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A indústria de cinema americana só falou sobre Harvey Weinstein nessa semana
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O assunto do assédio sexual na indústria cinematográfica tomou grandes proporções em Hollywood na última semana com a série de denúncias contra o famoso produtor Harvey Weinstein.
O caso se tornou emblemático exatamente pela importância do executivo no lançamento de grandes filmes e carreiras de vários atores e atrizes.
Harvey é irmão mais velho de Bob Weinstein e foi essa parceria que originou a Miramax, fundada na Califórnia em 1979.
Os irmãos Bob e Harvey Weinstein - Variety |
O primeiro filme distribuído pela empresa foi 'Rockshow', em 1980, um filme-concerto que mostrava a turnê de Paul McCartney e os Wings pela América do Sul.
Em 1989, a empresa começou a tomar importância nas premiações com 'Meu Pé Esquerdo', que venceu o Oscar nas categorias de Melhor Ator, para Daniel Day-Lewis e Melhor Atriz Coadjuvante, para Brenda Fricker.
Desde então, o nome do produtor esteve envolvido em mais de 20 produções indicadas ao prêmio máximo do cinema - como 'Pulp Fiction'(1994), 'O Paciente Inglês' (1996), 'Gênio Indomável' (1997), 'Shakespeare Apaixonado' (1998), entre vários outros - com seu nome sendo mais citado do que "Deus" nos discursos de agradecimento.
Sua influência nos bastidores cresceu e ele começou também a lançar carreiras, como de Quentin Tarantino, Kevin Smith, Matt Damon, entre várias outros artistas.
Com Quentim Tarantino - USA Today |
Ter Harvey Weinstein em um projeto era sinônimo de sucesso e reconhecimento e é exatamente por toda essa influência que as graves denúncias de assédio tomaram grandes proporções.
Além dos casos citados pelo jornal 'New York Times', que deram início às discussões, a revista New Yorker publicou um novo artigo com relatos ainda mais graves.
A atriz e diretora italiana Asia Argento afirmou ao site que ele fez sexo oral de forma forçada nela.
Seu medo, na época, era que Weinstein acabasse com sua carreira por conta de sua importância:
“Sei que ele já tinha acabado com várias pessoas antes. É por isso que essa história - no meu caso tem 20 anos, algumas são mais antigas - nunca apareceram”.
Duas mulheres disseram à New Yorker que o produtor as estuprou, fazendo ou recebendo sexo oral e vaginal de forma forçada.
Outras quatro mulheres, que trabalharam na The Weinstein Company, empresa fundada em 2005 depois que os irmãos venderam a Miramax por uma pequena fortuna à Disney, disseram que ele se masturbou na frente delas.
No mesmo texto, o comportamento de Weinstein é definido por uma das funcionárias como “conhecido” das pessoas da indústria, que não se incomodavam com o que acontecia.
“Se ele um dia descobrir minha identidade, tenho medo que ele arruíne a minha vida”, afirmou a fonte.
Os relatos são impactantes e causaram uma onda de declarações de repúdio e polêmicas em Hollywood.
Uma delas veio de Ben Affleck, que afirmou se sentir “enojado” após saber sobre os casos mais graves, mas uma polêmica envolvendo o ator também tomou forma.
Em resposta à declaração, a atriz Hilarie Burton lembrou um caso de 2003, quando Affleck tocou seu seio nos bastidores de um programa da MTV.
O cara de pau se desculpou no Twitter:
“Eu agi de forma inapropriada com a Sra. Burton e sinceramente me desculpo”.
Outro nome famoso que entrou na polêmica é George Clooney, que disse ter ouvido rumores sobre o comportamento, mas não deu importância:
“Os rumores geralmente eram dos anos 90, de que algumas mulheres dormiram com ele para conseguir um papel. Mas isso parecia uma maneira de diminuir as mulheres, dizendo que elas não conseguiram os papéis pelo talento, então não levei esses rumores à sério”.
Em 2004, a editora do The Wrap, Sharon Waxman, afirmou que tinha começado sua carreira no New York Times e já tinha relatos sobre o comportamento abusivo do produtor.
Ela procurou Fabrizio Lombardo, que era o chefe da Miramax na Itália, e supostamente não tinha nenhum conhecimento sobre filmes.
A função dele seria cuidar das “necessidades de mulheres de Weinstein, entre outras coisas”.
Ela diz que foi pressionada para 'esquecer' a história, recebendo inclusive ligações de Matt Damon e Russell Crowe.
Com Matt Damon - Variety |
Damon deu sua versão da história para o Deadline, dizendo que não foi bem isso o que aconteceu:
“Harvey me disse ‘Sharon está fazendo uma história muito negativa sobre Fabrizio [Lombardo]. Você pode apenas ligar para ela e dizer como foi sua experiência com ele?’. Então fiz isso e foi o que disse para ela”.
São esses desdobramentos que tornam a história de Weinstein tão importante e emblemática para a indústria do cinema.
Cada denúncia traz à tona um novo caso, um novo assédio e tudo isso demonstra o quanto o mercado de Hollywood ainda é extremamente preconceituoso - e não apenas com as mulheres.
Até Terry Crews revelou em seu Twitter que também já sofreu recentemente assédio em uma festa, quando estava ao lado da esposa.
Longe de serem engraçadas, essas atitudes só mostram o quanto aqueles que estão em posição de “poder” acreditam que nunca serão atingidos.
Com Harvey Weinstein, as consequências já começaram a aparecer.
Além de ser demitido de sua empresa (alguns até dizem que os executivos já queriam sua saída há algum tempo), sua esposa Georgina Chapman pediu a separação, ele foi suspenso do conselho do BAFTA (British Academy Film Awards), teve uma doação negada por um fundo americano para ajudar mulheres cineastas e, segundo informações do TMZ, foi para uma reabilitação na Europa cuidar de seu “vício em sexo”.
Faltavam as estrelas se pronunciarem - e duas delas - Angelina Jolie e Gwyneth Paltrow - além de outras atrizes, que também disseram que foram assediadas pelo produtor.
Gwyneth disse que foi assediada aos 22 anos, quando foi contratada para fazer o filme "Emma" (1996).
Antes das filmagens, ela foi chamada à suíte do produtor em um hotel em Beverly Hills.
A atriz diz que ele colocou a mão nela e sugeriu que eles fossem ao quarto para fazer massagens.
A atriz diz que recusou o assédio e contou ao seu namorado na época, Brad Pitt, que teria confrontado o produtor e dito para que ele nunca mais tocasse nela.
Harvey pediu para que ela não contasse nada a ninguém.
"Eu achei que ele fosse me demitir", ela disse e Brad Pitt confirmou o relato ao "New York Times".
Paltrow diz que Weinstein ainda ligou e brigou com ela após ser confrontado por Pitt.
"Ele gritou comigo por muito tempo. Foi brutal".
Ela diz que teve medo de perder o papel em "Emma", e insistiu para ele que mantivesse uma atitude profissional.
"Esperavam que eu mantivesse o segredo".
Durante sua carreira desde então, Paltrow diz que Harvey alternava em relação a ela atitudes "generosas, apoiadoras e de defesa", com "bullying e punição".
Paltrow e Harvey, à sua esquerda, comemorando o Oscar em 1995, por 'Shakespeare Apaixonado' - Variety |
Já Angelina Jolie disse que Harvey a assediou em um quarto de hotel durante o lançamento do filme "Playing By Heart", no final dos anos 1990.
"Eu tive uma experiência ruim com Harvey Weinstein na minha juventude, e como resultado, escolhi nunca trabalhar com ele de novo e avisar a outras pessoas disso. Esse comportamento contra mulheres em qualquer área e em qualquer país é inaceitável" - disse Jolie.
A atriz e diretora Angelina Jolie - USA Today |
As atrizes Rosanna Arquette, Katherine Kendall, Dawn Dunning e Judith Godrèche também relatam assédios na matéria publicada pelo "New York Times".
Nas últimas horas, outras denúncias contra Weinstein foram divulgadas.
Léa Seydoux revelou que o produtor tentou beijá-la e Cara Delevingne ('Esquadrão Suicida') também falou sobre uma situação abusiva que viveu com o produtor, que havia pedido desculpas após as primeiras denúncias.
"Eu admito que o jeito que me comportei com colegas no passado causou muita dor e peço sinceras desculpas por isso. Embora eu esteja tentando melhorar, eu sei que tenho um longo caminho a percorrer", disse Weinstein em uma declaração enviada à imprensa.
Seja qual for o destino de Harvey Weinstein depois dessas acusações, o fato é que a discussão sobre o tema estimula que outros homens e mulheres falem suas histórias, mais pessoas paguem pelos atos criminosos e talvez, depois de algum tempo, a indústria cinematográfica se torne um lugar melhor para todos.
Em comunicado à Variety, a estrela Viola Davis definiu a questão:
“O predador quer o seu silêncio. Isso alimenta seu poder, seu direito e eles querem que isso se alimente da sua vergonha. Nossos corpos não são ‘espólios de guerra’, um troféu para ser colecionado e alimentar o seu ego. Ele é nosso!!! Não pertence a você!!! E quando você pega isso sem permissão, isso destrói, como um vírus. Aos predadores, Weinstein, o estranho, o parente, o namorado… eu digo para vocês: você escolhe o seu pecado, mas não escolhe as consequências. Para as vítimas: eu vejo vocês, eu acredito em vocês e estou escutando”.
Viola Davis - Getty Images |
Finalizando, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood anunciou que fará uma reunião neste fim de semana para discutir o caso de Harvey Weinstein.
Em uma declaração oficial (via Deadline), a instituição responsável pelo Oscar condenou os ocorridos:
“A Academia considera a conduta descrita nas alegações contra Harvey Weinstein repugnante, abominável, antiética para os altos padrões que a Academia e a comunidade criativa representam. O Conselho realizará uma reunião especial no sábado, 14, para discutir as alegações contra Weinstein e quaisquer ações justificáveis pela Academia”.
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