quarta-feira, 6 de novembro de 2013

JORGE DÓRIA, UM DOS MAIS COMPLETOS ATORES BRASILEIROS DE TODOS OS TEMPOS


Jorge Dória nasceu Jorge Pires Ferreira, no bairro carioca de Vila Isabel, há 92 anos.

Iniciou na carreira artística na década de 1940, quando abandonou seu único emprego estável para estrear na arte do bem representar nos palcos, na companhia de Eva Todor e Luis Iglesias, onde ficou por 10 anos.

Dória nos anos 40 - Reprodução

Em 1974, viveu no teatro o papel em que sempre será lembrado: o homossexual George na primeira montagem da comédia "A Gaiola das Loucas", de Jean Poiret, com adaptação e direção de João Bethencourt e tendo como companheiro de palco outro grande ator, Carvalhinho.

O espetáculo fez um estrondoso sucesso e ficou muitos anos em cartaz.

Dória percorreu todo o Brasil e ainda retornaria ao papel, numa montagem em 1995.

Em 1995, Jorge Dória, Erika Haidar e Carvalhinho encenaram o espetáculo "A Gaiola das Loucas" - Divulgação

Dória também atuou em outros espetáculos de sucesso, como ’O Avarento', ‘Escola de Mulheres’, ’A Presidenta', ‘A Morte do Caixeiro Viajante’, entre outros.

Em cena do espetáculo "O Avarento", de Moliere (2002)- Janete Longo/Folhapress

No cinema, debutou como coadjuvante no melodrama "Mãe" (1947), do radialista Teófilo de Barros.

Logo depois, o estúdio Atlântida o contratou para o melodrama antirracista "Também Somos Irmãos" (1950) e o policial "Maior que o Ódio" (1951), ambos de José Carlos Burle.

Em 1962, apareceu em um dos seus principais papéis nas telonas: um delegado no premiado "Assalto ao Trem Pagador", de Roberto Faria.
Pela interpretação soberba, levou o Prêmio Saci de melhor ator coadjuvante.

Fã de filmes policiais americanos e sem nunca escrever para o teatro, criou o argumento e colaborou no roteiro de dois filmes do gênero: "Amei um Bicheiro" (1952), de Jorge Ileli e Paulo Wanderlei; e "Mulheres e Milhões" (1961), também de Ileli.

Colaborou também para o argumento de "Absolutamente Certo" (1957), de Anselmo Duarte  e de outros 11 filmes.

Nos 70, atuou em vários filmes do gênero pornochanchada - "Como é Boa a Nossa Empregada" (1973), "Oh, que Delícia de Patrão!" (1974) e "Com as Calças na Mão" (1975) são os de maior sucesso.

Ainda nas telonas, brilhou em ‘Maior que o Ódio’, ‘O Beijo’, ‘Minha Namorada’, ‘Bonga, o Vagabundo’, 'A Dama do Lotação' e ‘Perdoa-me por me Traíres’.

Dória em cena do longa "Traição (1998), com Fernanda Montenegro e Fernanda Torres - Carolina Fernandes/Folha Imagem

Mas foi nas telinhas que Dória virou unanimidade nacional - mesmo estreando tarde, já em 1970, na extinta TV Tupi, no elenco da novela "E Nós, Aonde Vamos?", da cubana Glória Magadan.

Foi para a Globo em 1973, onde participou da primeira versão do seriado "A Grande Família", em que fez o papel do patriarca Lineu - interpretado por Marco Nanini na atual versão.

Como Lineu, ao lado de Heloísa Mafalda como Nenê em 'A Grande Família' - Divulgação/TV Globo

Sua primeira novela na emissora dos Marinho foi "O Noviço", em 1975, adaptação de Mário Lago para a peça homônima de Martins Pena.

Depois de um breve período em que retornou à  TV Tupi - onde  arrebentou na novela “Aritana”, de Ivani Ribeiro - voltou à Globo em 1978, para protagonizar "O Pulo do Gato".

Dória como Bubby Mariano na novela "O Pulo do Gato", escrita por Bráulio Pedroso - Divulgação/TV Globo

Ainda em 1978 e no ano seguinte, estrelou duas novelas na Band: ‘O Todo Poderoso’ e ‘Cavalo Amarelo’.

Jorge Dória ainda emprestou seu carisma e talento em "Tieta", "Deus nos Acuda", "Meu Bem, Meu Mal", "Era Uma Vez", "Suave Veneno", ‘Champagne’.

Como Emílio Castro, em cena de "Meu bem, Meu Mal" (1990) - Divulgação/TV Globo

Arrebentou como o milionário golpista Herbert Alvaray em ‘Brega & Chique’, como o terrível conselheiro real Vanoli Berval em 'Que Rei Sou Eu?' e o implicante aposentado Emílio Castro em ‘Meu Bem, Meu Mal’ - todas do autor Cassiano Gabus Mendes.

Dória como o terrível conselheiro real Vanoli Berval na novela "Que Rei Sou Eu?", em 1989 - Geraldo Modesto/TV Globo

Sua última participação na televisão foi em "Zorra Total", no início dos anos 2000, onde, generoso,  ajudou a consolidar a carreira de Lúcio Mauro Filho – que fazia seu filho gay e que obrigava o pai interpretado por Dória a repetir o bordão: “Onde foi que eu errei?”

Dória como o pai de Alfredinho (Lúcio Mauro Filho), que fingia não acreditar que o filho era gay - Reprodução/TV Globo

Jorge Dória morreu às 15h05 de hoje.

Ele estava internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital Barra D'Or, no Rio, em estado grave desde 27 de setembro último - estava tratando de uma infecção respiratória e morreu de complicações cardiorrespiratórias e renais.

O velório será nesta quinta (7), às 11h, no Memorial do Carmo, no Caju, no centro do Rio e a cremação acontece às 16h do mesmo dia.

Foto dos anos 70 mostra Dória (à direita) com Carlos Eduardo Dolabella, Milton Moraes, Paulo Gracindo, Airton Rodrigues, Sargentelli, Jorge Dória, Marietta Severo, Cidinha Campos, Neuza Amaral, Thereza Sodré, Clara Nunes e a apresentadora Hebe Camargo - Divulgação

O diretor do humorístico "Zorra Total", Maurício Sherman , lamentou sua perda, lembrou que estreou no teatro junto com Dória e que competiu com o amigo pelo título de ator revelação.

"Eu era da companhia da Eva Todor, e ele da companhia do Graça Melo. Ganhei o título de ator revelação, mas ele merecia tanto quanto eu. Dali para a frente nos tornamos amigos. Ele vai fazer muita falta. Tinha uma naturalidade incrível, era um ator que contribuía para o sucesso de todos os personagens que fazia. Foi uma escola", afirmou.

Jorge deixa um filho, Rodrigo, do casamento com a atriz Leda Valle.

Ele também foi casado com a vedete Irís Bruzzi e atualmente estava casado com Isabel Cristina Gasparin.

Principais papéis e personagens na televisão:

1970 - E Nós Aonde Vamos? .... ?
1972 - Uma Rosa com Amor .... Zé Pistola
1972/75 - A Grande Família .... Lineu
1975 - O Noviço .... Ambrósio
1978 - Aritana (Tupi) - Boaventura
1978 - O Pulo do Gato .... Bubby Mariano
1978 - O Todo Poderoso (Bandeirantes) .... Cristiano
1979/1980 - Cavalo Amarelo (Bandeirantes) .... Barbosa
1981 - O Amor é Nosso .... Sandoval
1983 - Champagne .... João Brandão
1983 - Parabéns pra Você .... Baby
1984 - Livre para Voar .... J.J. (Jardim Julião)
1985 - Jogo do Amor (SBT) .... Otávio
1987 - A Rainha da Vida (Manchete) .... Carlos Valadares
1987 - Brega & Chique .... Herbert Alvaray
1989 - Que Rei Sou Eu? .... Vanoli Berval
1989 - Tieta .... Padre Hilário
1990 - Meu Bem, Meu Mal .... Emílio Castro
1990 - Rainha da Sucata .... Alberico
1992 - Deus nos Acuda .... Tomás Euclides Rodrigues Garcia
1992 - Tereza Batista .... Emiliano
1993 - Olho no Olho .... Átila
1994 - Quatro por Quatro .... Santinho
1996 - Vira-Lata .... Moreira
1997 - Zazá .... Ângelo Pietro
1998 - Era Uma Vez… .... Rodolfo "Rudy" Reis
1999 - Suave Veneno .... Genival
1999/2006 - Zorra Total (Rede Globo) - Mateus / Maurição
2001 - Malhação .... Carmello

Em cena como João Brandão em 'Champagne' (1983)-Nelson Di Rago/TV Globo

Principais trabalhos no cinema:

1948 - Inconfidência Mineira
1948 - Mãe
1949 - Também Somos Irmãos
1951 - Maior que o Ódio
1962 - Assalto ao Trem Pagador
1965 - O Beijo
1966 - Cristo de Lama
1968 - Juventude e Ternura
1969 - As Duas Faces da Moeda
1970 - Pais Quadrados, Filhos Avançados
1971 - Bonga, o Vagabundo
1972 - Eu Transo, Ela Transa
1973 - Como É Boa Nossa Empregada
1974 - O Comprador de Fazendas
1975 - As Aventuras de um Detetive Português
1976 - Ninguém Segura Essas Mulheres
1978 - A Dama do Lotação
1980 - Perdoa-me por Me Traíres
1981 - O Sequestro
1985 - Pedro Mico
1987 - A Dama do Cine Shanghai
2003 - O Homem do Ano

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