - o fracasso de A Liga Extraordinária desiludiu-o com o sistema de Hollywood.
Há mais de uma década anuncia sua autobiografia, mas a essa altura já brincou que é mais provável que só seja publicada postumamente.
Os produtores responsáveis pela cinessérie de "007" celebraram o aniversário de Sean Connery com um vídeo com seus melhores momentos como James Bond.
"Feliz aniversário ao nosso 007 original, Sean Connery, que completa 90 anos hoje. Com amor de Michael, Barbara, todos na Eon e de todos os seus fãs", diz a mensagem publicada nas redes sociais oficiais da franquia cinematográfica, assinada por Michael G. Wilson e Barbara Broccoli, que desde 1995 comandam a Eon, produtora dos filmes de James Bond - eles são filhos do produtor original Albert Broccoli.
Longa vida a Sir Sean Connery!
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