SINOPSE:
Entre os anos 1967 e 1976, o estilista Yves Saint-Laurent (Gaspard Ulliel) reinou sozinho no mundo da alta costura francesa.
Esta biografia mostra o seu processo criativo, as fotografias e entrevistas polêmicas, a relação com o marido e empresário Pierre Berger (Jérémie Renier), os casos amorosos extra-conjugais e a relação com o álcool e as drogas, que quase destruíram seu império e a marca YSL - ainda hoje uma das mais valiosas do mundo.
CRÍTICA:
Considerado o maior gênio da alta costura inclusive pelos maiores, Yves Saint-Laurent merecia uma cinebiografia mais honesta e menos chapa branca que aquela que vimos recentemente, dirigida por Jalil Lespert e estrelada por Pierre Niney.
Felizmente, ao mesmo tempo em que a biografia chapa branca - que estreou aqui em abril - era rodada, o diretor Bertrand Bonello produzia a sua visão sobre a vida e carreira do gênio.
O incrível resultado é 'Saint Laurent', que estreia hoje em 17 salas em todo o Brasil.
Inspiradíssima cinebiografia, que ganha um tom totalmente artístico e profundo, a trama retrata a vida do gênio entre 1967 e 1976, época cuidadosamente escolhida por ser o auge da sua carreira e ao mesmo tempo um período bem conturbado na história, de mudanças no mundo da moda, na política e nas relações sociais.
Contudo, o drama não busca a linearidade dos anos, mas faz transições entre os tempos e faz com que tudo esteja de alguma forma interligado, seja as cores da coleção ou revolução política.
Gaspard Ulliel como Yves Saint-Laurent - Fotos dessa postagem: Divulgação/Imovision |
Gaspard Ulliel, jovem e excelente ator francês, dá vida ao estilista e não tem a mínima dificuldade em personificar seu caráter enigmático, reservado e quase andrógino.
Sempre ao seu lado está Pierre Bergé (Jérémie Renier), seu marido e o criador da marca YSL, que acaba mostrando o lado mais comercial do negócio, prezando pela valorização do homem e o conceito por trás da marca.
Pierre Bergé (Jérémie Renier) e Saint-Laurent (Gaspard Ulliel), em cena do longa |
Aos poucos também são apresentados os outros personagens de sua vida, como a modelo Betty Catroux (Aymeline Valade), a designer e modelo Loulou de la Falaise (Léa Seydoux) , braço direito de Yves e Jacques de Bascher (Louis Garrel, mais uma vez esplêndido), um dos seus maiores amantes.
Com Jacques, Yves desenvolve um dos relacionamentos mais complexos da trama, mas mesmo quando o amor fica literalmente claro entre os dois, ainda não é possível estabelecer uma conexão ou sensibilidade com o personagem.
Léa Seydoux interpreta Loulou de la Falaise |
Em nenhum momento o longa tenta forçar sentimentos, mas mantém uma distância, retratando o apenas a lenda, e não a alma por trás dela e, assim, as cenas de nudez ou abuso de drogas não estão lá para chocar ou mostrar a decadência da estrela, mas simplesmente porque essas eram coisas comuns em sua vida - coisa que o filme que estreou em abril dez questão de passar longe.
Uma das 'festinhas' do longa |
Em meio a todo o caos da vida pessoal, o designer enfrenta ainda as dificuldades de encontrar a criatividade, temporada após temporada, lutando para se reinventar sem perder a grandiosidade, em um cenário de transformações econômicas.
E isso acaba sendo uma válvula de escape, o lugar onde ele pode se expressar e descarregar todas as suas crises existenciais.
Louis Garrell interpreta Jacques de Bascher, o grande amor de Saint-Laurent |
Tudo é construído para prezar a beleza estética, com fotografia e produção que enchem os olhos, recriando desfiles inteiros do gênio, numa grandiosidade artística poucas vezes vista recentemente nas telonas.
Ao mesmo tempo, é também fragmentado, com alternância entre cenas longuíssimas e às vezes, até desconfortáveis, e outras curtas, onde ora a música está alta dentro da boate colorida, ora é cortada repentinamente para um jardim silencioso e escuro.
Adicionado a isso algumas passagens totalmente subjetivas e subliminares, o objetivo é, portanto, fazer o espectador se perder em seu mundo, sem tentar entendê-lo.
A direção de arte recria desfiles inteiros do gênio, uma festa para os olhos do espectador |
Bonello entrega um filme difícil de compreender e digerir, pois faz o espectador pensar e não se sensibilizar com a história deste grande nome da moda.
Com caráter intelectual e artístico, o longa, assim, se separa do formato de cinebiografias atuais e vai propor uma experiência mais complexa, que pode não ser o favorito do grande público, mas traz inovação e fidelidade ao estilo do diretor, que prometeu e entregou a biografia cinematográfica definitiva do gênio.
O longa mostra todo o processo criativo do gênio |
No final, destaque para a maravilhosa e pequena participação do deus das telonas Helmut Berger como um idoso Saint-Laurent.
O ator-fetiche de Luchino Visconti prova em segundos que ainda dá o melhor dos bons caldos.
A lenda Helmut Berger aparece no final, interpretando o gênio na velhice |
Melhor cinebiografia do ano.
Filmaço.
TRAILER:
FICHA TÉCNICA:
'SAINT LAURENT'
Título Original:
Saint Laurent
Gênero:
Drama
Direção:
Bertrand Bonello
Roteiro:
Bertrand Bonello, Thomas Bidegain
Elenco:
Amira Casar, Aymeline Valade, Brady Corbet, Dominique Sanda, Gaspard Ulliel, Helmut Berger, Jasmine Trinca, Jérémie Renier, Léa Seydoux, Louis Garrel, Micha Lescot, Valeria Bruni Tedeschi, Valérie Donzelli, Vittoria Scognamiglio
Produção:
Eric Altmayer, Nicolas Altmayer
Montador:
Fabrice Rouaud
Trilha Sonora:
Josée Deshaies
Duração:
150 min.
Ano:
2014
País:
Bélgica / França
Cor:
Colorido
Estreia no Brasil:
13/11/2014
Distribuidora:
Imovision
Estúdio:
Scope Pictures
Classificação:
14 anos
COTAÇÃO DO KLAU:
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