quinta-feira, 13 de novembro de 2014

'SAINT LAURENT': CINEBIOGRAFIA DO GÊNIO DA MODA É A MELHOR DO ANO


SINOPSE:

Entre os anos 1967 e 1976, o estilista Yves Saint-Laurent (Gaspard Ulliel) reinou sozinho no mundo da alta costura francesa.

Esta biografia mostra o seu processo criativo, as fotografias e entrevistas polêmicas, a relação com o marido e empresário Pierre Berger (Jérémie Renier), os casos amorosos extra-conjugais e a relação com o álcool e as drogas, que quase destruíram seu império e a marca YSL - ainda hoje uma das mais valiosas do mundo.

CRÍTICA:

Considerado o maior gênio da alta costura inclusive pelos maiores, Yves Saint-Laurent merecia uma cinebiografia mais honesta e menos chapa branca que aquela que vimos recentemente, dirigida por Jalil Lespert e estrelada por Pierre Niney.

Felizmente, ao mesmo tempo em que a biografia chapa branca - que estreou aqui em abril - era rodada, o diretor Bertrand Bonello produzia a sua visão sobre a vida e carreira do gênio.

O incrível resultado é 'Saint Laurent', que estreia hoje em 17 salas em todo o Brasil.

 Inspiradíssima cinebiografia, que ganha um tom totalmente artístico e profundo, a trama retrata a vida do gênio entre 1967 e 1976, época cuidadosamente escolhida por ser o auge da sua carreira e ao mesmo tempo um período bem conturbado na história, de mudanças no mundo da moda, na política e nas relações sociais.

Contudo, o drama não busca a linearidade dos anos, mas faz transições entre os tempos e faz com que tudo esteja de alguma forma interligado, seja as cores da coleção ou revolução política.

Gaspard Ulliel como Yves Saint-Laurent - Fotos dessa postagem: Divulgação/Imovision
Gaspard Ulliel, jovem e excelente ator francês, dá  vida ao estilista e não tem a mínima dificuldade em personificar seu caráter enigmático, reservado e quase andrógino.

Sempre ao seu lado está Pierre Bergé (Jérémie Renier), seu marido e o criador da marca YSL, que acaba mostrando o lado mais comercial do negócio, prezando pela valorização do homem e o conceito por trás da marca.

Pierre Bergé (Jérémie Renier) e Saint-Laurent (Gaspard Ulliel), em cena do longa
Aos poucos também são apresentados os outros personagens de sua vida, como a modelo Betty Catroux (Aymeline Valade),  a designer e modelo Loulou de la Falaise (Léa Seydoux) , braço direito de YvesJacques de Bascher (Louis Garrel, mais uma vez esplêndido), um dos seus maiores amantes.

Com Jacques, Yves desenvolve um dos relacionamentos mais complexos da trama, mas mesmo quando o amor fica literalmente claro entre os dois, ainda não é possível estabelecer uma conexão ou sensibilidade com o personagem.

Léa Seydoux interpreta Loulou de la Falaise
Em nenhum momento o longa tenta forçar sentimentos, mas mantém uma distância, retratando o apenas a lenda, e não a alma por trás dela e, assim, as cenas de nudez ou abuso de drogas não estão lá para chocar ou mostrar a decadência da estrela, mas simplesmente porque essas eram coisas comuns em sua vida - coisa que o filme que estreou em abril dez questão de passar longe.

Uma das 'festinhas' do longa
Em meio a todo o caos da vida pessoal, o designer enfrenta ainda as dificuldades de encontrar a criatividade, temporada após temporada, lutando para se reinventar sem perder a grandiosidade, em um cenário de transformações econômicas.

E isso acaba sendo uma válvula de escape, o lugar onde ele pode se expressar e descarregar todas as suas crises existenciais.

Louis Garrell interpreta Jacques de Bascher, o grande amor de Saint-Laurent
Tudo é construído para prezar a beleza estética, com fotografia e produção que enchem os olhos, recriando desfiles inteiros do gênio, numa grandiosidade artística poucas vezes vista recentemente nas telonas.

Ao mesmo tempo, é também fragmentado, com alternância entre cenas longuíssimas e às vezes, até desconfortáveis, e outras curtas, onde ora a música está alta dentro da boate colorida, ora é cortada repentinamente para um jardim silencioso e escuro.

Adicionado a isso algumas passagens totalmente subjetivas e subliminares, o objetivo é, portanto, fazer o espectador se perder em seu mundo, sem tentar entendê-lo.

A direção de arte recria desfiles inteiros do gênio, uma festa para os olhos do espectador
Bonello entrega um filme difícil de compreender e digerir, pois faz o espectador pensar e não se sensibilizar com a história deste grande nome da moda.

Com caráter intelectual e artístico, o longa, assim, se separa do formato de cinebiografias atuais e vai propor uma experiência mais complexa, que pode não ser o favorito do grande público, mas traz inovação e fidelidade ao estilo do diretor, que prometeu e entregou a biografia cinematográfica definitiva do gênio.

O longa mostra todo o processo criativo do gênio
No final, destaque para a maravilhosa e pequena participação do deus das telonas Helmut Berger como um idoso Saint-Laurent.

O ator-fetiche de Luchino Visconti prova em segundos que ainda dá o melhor dos bons caldos.

A lenda Helmut Berger aparece no final, interpretando o gênio na velhice
Melhor cinebiografia do ano.

Filmaço.

TRAILER:


FICHA TÉCNICA:
'SAINT LAURENT'
Título Original:
Saint Laurent
Gênero:
Drama
Direção:
Bertrand Bonello
Roteiro:
Bertrand Bonello, Thomas Bidegain
Elenco:
Amira Casar, Aymeline Valade, Brady Corbet, Dominique Sanda, Gaspard Ulliel, Helmut Berger, Jasmine Trinca, Jérémie Renier, Léa Seydoux, Louis Garrel, Micha Lescot, Valeria Bruni Tedeschi, Valérie Donzelli, Vittoria Scognamiglio
Produção:
Eric Altmayer, Nicolas Altmayer
Montador:
Fabrice Rouaud
Trilha Sonora:
Josée Deshaies
Duração:
150 min.
Ano:
2014
País:
Bélgica / França
Cor:
Colorido
Estreia no Brasil:
13/11/2014
Distribuidora:
Imovision
Estúdio:
Scope Pictures
Classificação:
14 anos

COTAÇÃO DO KLAU:

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