segunda-feira, 4 de maio de 2020

'HOLLYWOOD': CRÍTICA DA MINISSÉRIE DE RYAN MURPHY PARA A NETFLIX

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Segundo trabalho de Ryan Murphy para a Netflix, série mostra uma indústria do cinema americano utópica e à frente do seu tempo
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SINOPSE:

Após a Segunda Guerra Mundial, atores e cineastas novatos fazem de tudo para conquistar o estrelato em Hollywood.

CRÍTICA:

Conhecido pela antologia ‘American Horror Story’, Ryan Murphy sempre fez questão de mostrar sua paixão pela indústria cinematográfica – principalmente aos clássicos longas-metragens que são sua inspiração.

Seja com o musical adolescente ‘Glee’, seja com a temporada única de ‘Feud’, Murphy nunca deixou de prestar homenagens a nomes como Joan Crawford, Bette Davis, Marlene Dietrich e tantos outros artistas lendários cujo legado vive com força inigualável.

Assim, surgiu ‘Hollywood’, segunda colaboração do realizador para a Netflix.

Ambientada no final da década de 1940, a produção é uma reimaginação da Era de Ouro de Hollywood – uma das décadas mais controversas da história.

No período pós-II Guerra Mundial, o sentimento de nacionalismo começava a tomar conta da sociedade norte-americana e, dessa forma, qualquer pessoa “diferente” era tratada com descaso, preconceito e até mesmo com violência (como era o caso das mulheres, dos negros e dos gays).

Essa premissa exala uma ambição bastante interessante, que serve como base para uma transgressão: na verdade, são as minorias que ganham voz em uma trama totalmente utópica, que reformula o cenário do entretenimento e o futuro de uma nação dividida e que já perdeu sua identidade.

O grande problema é como convencer o público do que poderia ter acontecido, sem cair nos comodismos de sempre.

O primeiro problema da série é a quantidade de personagens.

Temos o ex-veterano de guerra Jack Castello (David Corenswet) que foi atraído pelas artes performáticas e tenta de tudo para conseguir nem que seja uma ponta nos filmes dos estúdios Ace, um dos mais importantes do planeta; Camille Washington (Laura Harrier), uma atriz negra contratada para encarnar empregadas domésticas estereotipadas que cansou de fazer o mesmo papel várias vezes e deseja, mais que tudo, ser a protagonista de um sucesso; Archie Coleman (Jeremy Pope), um aspirante a roteirista negro e gay, que quer ver seu nomes nos letreiros e nas marquises de todo lugar e provar seu valor na cidade dos sonhos; e muitas outras figuras únicas que representam os diversos tipos sociais que despontavam em cada esquina daquele mágico e complicado lugar.

Apesar dos claros deslizes cultivados (e aparentemente imperceptíveis) desde o capítulo de estreia, a minissérie consegue brilhar em muitos momentos, com o elenco jovem representando o frescor ingênuo e sonhador daqueles que ainda têm uma vida pela frente, cheia de credulidades quase impalpáveis sobre o futuro e prospectos de autorrealização.

Mas também temos a presença de veteranos da televisão e do cinema que já passaram por várias decepções e agora entendem a realidade com amargura e com arrependimentos: desde a presença radiante de Patti LuPone como a atriz aposentada Avis Amberg, que se envolve com escapadas românticas com garotos mais jovens à medida que seu casamento se deteriora, a adição charmosa de Dylan McDermott como o cafetão e frentista Ernie West (baseado com ironia adorável em Scotty Bowers) e até mesmo a inesperada e dramática rendição de Holland Taylor, que brilhou como a mãe dos irmãos em 'Two and a Half Men', como Ellen Kincaid, produtora executiva e mentora de diversos novos talentos do estúdio ACE, onde trabalha.

As performances chamam a atenção, mesmo com diálogos às vezes fracos e melodramáticos demais.

A história real acrescenta elementos de credibilidade à obra, seja através do repentino resgate da trágica história de Anna May Wong (aqui encarnada por Michelle Krusiec), seja pela monumental aparição de Hattie McDaniel (Queen Latifah) – e, por mais que Murphy insista em reescrever uma história cruel para um mirabolante conto de fadas, a fantasia é grande demais para ser levada a sério - o que eu achei ótimo, porém.

O elenco bem escalado se transforma numa equipe intensa, unida para dar aval a um projeto revolucionário, que traria pela primeira vez uma mulher negra às telonas.

Intitulado Meg, Camille acaba conseguindo o papel de protagonista, com seu marido, Raymond (Darren Criss) o diretor do projeto.

O resultado, mostrado num último episódio simplesmente espetacular, é digno de um romance romântico em que absolutamente tudo dá certo e os “mocinhos” encontram seu final feliz e podem seguir em frente sentindo-se mais que realizados.

Clichê? Sim, mas é bom!

Afinal, como seria o mundo se Rock Hudson tivesse assumido sua homossexualidade ainda quando jovem e perdido sua carreira como um dos maiores galãs do cinema de todos os tempos?

Aqui vivido por Jake Picking, o galã dos galãs aparece tendo um romance com o roteirista negro Archie Coleman (Jeremy Pope), feliz em começo de carreira.

Como sabemos, Hudson nunca saiu do armário, mesmo com milhares de rumores sobre sua homossexualidade durante a longa carreira.

Só resolveu se abrir dias antes de morrer de Aids, em 1982 - foi a primeira grande celebridade a morrer da doença.

Picking faz um Rudson meio idiota, mas que funciona das cenas das quais participa.

Já a Camille Washington de Laura Harrier e o Jack Castello de David Corenswet são dois achados: além de bonitos ao extremo, trabalham bem pra caramba e tem ótima química como os protagonistas do filme Meg.

Faltou falar sobre quem realmente dá show da série: Jim Parsons aparece arrasador como o agente Henry Willson, uma 'bicha do mal' que abusa sexualmente dos seus rapazes contratados e passa o tempo todo entre a humanidade e poder.

Primeiro papel depois do sucesso de 'The Big Bang Theory', Parsons - que também é um dos produtores-executivos - está muito à vontade no papel e tem cenas maravilhosas, quando 'interpreta' uma dança de Isadora Duncan, com os lenços e tudo, para um estarrecido Rock Hudson, por quem se apaixona - a imagem da cena está na Galeria de Imagens, abaixo.

Assim, ‘Hollywood’ serve como um didático manual de como a cindústria do cinema americano funciona, perguntando-se principalmente como o mundo seria se as lutas das minorias tivessem se iniciado tantas décadas atrás.

Ryan Murphy, enfim, continua provocando e nos entregando excelentes trabalhos.

Que venham mais!

GALERIA DE IMAGENS:

















TRAILER:


FICHA TÉCNICA:
HOLLYWOOD
Formato:
Minissérie
Gênero:
Drama
Criadores:
Ryan Murphy e Ian Brennan
Elenco:
David Corenswet como Jack Castello
Darren Criss como Raymond Ansley
Laura Harrier como Camille Washington
Joe Mantello como Dick Samuels
Dylan McDermott como Ernie West
Jake Picking como Rock Hudson
Jeremy Pope como Archie Coleman
Holland Taylor como Ellen Kincaid
Samara Weaving como Claire Wood
Jim Parsons como Henry Willson
Patti LuPone como Avis Amberg
Maude Apatow como Henrietta
Mira Sorvino como Jeanne Crandall
Michelle Krusiec como Anna May Wong
Rob Reiner como Ace Amberg
Queen Latifah como Hattie McDaniel
Número de Episódios:
07
Duração dos Episódios:
44–57 minutos
Produtor(es):
Todd Nenninger
Lou Eyrich
Eryn Krueger Mekash
Produtor(es) executivo(s):
Ryan Murphy
Ian Brennan
Alexis Martin Woodall
Janet Mock
Eric Kovtun
Ned Martel
Darren Criss
Jim Parsons
David Corenswet
Estudio:
Ryan Murphy Productions
Exibição:
Netflix
Estreia:
01 de maio de 2020

COTAÇÃO DO KLAU:

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