domingo, 27 de setembro de 2020

'RATCHED': SARAH PAULSON ROUBA (NOVAMENTE) A CENA NUM DOS MELHORES TRABALHOS DE RYAN MURPHY

SINOPSE: 
A série se passa em 1947, quando a jovem Mildred Ratched (Sarah Paulson) iniciava sua carreira profissional no sistema de saúde mental. 

 No entanto, com o decorrer dos anos ela passou de uma simples enfermeira para um verdadeiro monstro, realizando uma série de assassinatos. 

 CRÍTICA: 
Em 1975, Louise Fletcher conquistou o mundo com sua magistral interpretação como a enfermeira Mildred Ratched no clássico ‘Um Estranho no Ninho’

 Rapidamente, a complexa persona arquitetada pelo romancista Ken Kesey ganhou dimensões novas e bem mais profundas, colocando-a como um símbolo da tirania e da corrupção institucional – ainda mais por agir de modo passivo-agressivo para garantir que os pacientes do Instituto Psiquiátrico de Salem  lhe fossem fiéis e obedientes, punindo quem ousasse contraria as suas ordens – como Randie McMurphy (Jack Nicholson), que sofre lobotomia após juntar os outros residentes do manicômio em uma onda de protestos contra Mildred. 

 Não é surpresa que, por sua carga alegórica, Ratched tenha se transformado em uma das maiores vilãs da história do cinema, servindo de inspiração para criações contemporâneas e análises sociológicas sobre a maldade e a ambição humanas. 

 Agora, Ryan Murphy resgatou a personagem e lhe deu uma história de origem, resultando na série original Netflix ‘Ratched

 Ambientada quase vinte anos antes dos eventos do longa-metragem, a enfermeira do inferno foi encarnada pela premiada Sarah Paulson em um prequel muito diferente das expectativas, talvez tentando explicar suas atitudes controversas, talvez nos querendo dar uma centelha de empatia, retirando-a dos estereótipos em que foi infundida. 

 Aqui, a série usa de caricaturas exageradas demais e o roteiro, como tantas outras produções de Murphy - como ‘Hollywood’ e ‘The Politician’ - aposta em um visual impecável, colocando as tramas em um patamar ora prolixo, ora superficial demais, o que deixa cada capítulo mais interessante que o outro.

 Mas é o elenco, muito bem escalado, que segura cada cena. 

 Mildred Ratched é construída por Paulson quase de forma sociopata: uma cética dama que parece ser da alta sociedade, mas na verdade procura fazer parte do time de enfermeiros do Hospital Estadual de Lucia, na Califórnia, contando certas mentiras desde seu primeiro momento em cena para garantir o emprego e vivendo em um motel à beira da estrada enquanto planeja algo não revelado logo de cara. 

 Porém, conforme os capítulos se desenrolam, descobrimos que Mildred quis trabalhar lá para ajudar seu irmão, Edmund Tolleson (Finn Wittrock), recém-admitido no instituto por ter assassinado quatro padres a sangue-frio. 

 É claro que, para a segurança dos dois, ninguém tem ideia de sua relação – e nem mesmo Murphy parece fazer muita questão de investir nessa primeira reviravolta, deixando-a de lado e recuperando-a sem muita necessidade ou explicação. 

 Esteticamente, a série é tudo que se espera de uma produção do showrunner e criador: comandando os dois primeiros episódios, vemos que Murphy amadureceu muito desde sua estreia na indústria do entretenimento. 

 Enquanto esperávamos que ele resgatasse tudo o que deu certo em suas obras anteriores, como planos holandeses e ângulos irreverentes, aqui, ele vai pelos caminhos da coesão comedida e excesso de simetria. 

 A série, no geral, tem espaço de sobra para invenções mirabolantes – e faz isso ao fazer apologia ao body horror e ao gore diversas vezes - mas o foco sempre se destina à compostura da personagem de Paulson e de que forma, mesmo sem pronunciar uma palavra sequer, nos chama a atenção. 

 Ao lado de seu time criativo, Murphy prioriza a paleta de cores e cuida para que a direção de arte seja guiada pela sobriedade e pela melancolia exuberante dos tons esverdeados – destinando alguns objetos em um composée apaixonante. 

 Ratched, por sua vez, surge nas cenas deslumbrante em cores complementares, ultrajantes, até mesmo, quando justapostas à clareza do hospital ou aos cenários kitsch que acompanham sua jornada: seus vestidos amarelo-mostarda e seu cabelo ruivo se destacam e seu visual como um todo é espetacular. 

 Paulson, ótima atriz, aqui se junta à excelência de seus colegas, especialmente Wittrock, que traz elementos de sua psicótica atuação em ‘American Horror Story: Freakshow’, e Judy Davis como a enfermeira-chefe Betsy Bucket, mostrando sua conhecida versatilidade mais uma vez.  
Sharon Stone também tem seu momento de brilhar como a vingativa socialite Lenore Osgood, que parte numa caçada para matar o Dr. Richard Hanover (Jon Jon Briones), diretor do Lucia, e cruza caminhos com a perigosa timidez e centralidade de Mildred. 

 Briones, por sua vez, não brilha tanto como em 'American Crime Story: O Assassinato de Gianni Versacce', bem como Finn Wittrock não entrega a mesma performance de 'Hollywood' - mas ambos tem a sua importância para o desenrolar da trama. 

 Por fim, Cyntia Nixon faz o contraponto perfeito à personagem de Paulson como a assessora de imprensa do governador da Califórnia (interpretado por Vicent D'Onofrio), interpretando uma mulher lésbica que tem um casamento de fachada com um amigo gay e se apaixona por Ratched

 E, como é de praxe, a outrora estigmatizada vilã é humanizada com uma trágica história que transcende as expectativas e que nos faz sentir compaixão por atos auto protetivos – ainda que, no final das contas, a “mágica” de sua frieza e de seu imperioso controle sobre os outros tenha sido varrida para debaixo do tapete. 

 ‘Ratched’ se deixa levar pelas exaustivas fórmulas de qualquer drama novelesco dos últimos anos, ao colocar diálogos previsíveis e monótonos, mas, mesmo assim, é difícil parar de prestar atenção àquilo que nos é contado – principalmente com a majestosa elegância que vemos desde a primeira cena. 

 Talvez seja a melhor e mais bem desenvolvida série de Ryan Murphy até hoje. 

 GALERIA DE IMAGENS:
TRAILER:

FICHA TÉCNICA:
RATCHED 
Título Original:
Ratched
 Formato:
Série 
Gênero:
Drama, Romance Psicológico, Terror 
 Criador(es):
Evan Romansky 
Baseado em:
Um Estranho no Ninho, de Ken Kesey 
Desenvolvedor(es):
Ryan Murphy 
País de origem:
Estados Unidos 
 Produtor(es):
Paul Zaentz,Todd Nenninger, Eric Kovtun, Lou Eyrich Eryn, Krueger Mekash, Sara Stelwagen, Tanase Popa
Produtor(es) executivo(s):
Aleen Keshishian, Margaret Riley, Jacob Epstein, Michael Douglas, Robert Mitas, Jennifer Salt, Sarah Paulson, Ian Brennan, Tim Minea, Alexis Martin Woodall, Ryan Murphy 
Editor(es):
Shelly Westerman, Peggy Tachdjian, Ravi Subramanian, Ken Ramos, Danielle Wang, 
Cinematografia:
Nelson Cragg, Blake McClure, Andrew Mitchell, Simon Dennis, 
Distribuição:
Disney–ABC Domestic Television 
Elenco:
Sarah Paulson,Finn Wittrock, Cynthia Nixon, Jon Jon Briones, Charlie Carver, Judy Davis, Sharon Stone
Estúdios:
  Further Films Lighthouse Management + Media, Ryan Murphy Television, Fox 21 Television Studios
Emissora original:
Netflix 
Formato de exibição:
4K (Ultra HD) 
Transmissão original:
18 de setembro de 2020 – presente 
Temporadas:
Episódios:
Duração:
45–62 minutos

 COTAÇÃO DO KLAU:

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