segunda-feira, 23 de junho de 2014

'BATMAN': FILME DE TIM BURTON QUE RESGATOU PERSONAGEM PARA O CINEMA COMPLETA 25 ANOS


Em 1978, 'Superman: O Filme', dirigido por Richard Donner, foi um grande sucesso e durante anos, permaneceu como a melhor adaptação de quadrinhos para o cinema.

Mas o êxito inicial também se transformou quase que em mico, com as sequências que vieram nos anos seguintes, onde tudo o que era bom no longa de estreia ficou ruim na parte 2,  péssimo nas partes 3 e 4 e desacreditou totalmente os filmes inspirados em HQs.

Ainda bem que a Warner/DC tinha uma senhora carta na manga para resgatar a credibilidade dos super-heróis nas telonas e foi assim que surgiu  'Batman', longa dirigido pelo ainda desconhecido Tim Burton.

Lançado nos Estados Unidos em 23 de junho de 1989, quando o herói completava 50 anos, 'Batman' completa 25 anos hoje cercado de grandes números e até polêmicas entre os fãs, pois ainda há aqueles que gostam da produção incondicionalmente e outros que acreditam que Tim Burton não poderia ter dirigido e que Michael Keaton não poderia ter ficado com o papel principal.

O filme é histórico por ter detonado a chamada 'Segunda Bat Mania' no mundo - a primeira foi em 1966, com o lançamento da bat série estrelada por Adam West e Burt Ward, dupla que estrelou inclusive o primeiro longa para as telonas, também chamado 'Batman' e produzido entre a primeira e segunda temporadas da série.

'Batman' chegou aos cinemas em 1989, mas já se tentava um novo filme do Homem-Morcego há, pelo menos, dez anos.

O símbolo do Batman, no logo oficial do filme - Fotos dessa postagem: Divulgação/Warner Bros

Inicialmente os direitos de filmagem foram comprados pelos produtores Michael Uslam e Benjamin Melniker, os mesmos da adaptação de 'Monstro do Pântano'.

No fim das contas, ambos acabaram creditados como produtores executivos, mas quem levou a obra adiante foram os mega produtores Jon Peters e Peter Guber - o motivo para tamanha demora é que, segundo Guber disse à época, “havia muitas versões de roteiros escritos e muitos bons diretores envolvidos. Aí, houve um momento em que Jon e eu vimos Tim Burton, sua criatividade e o projeto começou a tomar forma”.

O que colocou Tim Burton no projeto, sem dúvida, foi o sucesso de 'Os Fantasmas se Divertem' (1988): o filme 'terrir' - terror com humor negro - com Michael Keaton como protagonista foi bem nas bilheterias mas não foi só por isso que chamou a atenção, pois seu jovem diretor, um semi desconhecido para o grande público, mostrou originalidade, segurança e um estilo bem próprio.

Até então, Burton tinha este e apenas mais um longa na carreira - 'As Grandes Aventuras de Pee-Wee' (1985) e 'Batman' foi seu próximo trabalho após 'Os Fantasmas se Divertem'.

O roteiro para a volta do Morcego ás telonas foi escrito por Sam Hamm - sob a supervisão de Burton - e o tom do filme seria bem diferente daquela imagem que muita gente tinha do Batman, a da cult série dos 60 que era totalmente voltada para a sátira e humor.

Desde o início dos 70, o herói já era mostrado nas HQs como um ser sombrio, enigmático, soturno e mostrando seu lado detetivesco, graças às HQs escritas por Dennis O`Neil e com arte de Neal Adams, que resgataram o herói e seu estilo dark bem próprios de seu surgimento no mundo dos quadrinhos, em 1939 e parte dos anos 40.

Este jeitão sombrio se acentuou ainda mais com 'Cavaleiro das Trevas', minissérie em quatro partes escrita e desenhada por Frank Miller e que é um dos marcos do gênero e embora o filme de 1989 não seja uma adaptação do clássico de Miller, há uma certa inspiração nesta obra - também é possível notar alguns elementos de 'A Piada Mortal', de Alan Moore, outra excelente HQ do Homem-Morcego dos anos 80.

O projeto, porém, não foi tranquilo para Tim Burton e Sam Hamm e o que se vê no filme pronto são alguns momentos bem complicados e outros que não fazem lá muito sentido.

Por exemplo: por que Bruce Wayne (Michael Keaton), pouco tempo depois de iniciar sua carreira como o Batman, revela toda a verdade para a repórter Vicki Vale (Kim Basinger)?

Michael Keaton e Kim Basinger, em cena do longa

Também dá para reclamar da falta de cenas de ação, mas devemos sempre lembrar que nem tudo que se viu na telona foi exatamente culpa de Burton ou de Hamm, pois o resultado final teve muita interferência dos executivos da Warner, que tentaram até enfiar Robin no roteiro - coisa que Burton conseguiu impedir.

Pior: Hamm não chegou a terminar seu trabalho, já que houve uma greve de roteiristas em 1988, o que fez com que outros o terminassem.

Até hoje o elenco principal do longa gera discussões entre os fãs.

Tem gente que simplesmente detesta a escolha de Michael Keaton para interpretar Bruce Wayne/Batman, pois, aparentemente, o ator não tem muito a ver com o empresário-playboy que conhecemos dos quadrinhos: baixinho, já com cabelo de menos e sem porte atlético, Keaton gerou muita desconfiança, já que ninguém imaginava como é que ele iria conseguir ser o Homem-Morcego daquele jeito.

A questão foi resolvida, em parte, pela armadura criada como uniforme, que deixou o ator mais alto e bem imponente em frente as câmeras - armaduras que a partir de então sempre fizeram parte do visual do heróis nas telonas, mesmo sendo interpretador por atores malhados em cena (como Christian Bale) e que, felizmente, sumiram com o visual criado agora para Ben Affleck em 'Batman v Superman', onde o herói voltará a usar uma malha justa que deixa seus músculos à mostra.

A maquiagem também ajudou: como Batman, Keaton usou um queixo falso, mais quadrado que o seu, dando ao rosto do herói uma agressividade masculina.

Mesmo assim e apesar do descrédito, Keaton é conhecido até hoje por ser um grande ator e acabou por fazer um bom trabalho, mesmo não tendo aquele ar heroico que veríamos em outros longas do Batman anos mais tarde.

Michael Keaton e Jack Nicholson, em foto promocional do longa

O outro grande personagem do filme, o Coringa, foi vivido por Jack Nicholson, que teve uma atuação muito elogiada por fãs e vários críticos.

Com um jeito debochado e muito humor negro, Nicholson roubou as atenções e na época, se ele foi praticamente uma unanimidade no papel do vilão, hoje a coisa já não é bem assim pois, depois de Heath Ledger mostrar ao mundo o seu Coringa psicótico em 'Batman: O Cavaleiro das Trevas', muita gente passou a menosprezar a atuação de Nicholson - o que é uma bobagem sem tamanho.

Michael Keaton e Jack Nicholson, em foto promocional do longa

Aliás, um dos responsáveis por Jack Nicholson estar no elenco foi justamente Bob Kane, criador do Homem-Morcego, que durante anos pediu para os produtores colocarem o ator como Coringa no longa.

Nicholson começou as filmagens meio no piloto automático, apesar do cachê de U$ 5 milhões já depositado na sua conta.

Só que, com o passar dos dias, percebeu que estava sentado uma mina de ouro e, então, convocou seu agente, que convocou o pessoal da Warner para renegociarem seu contrato.

Nicholson passou, então, para um cachê de U$ 8 milhões, mais participação em todos os produtos - bonecos, chaveiros e etc - que fossem feitos com a imagem do seu Coringa e o resultado é que o ator embolsou mais de US$ 82 milhões, o maior lucro que um ator já teve com um papel em todos os tempos, jamais igualado até hoje.

Michael Keaton e Jack Nicholson, em foto promocional do longa

O projeto foi uma superprodução para a época e a única grande atração do elenco era mesmo Jack Nicholson, pois os demais atores eram semi desconhecidos, inclusive Michael Keaton, que só tinha 'Os Fantasmas se Divertem' como maior destaque - e isso não quer dizer que fossem maus atores, apenas que a opção foi por ter um elenco mais barato para gastar em outras coisas, como efeitos especiais e cenários, por exemplo.

Michael Gough já era um conhecido ator inglês dos filmes de terror da Hammer quando interpretou o mordomo Alfred

A Gotham City que se vê nas telas, por exemplo, é sensacional: os gigantescos sets da cidade, criados por Anton Furst, foram construídos no Pinewood Studios - enorme complexo nos arredores de Londres, criados nos anos 60 justamente para que os gigantescos cenários da 'saga 007' pudessem se tornar realidade.

Na época, Furst declarou que a ideia era ter algo como se Nova York tivesse dado completamente errado e os prédios altíssimos impedissem a entrada de luz na cidade, tudo num estilo gótico, sujo, decadente e pouco amistoso - ou seja: um lugar em que Batman poderia realmente viver.

A trama do longa não mostra a origem do Homem-Morcego e seu surgimento, com o assassinato de seus pais, é mostrado em flashback.

O mesmo não acontece com o Coringa, que conhecemos ainda quando ele era Jack Napier, braço direito do chefe do submundo de Gotham, Carl Grissom (Jack Palance): tentando passar o chefe pra trás, ele sobre uma emboscada e cai num tanque numa fábrica de produtos químicos, ficando com a pela branca , cabelos verdes e face destruída.

Jack Palance como Grissom e Jack Micholson como Jack Napier, em cena do longa

Tentando arrumar sua face desfigurada pelo ácido, o carniceiro que o opera deixa nela um sorriso permanente - nasce aí o Coringa, que mata Grissom e assume seus negócios, tocando o terror na cidade.

O que vemos são os primeiros dias do herói em sua luta contra o crime, com Bruce Wayne decidindo entrar em ação principalmente porque Gotham está um caos: a polícia é totalmente corrupta e o chefão Grissom tem a cidade em suas mãos.

Diferentemente das HQs, o filme mostra que Jack Napier, o Coringa, é o assassino dos pais de Bruce, o que faz uma ligação forte entre os dois personagens.

Daí para frente, o que vemos é o Homem-Morcego batendo de frente com o vilão e lutando com todas as suas forças para acabar com os planos do inimigo até o clímax das cenas finais, no topo da catedral de Gotham, onde Batman e Coringa partem para um sensacional 'mano a mano', que termina com a morte do vilão, que despenda das alturas para a morte.

No longa, os principais bat gadgets além da armadura, são uma Batcaverna 'high-tec', um Batmóvel repleto de truques e uma sensacional 'BatWing', que o Coringa consegue derrubar com um único tiro de revólver - ainda bem que na quadrinização do longa, é explicado que o revólver, de cano muito longo era especial e que a bala era na verdade um pequeno míssil terra-ar...

Primeira foto divulgada da produção mostrou ao mundo o visual do Batman e do Batmóvel

O elenco principal é completado por Robert Wuhl como Alexander Knox, Pat Hingle no papel de Comissário Gordon, Billy Dee Williams interpreta Harvey Dent, Michael Gough vive Alfred e Jerry Hall aparece como Alicia Hunt.

O filme teve um orçamento em torno de US$ 40 milhões (sem contar marketing), o que o colocava mesmo como uma superprodução de Hollywood para a época - para comparar, 'Indiana Jones e a Última Cruzada', terceiro longa do arqueólogo, lançado no mesmo ano pela Universal Pictures, custou US$ 48 milhões.

Investir essa grana toda num super-herói dos quadrinhos não deixou de ser algo arriscado, já que personagens das HQs não estavam em alta na época e não havia nada que garantisse o retorno.

Primeira aparição do Batmóvel no longa acontece na sequência da fuga de Batman e Vicki Vale do Museu de Gotham

Mas, mesmo assim, a Warner Bros resolveu apostar alto e mesmo sem certeza do retorno, fez valer o investimento e para isso, montou uma sensacional campanha de marketing.

Meses antes do lançamento do filme, a marca do Homem-Morcego estava espalhada pelo mundo todo: o morcego negro dentro da insígnia amarela podia ser visto em adesivos de carros, bancas de revistas, lojas de brinquedos, álbum de figurinhas e mais uma infinidade de produtos e numa época ainda sem internet, os já alucinados batfãs se viravam para ver trailers nas TVs e até em outros filmes no cinema.

No Brasil, o programa 'Metrópolis', da TV Cultura, anunciou com um certo alarde que exibiria o trailer - o que fez muitos fãs sintonizarem o canal - e eu mesmo, seguindo o que milhares já haviam feito, fui diversas vezes ao cinema, paguei o ingresso, assisti ao trailer e não fiquei para ver o filme!

Confira o trailer histórico:


O marketing agressivo da Warner também invadiu as rádios e a MTV: Prince - já em baixa - foi chamado para fazer a trilha sonora e lançou um álbum com o mesmo título do filme, também em 1989, que revitalizou sua carreira.

Tudo foi gravado entre fevereiro e março daquele ano, algumas das canções - principalmente 'Batdance' - foram bastante executadas nas rádios e na TV e o álbum vendeu bastante, ficando durante seis semanas como o mais vendido na parada da Billboard.

Confira o clipe de 'Batdance':


A campanha agressiva também pode ser considerada histórica, já que mudou para sempre a maneira de se promover um blockbuster: só de produtos licenciados o longa arrecadou US$ 750 milhões, quase o dobro do que o longa fez nas bilheterias e o mais sensacional disso é que a maior parte desta grana foi gerada antes do filme sequer estrear, tamanha era a ansiedade das pessoas para ver o herói nas telas.

Com isso, o longa pagou seus custos de produção no primeiro fim de semana de exibição, quando arrecadou US$ 40.4 milhões, um verdadeiro fenômeno.

O resultado deste trabalho de marketing pode ser visto nas bilheterias: 'Batman' arrecadou cerca de US$ 411 milhões no mundo todo, um feito e tanto para a época e algo que mostrou que coisas muito boas poderiam vir das páginas dos quadrinhos.

Apesar das polêmicas, o trabalho do diretor rendeu muitos frutos no futuro e o mais óbvio, claro, foi a continuação 'Batman: O Retorno' (1992), onde Burton teve carta branca da Warner e sem interferências no seu trabalho, fez o que para mim é, até agora, o melhor longa do Batman de todos os tempos.

O 'Batman' de 1989 é considerado hoje um relançamento dos super-heróis nas telonas, algo que acabou sendo radicalizado no ano 2000, quando os X-Men, de Bryan Singer, entraram em cena.

É verdade que a história do herói nas telas desandou nos anos seguintes, especialmente com os dois longas dirigidos por Joel Schumacher, mas mesmo os dois fracassos conseguiram ensinar aos grandes estúdios como não tratar um super-herói nos cinemas.

Felizmente, a mesma Warner promoveu o resgate cinematográfico do Homem-Morcego em 2005, com 'Batman Begins', primeiro da trilogia dirigida por Chris Nolan.

O longa só estreou no Brasil em 26 de outubro de 1989 e eu, que na época trabalhava viajando, corri para visitar clientes pela manhã em Campos do Jordão para, à tarde, já estar livre num Shopping da vizinha São José dos Campos, onde vi três sessões de uma tacada só.

Filmaço, que já tive em VHS, DVD e agora, bluray.

'BATMAN'
Título Original:
Batman
Gênero:
Fantasia , Suspense , Ação
Direção:
Tim Burton
Elenco: 
Jack Nicholson, Michael Keaton, Kim Bassinger, Michael Gough, Billy Dee Williams, Robert Wuhl, Pat Hingle, Jack Palance, Jerry Hall, Tracey Walter, William Hootkins
Roteiro:
Sam Hamm, Tim Burton
Produção:
Jon Peters, Peter Guber
Direção de Arte e concepção do uniforme, Batmóvel e BatWing:
Anton Furst
Trilha Sonora:
Danny Elfman, Prince
País:
Eua, Reino Unido
Cor:
Colorido
Duração:
2h05min
Estúdio:
PolyGram Filmed Entertainment, Warner Bros.
Distribuição:
Warner Bros.
Estreia nos EUA:
23 de junho de 1989
Estreia no Brasil:
26 de outubro de 1989
Cotação do Klau:

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