Por LUIZ PRISCO
Dados assustadores da Organização das Nações Unidas (ONU) mostram que, no Brasil, um jovem negro é morto a cada 23 minutos.
Nos Estados Unidos, país também marcado pela escravidão, as ruas fervem em protestos que gritam a importância das vidas pretas.
Neste contexto global, Pantera Negra, filme lançado em 2018, tornou-se um importante instrumento na luta antirracista.
O longa da Marvel sobre um herói negro, africano, faturou mais de US$ 1 bilhão e conquistou três Oscars.
O tema volta à tona após a morte de Chadwick Boseman, ator que vivia o protagonista T’challa, aos 43 anos.
Figuras negras importantes manifestaram a admiração por Chadwick Boseman e seu personagem.
“Ele se tornou o rosto de um mundo ideal. O rosto do sonho por uma Wakanda”, escreveu Lázaro Ramos em sua emocionada homenagem.
Pantera Negra foi o primeiro filme solo sobre o héroi negro da Marvel, criado em 1965.
Mais do que isso, trouxe a questão da representatividade negra na cultura pop ao centro da discussão.
“Eu só fico imaginando o jovem adolescente negro, que pensa em cinema ou gosta de audiovisual, nunca se vê retratado em nada. De repente tem acesso a uma superprodução dessas, com uma representação muito bem feita. É um mundo que a gente não tem acesso”, afirmou a cineasta Lilian Santiago, em entrevista à Rádio USP.
“[A figura do] Pantera Negra no filme é retratada como forma de resistência e representação para a população negra tanto presente no filme quanto na vida real, consumindo esse audiovisual”, defendem os pesquisadores Danielle Vaz e Marco Bonito, em artigo sobre o tema.
Grande parte do mérito de Pantera Negra foi ter trazido para o mainstream a discussão sobre o afrofuturismo.
O termo afrofuturismo foi criado nos anos 1990 pelo filósofo Mark Dery, como uma crítica à falta de autores negros e de perspectivas da população preta na ficção científica.
“Nós precisamos imaginar o amanhã e nosso povo precisa mais do que tudo”, explicou o autor em entrevista a Samule R. Delany.
“No filme Pantera Negra, a narrativa afrofuturista está muito presente: Wakanda como um país do continente africano com uma tecnologia e sociedade bem desenvolvida. A sua principal fonte tecnológica é o vibranium, um metal poderoso e resistente, que é criado somente neste país e constantemente é perseguido por diversos vilões e heróis nos quadrinhos e no filme. O que mais chama a atenção na trama é a estética que mistura tecnologia e africanidade”, apontam Danielle Vaz e Marco Bonito.
Pantera Negra é, constantemente, citado como um longa representativo sobre a luta antirracista por especialistas no tema.
“Tanto no plano nacional quanto no plano internacional, temos um histórico de estereótipos degradantes da figura do negro. Quando a gente chega em 2018 com a Marvel fazendo o primeiro filme de um super-herói negro, é fundamental e muito importante quando pensamos em termos de representatividade”, conclui Thaís Santos, pesquisadora da Universidade de São Paulo, em entrevista à rádio da instituição.
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