sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

'O MESTRE': O PERIGO DA LAVAGEM CEREBRAL DAS SEITAS RELIGIOSAS, FINALMENTE ESCANCARADO


O fervor religioso e o perigo dos cultos diante da fragilidade humana são os temas do novo filme do diretor Paul Thomas Anderson.

Em 'O Mestre', o corajoso cineasta penetra em um terreno perigoso e fértil, sem medo de expor o fanatismo de movimentos como a Cientologia e seu surgimento é abordado aqui de forma ficcional.

A Cientologia é uma controversa seita americana, tem entre seus adeptos nomes como Tom Cruise e John Travolta, prega o método científico como caminho para a evolução e é radicalmente contra métodos de trabalho usados por psicanalistas, psiquiatras e psicólogos.

Ambientada em 1950, em plena decadência do pós-guerra, o longa mostra personagens perdidos, perambulando dia após dia e tentando encontrar um sentido para vida, sentimento para o qual “A Causa” - nome dado aqui à seita - é a solução.

É aí que entra Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman), o mestre do título, que se auto-intitula escritor, doutor, físico nuclear, filósofo, professor e profeta.
Como líder do movimento, ele prega que os membros de seu grupo não são como os outros animais, mas sim pessoas “elevadas” – exatamente o que seu rebanho precisa ouvir.

Philip Seymour Hoffman como Lancaster Dodd, em cena de 'O Mestre' - fotos dessa postagem: Divulgação /Paris Filmes

Dodd, interpretado de forma magnífica por Hoffman, claramente inspirado no romancista e fundador da Cientologia, L. Ron Hubbard, é um líder espiritual carismático, charlatão, que realmente acredita em um mundo melhor, desde que gire em torno de si.

Mas o verdadeiro protagonista da trama é Freddie Quell (Joaquin Phoenix), revoltado veterano da Segunda Guerra Mundial, viciado em sexo, que vaga pelos Estados Unidos sem achar seu lugar no mundo.

Phoenix está magérrimo e sua aparência debilitada reforça a atuação explosiva e intensa – não à toa o soberbo ator, que volta às telonas nesse filme, depois de um hiato de anos, está faturando indicações e prêmios ao redor do mundo.

Joaquin Phoenix, como Freddie Quell, em cena de 'O Mestre'

O mesmo vale para Hoffman e, juntos, os dois explodem a telona, alternando momentos de ternura e amizade com discussões calorosas - enquanto um tenta exercer poder, o outro mostra resistência até o fim.

A relação conturbada dura anos e o desapontamento é mútuo, mas a amizade é abalada de vez por Peggy Dodd (Amy Adams), esposa de Lancaster e única mulher a não assumir um papel submisso na organização.

Muitas vezes, parece ser ela quem dá as ordens ali, nunca gostou da atitude de Freddie e toma as rédeas mais de uma vez para manter o controle de sua comunidade, perplexa diante da relação de mestre e discípulo.

Amy Adams como Peggy Dodd, em cena do longa

Anderson é um artífice requintado, e embora o longa não tenha cenas marcantes - como a chuva de sapos de 'Magnólia' - apresenta a mesma relação de amor e ódio que o diretor adora explorar, como o do padre e do assassino em 'Sangue Negro'.

Aqui, a sede por petróleo de Daniel Day-Lewis é substituída pela busca dos protagonistas por amor, poder e controle.

Extremamente provocante, o longa apresenta uma incrível atmosfera do período, principalmente à captura das imagens em 65 mm - formato que não é utilizado desde o final do século 20 e que garante uma imagem maior, com mais detalhes e clareza.
A bela fotografia é crucial para o impacto emocional, pois escancara o sentimento e o peso a cada cena.

Mesmo sem mostrar respostas, o longa é um drama intimista e envolvente, que não funcionaria sem a entrega, tanto dos personagens às suas crenças e loucuras quanto dos atores aos seus papeis.

Hoffman e Phoenix, em cena do longa

Sem medo de criar uma discussão filosófica, o longa pode deixar muita gente incomodada - evangélicos brasileiros inclusos - pois seu final é incapaz de fazer frente à carga emocional construída ao longo de suas duas horas.

Aqui, o que importa é a jornada e não a grandiosidade de seu desfecho.

No ano passado, 'O Mestre' levou o Leão de Prata de Melhor Direção e a Coppa Volpi de Melhor Ator - dividido entre Joaquin Phoenix e Philip Seymour Hoffman - no Festival de Veneza.

Em 2013, o longa foi indicado ao Oscar de Melhor Ator (Joaquin Phoenix), Ator Coadjuvante (Philip Seymour Hoffman) e Atriz Coadjuvante (Amy Adams), e já concorreu, mas mesmas categorias, ao Globo de Ouro e ao SAG Awards.

Filmaço.

Confira o trailer do filme:


*****
'O MESTRE'
Título Original:
The Master
Diretor:
Paul Thomas Anderson
Elenco:
Amy Adams, Philip Seymour Hoffman, Joaquin Phoenix, Laura Dern, Jesse Plemons, Rami Malek, Jillian Bell, Kevin J. O'Connor, W. Earl Brown, Lena Endre, Fiona Dourif, Ambyr Childers, Joshua Close, Darren Le Gallo, Madisen Beaty
Produção:
Paul Thomas Anderson, Megan Ellison, Daniel Lupi, JoAnne Sellar
Roteiro:
Paul Thomas Anderson
Fotografia:
Mihai Malaimare Jr.
Trilha Sonora:
Jonny Greenwood
Duração:
138 min.
Ano:
2012
País:
EUA
Gênero:
Drama
Cor:
Colorido
Distribuidora:
Paris Filmes
Estúdio:
Annapurna Pictures / Ghoulardi Film Company
Classificação:
14 anos
Cotação do Klau:

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