quinta-feira, 30 de maio de 2019

'ROCKETMAN': MELHOR CINEBIOGRAFIA DOS ÚLTIMOS TEMPOS MOSTRA OS ALTOS E BAIXOS DE ELTON JOHN DE MANEIRA ESPETACULAR


SINOPSE:

A trajetória de como o tímido Reginald Dwight (Taron Egerton) se transformou em Elton John, um dos maiores ícones da música pop.

Desde a infância complicada, fruto do descaso do pai pela família, sua história de vida é contada através da releitura das músicas do superstar, incluindo a relação do cantor com o compositor e parceiro profissional Bernie Taupin (Jamie Bell) e o empresário e o ex-amante John Reid (Richard Madden).

CRÍTICA:

Para quem se preocupava com uma biografia sobre Elton John produzida pelo próprio Elton John, pode ficar tranquilo: embora o filme ressalte o talento do cantor, ele está longe de ser 'chapa branca'.

Para quem temia um filme meio sem sal como a também cinebiografia Bohemian Rhapsody, que passou por cima da homossexualidade e as drogas para se tornar palatável ao público conservador, o próprio Elton e o diretor Dexter Fletcher buscaram maneiras mais criativas de representar o vício em drogas e o relacionamento com homens, tão clara quanto sensivelmente.

E por fim: para quem temia uma simples enumeração de fatos mais marcantes da vida, é bom saber que a cinebiografia oferece muito mais do que esperávamos.

Rocketman : Foto Taron Egerton
Taron Egerton é Elton John - Fotos dessa Postagem: Divulgação/Paramount Pictures do Brasil
Rocketman - que estreia nesta quinta aqui no Brasil - é uma uma extravagância kitsch, destinada a investigar a carreira de Elton John (Taron Egerton) através da psicologia.

O roteiro, preciso, dedica uma parte importante para mostrar que todos os problemas e glórias na vida do protagonista se devem à falta de amor e à busca pelo mesmo.

O talento musical teria surgido da necessidade de provar seu valor ao pai homofóbico, a dependência de substâncias químicas seria fruto direto do relacionamento fracassado com seu empresário (Richard Madden), as mais belas apresentações constituiriam uma maneira de canalizar a tristeza, a raiva ou a depressão.

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Richard Madden é John Reid, empresário e amante de Elton
Por um lado, o discurso sobre a frustração como principal motor da criação artística corresponde a uma romantização nociva da atividade criativa.

Isso impede tanto que se perceba o profissional da arte como alguém capaz de produzir dentro de uma estrutura sadia quanto que se valorize o criador enquanto indivíduo comum, dotado de uma expressão artística ao alcance de todos.

O artista é percebido como o diferente, o excêntrico, aquele cujo talento representa uma recompensa às dores que vive, e para quem a busca por prazeres efêmeros (droga, álcool, sexo fácil) representa uma compensação óbvia de carências afetivas.

O roteiro de Lee Hall não consegue escapar ao psicologismo superficial que separa o artista do resto da comunidade.

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Os icônicos figurinos do astro pop e seus espetaculares óculos são uma atração á parte no longa
Por outro lado, ao abraçar os traumas, os excessos e as inseguranças de Elton John, o diretor contamina seu filme com uma energia vibrante, traduzindo o estilo de seu personagem em escolhas estéticas apropriadas.

Nos maravilhamos com um filme colorido, repleto de recursos cafonas, exagerados, barulhentos, assim como foi Elton no início da carreira.

Este não é apenas um “drama com música” como Bohemian Rhapsody, mas um musical no sentido estrito do termo, devido à inclusão de numerosas cenas em que os personagens cantam e dançam, rompendo com o naturalismo para abraçar a fantasia.

As cenas musicais constituem o ponto mais forte do projeto por sua criatividade e pela bela maneira como reinterpretam as espetaculares canções de Elton John, ora transformando sensivelmente as letras originais, ora colocando-as na boca de pessoas importantes que conviveram com o artista.

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Elton John e Taron Egerton juntos, no último Festival de Cannes - Vulture
E fica evidente que o filme não seria o mesmo sem o excepcional talento do ator que interpreta Elton John.

Em poucos anos, Targon Egerton tem se mostrado um dos atores mais versáteis de Hollywood, demonstrando igual desenvoltura no drama, na comédia, na ação - e tudo com talento para a dança e o canto.

Ele entrega um ótimo resultado tanto nas cenas catárticas quanto nos instantes intimistas.

Infelizmente, ele é obrigado a contracenar com Bryce Dallas Howard, uma atriz que perde facilmente os limites quando mal dirigida  e que aqui, recai na caricatura da mãe histérica.

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Bryce Dallas Howard, em cena do longa
Em paralelo, Richard Madden transforma-se no vilão novelesco com uma rapidez espantosa, o que sublinha um sintoma marcante deste filme, que funciona muito melhor quanto lida com a psicologia do que na representação da sociedade e da família.

Enquanto a investigação de sentimentos soa verossímil, a representação dos pais malvados e dos amantes insensíveis se torna novelesca.

O roteiro tem alguns clichês comuns às cinebiografias, a exemplo dos diálogos engrandecedores – uma cena importante entre Egerton e Jamie Bell é composta inteiramente por frases de efeito.

Ao menos, percebe-se um esforço notável para transmitir a sexualidade de modo multifacetado e frontal, sem demonstrar vergonha da homossexualidade de Elton John.

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Egerton e Jamie Bell, em cena do longa
De modo geral, esse longa, ainda mais produzido por um grande estúdio de Hollywood, merece ser reconhecido pela tentativa de romper com os códigos rígidos que têm prejudicado a maior parte das cinebiografias, sempre com muitos filtros e muitas coisas escondidas.

O diretor Fletcher opta por um estilo pouco subversivo dentro do cinema como um todo, porém consideravelmente ousado para o circuito comercial.

Parabéns a Elton John, que fez o projeto sair do papel, à Paramount, que produziu e a Fletcher, que dirigiu essa pequena obra prima.

Filmaço.

TRAILER:


FICHA TÉCNICA:
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ROCKETMAN
Título Original:
ROCKETMAN
Gênero:
Biografia/Musical
Direção:
Dexter Fletcher
Elenco:
Alison Ball, Benjamin Mason, Bryce Dallas Howard, Eddie Register, Guillermo Bedward, Jamie Bacon, Jamie Bell, Kamil Lemieszewski, Luke White, Richard Madden, Samuel Magee, Solomon Mousley, Taron Egerton
Roteiro:
Lee Hall
Produção:
Adam Bohling, David Furnish, David Reid, Elton John, Lawrence Bender, Matthew Vaughn
Fotografia:
George Richmond
Trilha Sonora:
Matthew Margeson
Montador:
Chris Dickens
Estúdio:
Marv Films, Marv Studios, New Republic Pictures, Paramount Pictures
Distribuidora:
Paramount Pictures Brasil
País:
EUA
Ano de Produção:
2019
Duração:
121 min.
Estréia (Brasil):
30/05/2019
Classificação Indicativa:
16 anos

COTAÇÃO DO KLAU:

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