sábado, 5 de dezembro de 2015

MARÍLIA PÊRA: O BRASIL PERDEU HOJE UMA DE SUAS MAIORES DIVAS


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Uma das maiores Divas do Brasil morreu hoje de manhã, aos 72 anos
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Fui apresentado ao talento de Marília Pêra já tarde - nos anos 1970, na novela da Globo 'Uma Rosa com Amor', onde ela fazia par romântico com o saudoso Paulo Goulart.

Depois, tive o prazer de ver seus principais trabalhos na telinha - 'O Cafona', 'O Primo Basílio', 'Brega & Chique' - e também no teatro, onde me diverti com 'Apareceu a Margarida', me emocionei com 'Mademoiselle Chanel' e cantei junto em 'Victor ou Victória?'.

Em cena de 'Victor ou Victória'
Marília sempre exaltava que seu manequim ainda era o mesmo de quando ela tinha 20 anos - e eu achava isso meio estranho, pois achava que ela sempre me parecia subnutrida.

Quando ela se afastou da série 'Pé na Cova', seu último trabalho na TV, para tratar de um 'problema ósseo', acreditei mesmo que fosse isso - bailarinas sempre tem desgaste nos ossos, principalmente no colo do fêmur, como disseram que era o problema de saúde dela.

Na semana passada, porém, começaram a pipocar notas de que ela tinha um câncer há tempos e que seu estado de saúde, já debilitado, tornara-se irreversível.

Hoje, logo nas primeiras horas da manhã, a notícia da sua morte, aos 72 anos, não só me deixou triste, como, acredito, a maior parte dos brasileiros que a veneravam como a grande Diva que ela sempre foi.

Contracenando com Miguel Fallabella, em cena de 'Pé na Cova' 
Afinal, Marília era uma das artistas mais completas do Brasil: além de interpretar, era cantora, bailarina, diretora, produtora e coreógrafa.

Trabalhou em mais de 50 peças, quase 30 filmes e cerca de 40 novelas, minisséries e programas de televisão.

Sua amizade com Miguel Fallabella extrapolava os palcos e os estúdios - tanto que um dos últimos trabalhos da atriz foi sua participação justamente em "Pé na Cova', onde interpretava a personagem Darlene, uma maquiadora de cadáveres, outro papel escrito especialmente para ela por Fallabella.

Marília Soares Pêra nasceu em 22 de janeiro de 1943, no bairro do Rio Comprido, no Rio, numa família de artistas - seus avós, seu pai e sua mãe eram atores de teatro dos bons.

Sua primeira entrada em cena aconteceu quando ainda era bebê, fazendo figuração numa peça, informa seu perfil no 'Memória Globo'.

Aos quatro anos de idade, ela atuou com os pais no espetáculo “Medeia” - sua irmã mais nova, Sandra Pêra, também é atriz e cantora e foi uma das 'Frenéticas' da formação original.

Entre os 14 e os 21 anos, Marília atuou como bailarina em musicais.

Quando tinha 18, viajou por Brasil e Portugal com a peça “Society em Baby-Doll”.

Outro destaque foi “Como vencer na Vida Sem Fazer Força”, trabalhando ao lado de Procópio Ferreira, Moacyr Franco e Berta Loran.

Em 1965, Marília foi contratada pelo diretor Abdon Torres para integrar o elenco inicial da TV Globo - nessa época, fez o papel principal das novelas “Rosinha do sobrado”, “Padre Tião” e “A Moreninha”.

Em cena da novela “Rosinha do sobrado”
Após um período fora da TV Globo, no qual atuou em “Beto Rockfeller” (1968), da TV Tupi, ela foi convidada a voltar por Daniel Filho, em 1971.

Volta triunfal, pois a personagem era Shirley Sexy em “O cafona”, onde arrebentou ao lado de Francisco Cuoco e a fez ficar conhecida em todo o Brasil.

Na sequência, vieram “Bandeira 2” (1971-72) e “Supermanoela” (1974).

A partir daí, afastou-se das novelas por oito anos, até aparecer em “O campeão” (1982), exibida pela TV Bandeirantes.

Com Francisco Cuoco, em 'O Cafona'

O retorno às novelas da Globo aconteceu apenas em “Brega & Chique” (1987): na pele de Rafaela, fez bastante sucesso por sua parceria com Marco Nanini.

Anos depois, Marília diria que essa foi a novela que mais gostou de fazer - ela voltaria a interpretar Rafaela no remake de “Ti-Ti-Ti” (2011), escrito por Maria Adelaide Amaral.

Como Rafaela, em 'Brega & Chique'
Entre os trabalhos favoritos na TV, no entanto, Marília escolhia duas minisséries: “O primo Basílio” (1988), em que interpretou a vilã Juliana, e “Os Maias” (2001), em que interpretou Maria Monforte.

Na minissérie “JK", fez a ex-primeira dama do Brasil Sarah Kubitschek.

Já na década de 1990, Marília atuou nas novelas “Lua cheia de amor” (1991) e “Meu bem querer” (1998).

Outros trabalhos mais recentes foram em “Começar de novo” (2004); “Cobras & Lagartos” (2006), como a falida, mas ambiciosa, Milu e “Duas caras” (2007), como a alienada Gioconda.

Como Juliana, em 'O Primo Basílio'
Antes de “Pé na Cova”, a amizade com Miguel Fallabella já havia rendido papéis no seriado “A vida alheia” (2010), no filme “Polaroides urbanos” (2008) e na novela “Aquele beijo” (2011), todos papéis escritos por ele especialmente para ela.

Ao longo de uma carreira que durou praticamente toda sua vida, Marília Pêra destacou-se ainda no cinema.

Marília com o grande amigo e parceiro Miguel Fallabella
Estrelou filmes como “Pixote, a lei do mais fraco” (1980), “Bar Esperança” (1983), “Tieta do agreste” (1995), “Central do Brasil” (1996) e “O viajante” (1998) - em sua homenagem, a Globo exibe hoje 'Central do Brasil', após o 'Altas Horas'.


No teatro, ganhou duas vezes o Prêmio Molière: em 1974, por “Apareceu a Margarida”, e em 1984, por “Brincando em cima daquilo”.

Como diretora, esteve por trás de uma das peças de maior sucesso do país, a comédia 'O Mistério de Irma Vap': estrelada por Ney Latorraca e Marco Nanini, a peça esteve em cartaz por mais de 10 anos ininterruptos.

Em cena de 'Apareceu a Margarida'
Nos palcos, Marília interpretou Carmen Miranda em diversas ocasiões“O Teu Cabelo não Nega” (1963), “A Pequena Notável” (1966), “A Tribute to Carmen Miranda” (1975), apresentada em Nova York, “A Pêra da Carmem” (1986 e 1995) e “Marília Pêra canta Carmen Miranda” (2005).

Uma de suas diversas personificações de Carmen Miranda
Outras estrelas vividas por Marília foram Dalva de Oliveira, no musical “A estrela Dalva” (1987); Maria Callas, na peça “Master Class” (1996) e a estilista Coco Chanel, na peça “Mademoiselle Chanel” (2004).

Em cena de 'Mademoiselle Chanel'
Marília Pêra morreu às 6h deste sábado (5), no Rio, aos 72 anos e só hoje, soubemos que ela lutava contra um câncer de pulmão havia 2 anos.

Ela morreu em casa, ao lado da família - deixa os filhos Ricardo Graça Mello ( do seu casamento com o produtor musical Guto Graça Mello), Esperança Motta e Nina Morena (do seu casamento com o diretor, escritor e produtor musical Nelson Motta) e o atual marido, Bruno Faria.

Marília entre as filhas esperança e Nina
Por volta das 14h30, o corpo da Diva chegou à na sala que leva seu nome, do Teatro Leblon, na Zona Sul do Rio.

O velório, inicialmente fechado para amigos e parentes , foi aberto ao público às 15h30.

O enterro está marcado para às 16h, no Cemitério São João Batista, em Botafogo.

Corpo de Marília Pêra é velado no Teatro do Leblon (Foto: Cristina Boeckel/G1)
Corpo de Marília é velado no palco do Teatro Leblon - Cristina Boekel/G1

CONFIRA A LINHA DO TEMPO DE MARÍLIA PÊRA:


REPERCUSSÃO DA SUA MORTE:

Nicete Bruno, atriz, na GloboNews:
"Perde-se uma estrela da maior grandeza.
Marília desde muito jovem sempre demonstrou esse talento incrível. Eu particularmente tive a oportunidade de conhecê-la ainda quando menina porque trabalhei com a avó dela, depois com a mãe. (...) O país perde o contato com essa grande estrela que nós tínhamos e continuaremos a ter. Porque para mim a morte não existe. Ela apenas está mudando de ciclo. É difícil numa carreira como a da Marília você dizer o que foi mais importante, o que teve maior brilho. Porque todos, e é raríssimo acontecer isso com uma mulher de teatro, os trabalhos dela foram extraordinários. (...) Era uma atriz completa. Tanto no drama quanto na comédia, no musical, Marília estava sempre brilhando. Ela cumpriu lindamente essa trajetória artística. E é isso que o Brasil vai sentir falta. Vamos ficar com essa lembrança para podermos preencher a nossa saudade de Marília Pêra."

Tony Ramos, ator, na GloboNews:
"A coisa mais impressionante dela era a fidalguia, a nobreza de postura, a delicadeza e o enorme bom humor associado a um enorme estado de atenção como atriz. Ela estava sempre atenta a tudo. (...) Eu fui vendo cada vez mais esse talento que se renovava, esse talento inquieto no teatro, nos musicais. Indo a Portugal fazer textos dificílimos. O sucesso dela sempre foi constante, absoluto, e mais do que isso, com respeito de crítica e do grande público brasileiro. Então se a gente falar em legado, vai ficar sempre essa imagem da múltipla artista que de fato ela era."

Presidente Dilma Rousseff, no Twitter:
"Recebi com tristeza a notícia da morte de Marília Pêra, uma das artistas mais talentosas do País, que dedicou sua vida à arte. Além de interpretar, Marília cantava, dançava, dirigia e produzia, sempre encantando os brasileiros, na televisão, no cinema e no teatro. Aos amigos, familiares e ao Brasil, meus sentimentos pela perda desta grande atriz."

Cláudia Raia, atriz, na GloboNews:
"Estamos órfãos da nossa mãe do teatro. Da mulher que fez tanto pelo teatro musical, tantos espetaculares personagens, projetos. Pra mim ela era uma referência. Eu tinha uma relação ótima com ela. Ela era muitíssimo respeitosa comigo, assistia a todos os meus espetáculos, e eu os dela, claro, para aprender e me deliciar com o talento dela. O último momento que tivemos juntas foi há umaS duas semanas. Ela queria assistir o Raia 30, meu espetáculo em cartaz, mas estava impossibilitada, em cadeira de rodas. E eu liguei para ela dizendo que quando ela quisesse ver, eu apagava todas as luzes, colocava ela dentro do teatro, sem que ela ficasse exposta. E ela ficou tão feliz. (...) Eu adoro a Marília. Estou dilacerada. Porque tudo que eu fiz em musical foi baseado no trabalho dela. Ela me inspirou uma vida inteira."

Jorge Fernando, diretor, na GloboNews:
"Quando acontece um escândalo como esse a gente tem que parar para aprender a viver. A gente é muito burro espiritualmente, a gente não tem a elevação de celebrar a vida. Marília é eterna, é única. O que eu aprendi naquele 1 ano e meio que eu fiz a Dalva com ela. Eu dirigia ela no 'Brega & Chique' e à noite ela fazia a Estrela Dalva. Era além de atriz. Era divino. Tinha uma luz, uma elegância. Isso fica pra sempre. E a gente tem que aprender que todos nós vamos nesse caminho. E a gente acha que é eterno. Você é uma das minhas mestras. Uma das minhas pessoas que Deus escolheu para ser especial."

Gal Costa, cantora, no Twitter:
"R.I.P. Marília Pêra saudades amiga. Vá em paz! Muita paz e luz."

Camila Pitanga, atriz, no Instagram:
"Marília Pêra. Ela protagonizou inúmeras cenas antológicas do teatro e do cinema brasileiro. Destaco essa do filme Pixote. Sinto um soco no estômago com essa perda. Minha solidariedade com os familiares e amigos próximos."

Artur Xexéo, jornalista, na GloboNews:
"72 anos dedicados à arte de representar, e que ela tinha muito ainda para fazer. Ela tinha um tempo para comédia, uma ironia com o texto, uma maneira de criticar o texto, ou de aderir, de aceitar, que nenhuma outra atriz tinha. Isso aparece muito no 'Brega & Chique'. (...) A Marília tinha um registro que a gente não encontra com facilidade por aí. Tinha muita influência da chanchada. Ao mesmo tempo, tinha uma sofisticação ao interpretar que os próprios criadores da chanchada não tinham. Era uma atriz muito especial. Não tenho dúvida de que ela era uma das maiores atrizes do mundo. E o mundo percebeu isso quando ela fez 'Pixote', que foi um filme que circulou pelo planeta e ela ganhou prêmios em tudo quanto é lugar".

Serginho Groisman, apresentador, no Twitter:
"Com muita tristeza soube da morte de Marília Pêra. A arte chora mas agradece tua brilhante passagem."

Marcelo Serrado, ator, no Twitter:
"Amava Marília, me dirigiu numa peça e era minha amiga! Arrasado."
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Fotos dessa Postagem:
G1, GShow, Extra, UOL, Memória Globo, Twitter, TV Globo

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