SINOPSE:
Após a morte suspeita de um amigo, John Shaft Jr. (Jessie T. Usher) resolve pedir ajuda a seu pai, Shaft (Samuel L. Jackson), para resolver o caso.
Ele aceita deixar a aposentadoria para iniciar a investigação, apesar dos problemas existentes com o próprio filho.
CRÍTICA:
Assim como as pessoas, os personagens fictícios são produtos de sua época.
Suas criações existem dentro de um contexto, de um parâmetro social, da forma como percebemos o mundo.
Shaft (1971), baseado no livro de Ernest Tidyman, é produto dos revolucionários anos 1970 – que para o cinema se traduz, entre outras coisas, como era representativa para a cultura negra.
Chegava a vez de grande parte da sociedade finalmente se ver representada nas telas como protagonistas – no movimento conhecido como Blaxploitation - e pela primeira vez, num longa de um grande estúdio de Hollywood - a Warner Bros.
Detetives durões, mulheres fortes, malandros e criminosos sedutores, em dezenas de filmes durante toda a época, artistas negros (assim como seus personagens) tomavam para si o protagonismo de histórias policiais, investigativas e de suspense.
É justo dizer que Shaft, vivido por Richard Roundtree foi o grande exponencial de período e o personagem mais famoso – tanto que ressoa até hoje.
Duas sequências – O Grande Golpe de Shaft (1972) e Shaft na África (1973) – e uma série de TV (1973-1974) depois e o personagem foi engavetado, hibernando durante as décadas de 1980 e 1990.
Foi somente em 2000 que Shaft saía da aposentadoria no filme homônimo, trazido pelo saudoso diretor John Singleton, agora com Samuel L. Jackson, mas com direito a participação do original (Richard Roundtree).
O longa não atingiu o esperado – mesmo levantando em sua trama questões ainda latentes e contando com um elenco de primeira (Christian Bale, Toni Collette, Jeffrey Wright).
Shaft (2000) foi realmente um filme subestimado.
Novamente descartado por longos dezenove anos, o icônico personagem retorna agora em novo projeto, que nos EUA foi lançado nos cinemas e aqui no Brasil, pela Netflix.
A surpresa positiva de Shaft (2019) é a presença de Jackson revivendo o personagem e Roundtree com uma participação ainda maior - ou seja: temos aqui uma continuação direta do filme de Singleton, que por sua vez continua as aventuras da década de 1970, com o protagonista original passando seu bastão ao sobrinho/filho (até mesmo uma brincadeira com esta confusão é abordada pelo novo longa).
Outro momento de graça do novo longa é a piada “interna” sobre o fato de todos sempre confundirem Jackson com Laurence Fishburne.
Infelizmente, o longa não é lá essas coisas.
O alerta vermelho surgiu quando foi divulgado que o filme não seria lançado nos cinemas em muitos países, como no Brasil, mas sim diretamente na Netflix – casa dos temerosos e desesperados.
Não ajuda nada o fato de que substituindo o grande Singleton (que também assinava o roteiro do longa de 2000), falecido este ano, se encontra o inexpressivo Tim Story (Táxi e Quarteto Fantástico, 2005).
Story não imprime energia ou urgência ao filme, dando a impressão de esse longa ser o episódio piloto rejeitado de uma série de televisão.
Tudo é extremamente genérico, seguro e quase mirado ao público infanto-juvenil e praticamente não encontramos vestígio do que foi o personagem anteriormente.
O roteiro dos roteiristas Kenya Barris e Alex Barnow coloca o dinossauro detetive mulherengo a par com os novos tempos, numa típica história de peixe fora d´água.
E para isso somos apresentados ao filho do protagonista, o mauriçola vivido por Jessie T. Usher.
A dinâmica de personalidades conflitantes transforma o filme numa comédia, sem qualquer afinação, esperteza ou brilho.
É a rotina do buddy cop movie reciclada lá da década de 1980, o que torna novo Shaft tão antiquado que parece mesmo um filme produzido através de um roteiro engavetado.
Nem ao menos criatividade no título o longa demonstra, nomeando pela terceira vez (e confundindo completamente o espectador) um longa da série apenas como 'Shaft', quando o certo seria 'O Filho de Shaft'.
Vale pela presença sempre magnética de Samuel L. Jackson e pelo ato final, quando Shafts avô, filho e neto juntam forças para o bom clímax final.
No mais, é um dos milhares de filmes medianos que temos à disposição no catálogo da Netflix.
GALERIA DE IMAGENS:
TRAILER:
FICHA TÉCNICA:
SHAFT
Título Original:
SHAFT
Gênero:
Comédia, Policial
Direção:
Tim Story
Elenco:
Samuel L. Jackson, Jessie T. Usher, Regina Hall, Alexandra Shipp, Richard Roudtree e outros
Roteiro:
Alex Barnow, Kenya Barris
Trilha Sonora:
Christopher Lennertz
Produtores:
John Davis, Kenya Barris
Diretor de fotografia:
Larry Blanford
Montador:
Peter S. Elliot
Diretor de Arte:
Jeremy Woolsey
Estúdios:
Warner Bros., New Line Cinema
Distribuidor/Exibidot brasileiro:
Netflix
País:
EUA
Ano:
2019
Duração:
111 min.
COTAÇÃO DO KLAU:
Nenhum comentário:
Postar um comentário