quarta-feira, 16 de setembro de 2009

PRECISANDO DE AJUDA, AJUDANDO QUEM PRECISA...

Tenho ido toda terça ao Hospital Heliópolis, onde farei cirurgia em breve e por onde passo por diversos profissionais que me assistirão.

Lugar completamente surreal: o hospital - enorme e bem aparelhado - fica numa das partes altas do bairro do Ipiranga, bem no meio da favela de Heliópolis, uma das maiores de Sampa.

Faço uma pequena viagem de quase 2 horas para chegar até lá: tomo um busão até o centro, outro até o terminal D.Pedro II, também no centro, embarco no expresso tiradentes - ex furafila do Pitta - até o terminal Sacomã, e de lá, tomo uma van até a porta do hospital.

No caminho, ainda no trecho central, vejo montes e mais montes de lixo e entulho - não tem um único viaduto por cima da avenida do Estado que não esteja tomado pela sujeira. Lembro do meu pai, que fazia esse caminho todos os dias, rumo à fábrica da Mercedes-Benz em São Bernardo, onde trabalhava, e agradeço a Deus que ele não veja o que fizeram com a cidade onde ele nasceu, cresceu, formou família e criou seus filhos.

O furafila chega rápido ao destino, porquê vai por canaletas exclusivas e tem poucas paradas no percurso. O terminal Sacomã é grande, moderno, mas tem placas informativas muito confusas, nunca acho a van na primeira tentativa. Ao lado, já dá pra ver o esqueleto da futura estação Sacomã do Metrô, da linha verde que hoje vai do Sumaré ao Alto do Ipiranga. Os desocupados de sempre ficam andando de um lado pro outro. De olho nas bolsas e bolsos dos distraídos. Me sinto numa cidade do velho oeste, à mercê total dos salteadores. O medo me faz andar mais rápido.

A van também é rápida, cruza o centro comercial do Ipiranga, atravessa um pequeno viaduto e já estamos na favela. Heliópolis não é aquilo que as pessoas pensam que uma favela é. As casas são de alvenaria, mesmo sem acabamento e reboco, e as ruas, asfaltadas. Aqui o lixo aparece muito, em enormes quantidades, praticamente em casa esquina. E crianças e jovens pelas ruas, muitos deles, aparentemente sem ter nada de útil pra fazer dos seus dias. Um enorme campo de futebol murado, ao lado do hospital e com uma placa escrita "Escolinha de Futebol Corinthians" está sempre vazio, ao menos às terças.

Esse lugar abarrotado de gente foi o palco da manifestação da semana passada, em resposta à violência descabida de um guarda municipal da vizinha cidade de São Caetano do Sul, que em perseguição a bandidos, atirou e matou uma moradora de 17 anos, que vinha da escola, mãe de uma criança pequena. O mesmo guarda que foi expulso da Polícia Militar anos atrás, por fazer do quartel onde dava guarda de motel.

Penso nessa menina, mãe tão jovem e estudante. Imagino como seriam os seus sonhos - as pessoas dizem que ela era ótima estudante -. Usaria os estudos para sair de lá? Que tipo de vida poderia desejar para ela e seu filho quando voltava à noite da escola e caiu, abatida por uma bala idiota?

O hospital é estadual, público, mas surpreendentemente não é lotado como o Hospital das Clínicas e o Mandaqui. O prédio principal tem estilo anos 60, coisa que eu gosto, e os funcionários são muito educados e atenciosos.

As consultas e exames tem sido proveitosas. Estágios iniciais são fáceis de ser tratados e tenho confiança nesses médicos. Ontem, conheci o cirurgião plástico - já que vou tomar anestesia geral, aproveito e faço logo uma recauchutagem! O Dr. parece saído de um dos seriados médicos do SBT: lindo, saó falta miar!
Aproveito o horário, e após a consulta, almoço no bandejão do hospital. A comida é boa e barata.

Na saída, e pela segunda vez, em vez de entrar direto na van, ando por algumas quadras da favela, cumprimento pessoas e sou cumprimentado. Entro nas lojinhas e nos bares, paro em um e peço uma cerveja. Faz tempo que eu não bebia uma tão gelada! A dona do bar me conta que veio do Sergipe há 22 anos para ser empregada doméstica, e a 8 conseguiu realizar seu sonho de ter o seu próprio negócio. Jeruza - esse é o nome dela - aparenta muito mais do que os seus 46 anos. Separada, tem dois filhos que perdeu para o tráfico. Adora conversar e conhecer pessoas, por isso o bar. Fiquei tão imerso na conversa, que nem vi o tempo passar. Saio de lá após 3 horas!

O caminho de volta ao Centro me parece mais rápido, talvez pelas músicas de Dionne Warwick e Ana Carolina que ouço no meu mp4.

Não escondo a decepção ao ver que um dos meus melhores amigos, esquizofrênico. Está novamente agressivo, à beira do surto. Não teve conversa, ele rapidamente se vai aceleradíssimo, como se alguém apertasse o "ff" de um controle remoto de um vídeo cassete. Eu fico a voar pelos corredores do Shopping Ligh, um dos lugares mais legais aqui de Sampa - era o prédio sede da cia. de energia, agora é shopping e campus de faculdade, onde a Fabíola, que trabalha comigo, estuda, onde entrego pra ela os documentos assinados pelos clientes, e onde a revejo, ela que já faz parte da minha vida a muitos anos. É sempre um prazer vê-la feliz e satisfeita, com noivo legal e estudando novamente. Pena que ontem eu não a vi, eu que precisava tanto ver uma cara amiga...

Passo no bar do Arouche, vazio ainda. Ao menos, a antiga jukebox voltou, não me acertava com a nova.Quando saio, por volta das 20:30h, é que ele estava enchendo de gente. À porta, uma montanha de bitucas de cigarro, já que o governador Tio Chico/família Adams quis dar uma de professor primário do século 19 e proibiu fumarem dentro do bar. Tanta coisa pra se preocupar, a inspeção veicular que não acontece, a cidade mergulhada no lixo e o Serra proíbe o fumo! Fico mais estressado.

Felizmente, chegar em casa é só uns minutos.

No computador, um recado do Jeferson, dizendo que está "deprimido".

Tomara que esse eu possa ajudar, de alguma maneira.

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