quarta-feira, 15 de junho de 2011

A SEMANA NA DIVERSIDADE: "NÃO PRECISA GOSTAR DO FATO DE EU SER HOMOSSEXUAL, MAS PRECISA RESPEITAR"


Nessa postagem, você verá três matérias que aparentemente nada tem em comum, mas são exemplos de como podemos viver e conviver respeitando as diversidades.

Na primeira, você verá que um dos mais famosos âncoras da TV americana se assumiu gay, e sua credibilidade enquanto profissional não sofreu nenhum arranhão; na segunda, o ótimo exemplo da unidade da polícia de Berlim, capital da Alemanha, composta só por gays e que combate principalmente crimes com motivação homofóbica; por fim, a terceira matéria fala como um comediante muito famoso pediu desculpas públicas por ter feito piada homofóbica em seu espetáculo de stand-up - pena que foi nos Estados Unidos, porquê, por aqui, eles falam o que bem entendem e ninguém toma nenhuma providência.

EM AUTOBIOGRAFIA, UM DOS PRINCIPAIS ÂNCORAS DA TV AMERICANA SE ASSUME GAY

O jornalista da CNN, Don Lemon, 45, um dos mais respeitados âncoras da TV americana, assumiu que é gay em sua autobiografia, Transparent, segundo o site Us Magazine.

"A faculdade não foi a única experiência que me fez aprender muito durante os anos que passei em Nova York. Eu também estava começando a assumir minha identidade sexual", escreve Lemon.

Segundo o jornalista, apesar de contar à sua mãe que era gay, ele preferiu guardar segredo diante das outras pessoas.
Divulgação/CNN
O jornalista americano Don Lemon
"Eu, como muitos gays, vivi uma vida de medo, medo que, se alguns dos meus chefes, colegas, amigos, vizinhos e família descobrissem qual era minha opção sexual, me deixassem no ostracismo. É um fardo que milhões de pessoas carregam todos os dias."

A revelação nem arranhou a enorme credibilidade de Lemon junto ao público da emissora.

O livro Transparent será lançado amanhã (16), com grande festa na sede da CNN em Atlanta, Geórgia.

Enquanto isso, por aqui, diversos âncoras e jornalistas famosos continuam dentro do armário; só eles é que acreditam que ninguém não sabe.

DIVISÃO GAY DE POLÍCIA NA ALEMANHA COMBATE CRIMES HOMOFÓBICOS

"Eu sou gay e isso é bom".

Com esta frase, o atual prefeito de Berlim, Klaus Wowereit, declarou em 2001 sua homossexualidade em plena campanha eleitoral - e venceu.

Wowereit está cotado para ser candidato a chanceler - o chefe de governo alemão, que equivale em outras democracias parlamentares ao cargo de primeiro-ministro - pelo SPD - Partido Social Democrata -, uma prova de que sua força política não se abalou – ou talvez tenha até se beneficiado – com o fato de assumir publicamente sua opção sexual.

Àquela altura, no entanto, não se pode dizer que a atitude do político, apesar de corajosa, tenha sido uma ruptura radical nas instituições alemãs.

Antes de Wowereit assumir-se gay, os policiais de Berlim já haviam criado a Vespol - Associação de Policiais Gays e Lésbicas da Alemanha -, tornando-se pioneiros da diversidade nas instituições policiais do país.

É certo que entre o prefeito berlinense e o jegue Jair Bolsonaro há bem mais que um Oceano Atlântico de distância.

Mas aos olhos de quem se acostumou a ver com naturalidade policiais assumidamente homossexuais, reunidos em um grupamento dedicado a combater a homofobia, a ironia da proposta de Bolsonaro – que sugeriu a criação de um batalhão gay no Rio – oscila entre a graça e a defesa radical da diversidade, já que em Berlim a coisa deu muito certo.
Divulgação/Vespol
Policiais da Vespol em Berlim: grupo tem atuação semelhante aos demais agentes, mas é a referência para casos em que há motivação homofóbica no crime
A Vespol, criada em 1995, foi fundada por problemas internos enfrentados pelos policiais homossexuais.
"No relatório anual foi declarado que em determinado batalhão não havia gays, o que era falso. Isso causou incômodo em todos os homossexuais. Foi marcada, então, uma reunião para discutir o assunto", conta o policial e um dos diretores da Vespol Alemanha, Marcus Hentschel.

O tema que era tabu reuniu a princípio 20 policiais, mas hoje, só em Berlim, os assumidos e militantes são mais de mil.

A organização tem representantes em oito estados alemães e funciona como uma espécie de delegacia para homossexuais, onde os policiais que nela trabalham executam tarefas iguais a de todos os outros, mas são chamados quando há violência contra um homossexual e desenvolvem programas preventivos nas ruas e contra a homofobia.

Guardadas as diferenças entre Alemanha e Brasil – e as nuances de mentalidade entre capitais e pequenas cidades em um país de dimensões continentais – a Vespol tem muito a ensinar.
Divulgação/Vespol
Marcus Hentschel, da Vespol: "Os homossexuais, quando procuravam a polícia, não eram levados a sério"
Segundo Hentschel, o grande problema que a associação enfrenta é a falta de estatísticas.
"Ele apanhou porque é homossexual ou por outro motivo? Esta pergunta dificilmente é respondida nas atas policiais, o que dificulta nossa avaliação e captação de recursos. Crimes contra homossexuais e minorias precisam ser corretamente registrados para que tenhamos mais informações para combatê-los“, diz o policial.

Apesar da especialização no combate à homofobia e nos avanços que a Vespol tem obtido, Hentschel também explica que fica difícil avaliar se a violência contra homossexuais diminuiu ou não. "Difícil dizer. É uma violência que se sente mas que não se registra. E é nisso que nos debruçamos agora, em números para que possamos trabalhar melhor nossas campanhas.“
Divulgação/Vespol
Policiais femininas da Vespol: gays e lésbicas que sofriam preconceito dentro da polícia se reuniram para criar a nova divisão
Em relação à campanha brasileira contra a homofobia, Hentschel considera a iniciativa positiva, mas acredita que ela, sozinha, não basta.

Uma das chaves para a mudança, acredita ele, está no trabalho que envolve cidadão e polícia.
"Os homossexuais precisam aprender a procurar ajuda, a denunciar. Para isso estamos aqui, mas leva tempo para que o cidadão aprenda a usar o serviço.“

A experiência com a criação de unidades especiais, e com a postura assumida dos agentes que se declararam homossexuais, criou, na Alemanha, um ambiente mais favorável à denúncia.
"Os homossexuais quando procuravam a polícia eram discriminados e não eram levados a sério. Criava-se uma distorção nos registros oficiais: não se registrava e, portanto, não havia a vítima. Logo, não havia o crime. O resultado é que não existiam recursos para combater um crime que, formalmente, não acontece“, explica ele.

Marcus Hentschel entrou para o curso preparatório da polícia e no meio do processo se descobriu homossexual.
A princípio, não quis falar de sua escolha para ninguém, até ouvir comentários desnecessários de colegas.
Pesquisando na internet por algum tipo de apoio, descobriu a existência da Vespol, onde hoje atua como parte da diretoria.

Aos 34 anos, casado com um também policial e associado à Vespol, Hentschel percebe que há mais tolerância hoje do que há 16 anos, quando a instituição começou.
"Há mais aceitação, e a divisão passou a acumular experiência e conhecimento no tratamento de todo tipo de assédio. A mensagem é clara: não precisa gostar do fato de eu ser homossexual, mas precisa respeitar“.

Tudo bem que é na Alemanha, um dos países mais avançados do mundo, mas cabe aqui a pergunta: 
Até quando homossexuais serão chacinados às centenas no Brasil, para que nossas polícias tomem decisão semelhante à criação da Vespol alemã?

Essa matéria, da repórter Luciana Rangel, foi publicada na Revista Veja em 22.05.2011, e foi enviada pelo leitor - e amigo - Ângelo Massuchetto, de Baurú - SP

ATOR DE 30 ROCK PEDE DESCULPAS POR PIADA HOMOFÓBICA, E AINDA VAI SE ENCONTRAR COM LÍDERES GAYS

Após piada homofóbica feita em seu show de stand-up  em Nashville, nos EUA, na última sexta (10), o astro da série 30 Rock Tracy Morgan irá se encontrar com a comunidade gay para se desculpar mais uma vez - no palco, ele disse que "mataria seu filho se ele fosse homossexual".

De acordo com o jornal The New York Times, a GLAAD - Aliança Gay e Lésbica Contra a Difamação, um dos principais grupos LGBT do mundo - revelou que Morgan irá se encontrar em Nova York com jovens gays que foram abandonados, e com pais que tiveram seus filhos mortos em crimes motivados pelo ódio.

A organização disse também quem o ator irá voltar ao Tennessee para encontrar as pessoas que se sentiram ofendidas pelas suas frases, além de gravar um comunicado de serviço público.

O ator já divulgou na semana passada um pedido de desculpas:
"Não sou uma pessoa detestável e não apoio nenhum tipo de violência contra as pessoas", declarou.
"Apesar de eu ser um piadista igual a todo mundo, e de meus amigos saberem como é o meu coração, minha apresentação foi muito longe, e não foi engraçada em nenhum contexto."
Getty Images
O ator Tracy Morgan
Jarrett Barrios, presidente da GLAAD, disse em comunicado que "ao enviar uma mensagem de apoio aos gays e transexuais, Tracy irá ajudar muitas pessoas a perceberem que ninguém deve ser tratado de forma diferente ou violenta".

E aqui no Brasil? 
Até quando os gays - e as associações que dizem defendê-los - vão fechar os olhos para os tais "humoristas" que achincalham homossexuais a toda hora?

Os exemplos são muitos, e vão desde os insuportáveis Danilo Gentille e Rafa Bastos - ambos do CQC - à triste figura da noite chamada Silvetty Montilla, que continuam enxovalhando sem dó os LGBT, a título de serem "engraçados" ou "humoristas".

Até hoje, não tenho conhecimento de - ao menos nos três nomes acima citados, todos com anos de carreira - terem pedido desculpas pelas grosserias que fazem com o rótulo de "humor".

É que nos EUA isso dá multa de milhares de dólares e na reincidência, cadeia - sem contar que isso, lá, pega mal, muito mal.

Enquanto os bolsos e a liberdade dessas tristes figuras não forem atingidos, por aqui tudo ficará no dito pelo não dito.

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