sexta-feira, 11 de outubro de 2013

'GRAVIDADE': ESPAÇO SIDERAL CLAUSTROFÓBICO NO MELHOR DRAMA ESPACIAL DESDE '2001'


Confesso que esse longa era o que eu mais aguardava nesse ano e quando finalmente o vi - numa pre -estreia com dois amigos queridos no começo da semana - foi como se eu tivesse sido atropelado pelo ônibus espacial destruído nele.

Não esperava tanto de 'Gravidade', longa esculpido com precisos cinzéis pelo brilhante diretor Alfonso Cuarón e que estreia hoje em 164 salas em todo o Brasil - tanto que hoje voltei ao cinema e já o revi mais duas vezes!

O longa procura responder a uma pergunta fundamental: 
"Que impulso nos leva a sobreviver, mesmo sem esperança e mesmo sem termos nada pela frente?"

Aqui, o "nada" nos é apresentado na sua forma mais que básica, o espaço sideral, onde um imenso desconhecido abriga os personagens em seu mistério e onde Cuarón consegue nos transmitir em tempo real a sensação deles em um dos longas mais marcantes do cinema recente.

E tudo isso tendo como seus dois protagonistas duas estrelas maiores da constelação de Hollywood: Sandra Bullock, no papel da doutora Ryan Stone (um nome masculino, que o filme explica) em sua primeira missão no espaço - e George Clooney, como o astronauta Matt Kowalsky, em sua última missão antes da aposentadoria.

Sandra Bullock como a Dra Ryan Stone e George Clooney, como o astronauta Matt Kowalsky, protagonistas de 'Gravidade' - fotos dessa postagem: Divulgação/Warner Bros.

A missão dois dois é, a partir de um ônibus espacial, consertar o telescópio especial Hublle, só o que eles não esperavam é que um satélite russo - sempre eles! - se desmanchasse no espaço e que seus muitos pedaços atingissem e destruíssem também o ônibus espacial.

A partir daí, os dois precisam arriscar a sobrevivência nesse lugar inóspito e apesar de estarem literalmente perdidos no espaço, a claustrofobia que Cuarón impõe ao longa é absolutamente sufocante, de fazer o espectador ficar com dores pelo corpo todo.

Filme incrivelmente instigante, o espetacular roteiro - de Cuarón, seu filho Jonás e de Rodrigo García - nos lança o tempo todo entre a pequenez e grandeza, conhecido e desconhecido e onde, no espaço, se o homem se torna imenso com sua tecnologia, no paradoxo, se vê minúsculo diante da Terra.

O perigo real e imediato dos destroços do satélite dá ritmo à trama impressionante, principalmente do meio para o final e mesmo com poucos elementos, o roteiro consegue entreter plenamente.

George Clooney, em cena do longa

Logo no início, conhecemos o triste destino da filha da Dra. Ryan - um acidente absolutamente idiota que acabou com seu futuro - e onde a música folk americana embala Matt em seus minutos de incerteza, assim como a lembrança de algumas histórias boas de vida.

Outros detalhes aparecem também nas outras estações espaciais onde Ryan busca abrigo: imagens de Buda e de Cristo crucificado se escondem dentro delas.

Se não existe algo mais humano e instintivo do que acreditar no que não se vê, o espaço tem aqui também o aspecto de uma divindade.

Cuarón, mais uma vez, cria aqui aquela sensação tão particular ao seu trabalho e, da mesma forma, também investe na aflição - quando o oxigênio de Ryan chega perto do fim, o espectador é submetido a um desespero absurdo ao longo de muitos minutos.

Se o longa de Martin Scorsese - 'A Invenção de Hugo Cabret' (2011) - nos deu o real sentido de como o 3D pode ser usado para valorizar realmente a imagem, aqui o recurso é brilhantemente utilizado, potencializando a sensação de instabilidade, assim como bons takes, giros de câmera que causam vertigem e os destroços russos vindo na nossa direção de forma absolutamente espetacular.

Uma cena específica, com a Dra. Ryan flutuando circularmente na entrada da nave, remete à geometria utilizada com primor nas obras de Stanley Kubrick, principalmente em '2001: Uma Odisseia No Espaço' (1968).

A atriz ganhadora do Oscar tem aqui o melhor papel de sua carreira disparado, desenvolvendo bem sua personagem, sem muita afetação e demonstrando certa fragilidade.

Sandra Bullock, em cena do filme

Já a escolha de um ator de recursos limitados como Clooney para um quase coadjuvante também foi acertada, já que ele carrega bem o tipo canastrão de Matt, aparecendo pouco mas com presença fundamental, trazendo leveza e um humor despretensioso.

Rico em detalhes, o longa escorrega em alguns - como o cabelo da protagonista não flutuar em gravidade zero e de Ryan não sofrer quase nenhum ferimento, algo que parece impossível diante das situações enfrentadas.

Mas acerta muito na estética da órbita da terra, a Aurora Polar, a transição entre silêncio e som nas câmaras pressurizadas e despressurizadas - e o silêncio absurdo que permeia todo o longa.

Afinal, aprendemos na escola que 'o som não se propaga no espaço' e, assim, todos os filmes especiais que vemos até agora são mentirosos nesse aspecto.

Enfim, o longa não fala de perfeições tecnológicas, mas sim das imperfeições humanas, que tornam indivíduos tão frágeis – e tão plenamente humanos – frente ao desconhecido.

Kubrick, de onde estiver, deve estar sorrindo de orelha a orelha pois, finalmente, 25 anos depois de '2001', finalmente temos um filme ambientado no espaço sideral absolutamente verdadeiro.

E a Warner Bros.?
Desde que encerrou as sagas 'Harry Potter' (onde, aliás, Cuarón brilhou) e a trilogia 'Batman', todos se perguntavam o que o estúdio mais legal de Hollywood faria para ganhar outra montanha de dinheiro.

A resposta, ao que parece, foi voltar às suas origens - quando os irmãos Warner apostavam e davam liberdade criativa aos diretores - o que parece ter acontecido aqui, com Alfonso Cuarón.

Para mim, esse filmaço é o melhor longa de 2013 até agora.

Confira o trailer do longa:


*****
'GRAVIDADE'
Título Original:
GRAVITY
Gênero:
Ficção Científica
Direção:
Alfonso Cuarón
Roteiro:
Alfonso Cuarón, Jonás Cuarón, Rodrigo García
Elenco:
Basher Savage, Eric Michels, George Clooney, Sandra Bullock
Produção:
Alfonso Cuarón, David Heyman
Fotografia:
Emmanuel Lubezki
Montador:
Alfonso Cuarón, Mark Sanger
Trilha Sonora:
Steven Price
Duração:
91 min.
Ano:
2012
País:
Estados Unidos / Reino Unido
Cor:
Colorido
Estreia no Brasil:
11/10/2013
Distribuidora:
Warner Bros
Estúdio:
Heyday Films / Reality Media / Warner Bros. Pictures
Classificação:
12 anos
Cotação do Klau:

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