Nessa postagem, você verá três matérias que aparentemente nada tem em comum, mas são exemplos de como podemos viver e conviver respeitando as diversidades.
Na primeira, você verá que um dos mais famosos âncoras da TV americana se assumiu gay, e sua credibilidade enquanto profissional não sofreu nenhum arranhão; na segunda, o ótimo exemplo da unidade da polícia de Berlim, capital da Alemanha, composta só por gays e que combate principalmente crimes com motivação homofóbica; por fim, a terceira matéria fala como um comediante muito famoso pediu desculpas públicas por ter feito piada homofóbica em seu espetáculo de stand-up - pena que foi nos Estados Unidos, porquê, por aqui, eles falam o que bem entendem e ninguém toma nenhuma providência.
EM AUTOBIOGRAFIA, UM DOS PRINCIPAIS ÂNCORAS DA TV AMERICANA SE ASSUME GAY
O jornalista da CNN, Don Lemon, 45, um dos mais respeitados âncoras da TV americana, assumiu que é gay em sua autobiografia, Transparent, segundo o site Us Magazine.
"A faculdade não foi a única experiência que me fez aprender muito durante os anos que passei em Nova York. Eu também estava começando a assumir minha identidade sexual", escreve Lemon.
Segundo o jornalista, apesar de contar à sua mãe que era gay, ele preferiu guardar segredo diante das outras pessoas.
Divulgação/CNN
O jornalista americano Don Lemon
"Eu, como muitos gays, vivi uma vida de medo, medo que, se alguns dos meus chefes, colegas, amigos, vizinhos e família descobrissem qual era minha opção sexual, me deixassem no ostracismo. É um fardo que milhões de pessoas carregam todos os dias."
A revelação nem arranhou a enorme credibilidade de Lemon junto ao público da emissora.
O livro Transparent será lançado amanhã (16), com grande festa na sede da CNN em Atlanta, Geórgia.
Enquanto isso, por aqui, diversos âncoras e jornalistas famosos continuam dentro do armário; só eles é que acreditam que ninguém não sabe.
DIVISÃO GAY DE POLÍCIA NA ALEMANHA COMBATE CRIMES HOMOFÓBICOS
"Eu sou gay e isso é bom".
Com esta frase, o atual prefeito de Berlim, Klaus Wowereit, declarou em 2001 sua homossexualidade em plena campanha eleitoral - e venceu.
Wowereit está cotado para ser candidato a chanceler - o chefe de governo alemão, que equivale em outras democracias parlamentares ao cargo de primeiro-ministro - pelo SPD - Partido Social Democrata -, uma prova de que sua força política não se abalou – ou talvez tenha até se beneficiado – com o fato de assumir publicamente sua opção sexual.
Àquela altura, no entanto, não se pode dizer que a atitude do político, apesar de corajosa, tenha sido uma ruptura radical nas instituições alemãs.
Antes de Wowereit assumir-se gay, os policiais de Berlim já haviam criado a Vespol - Associação de Policiais Gays e Lésbicas da Alemanha -, tornando-se pioneiros da diversidade nas instituições policiais do país.
É certo que entre o prefeito berlinense e o jegue Jair Bolsonaro há bem mais que um Oceano Atlântico de distância.
Mas aos olhos de quem se acostumou a ver com naturalidade policiais assumidamente homossexuais, reunidos em um grupamento dedicado a combater a homofobia, a ironia da proposta de Bolsonaro – que sugeriu a criação de um batalhão gay no Rio – oscila entre a graça e a defesa radical da diversidade, já que em Berlim a coisa deu muito certo.
Divulgação/Vespol
Policiais da Vespol em Berlim: grupo tem atuação semelhante aos demais agentes, mas é a referência para casos em que há motivação homofóbica no crime
A Vespol, criada em 1995, foi fundada por problemas internos enfrentados pelos policiais homossexuais.
"No relatório anual foi declarado que em determinado batalhão não havia gays, o que era falso. Isso causou incômodo em todos os homossexuais. Foi marcada, então, uma reunião para discutir o assunto", conta o policial e um dos diretores da Vespol Alemanha, Marcus Hentschel.
O tema que era tabu reuniu a princípio 20 policiais, mas hoje, só em Berlim, os assumidos e militantes são mais de mil.
A organização tem representantes em oito estados alemães e funciona como uma espécie de delegacia para homossexuais, onde os policiais que nela trabalham executam tarefas iguais a de todos os outros, mas são chamados quando há violência contra um homossexual e desenvolvem programas preventivos nas ruas e contra a homofobia.
Guardadas as diferenças entre Alemanha e Brasil – e as nuances de mentalidade entre capitais e pequenas cidades em um país de dimensões continentais – a Vespol tem muito a ensinar.
Divulgação/Vespol
Marcus Hentschel, da Vespol: "Os homossexuais, quando procuravam a polícia, não eram levados a sério"
Segundo Hentschel, o grande problema que a associação enfrenta é a falta de estatísticas.
"Ele apanhou porque é homossexual ou por outro motivo? Esta pergunta dificilmente é respondida nas atas policiais, o que dificulta nossa avaliação e captação de recursos. Crimes contra homossexuais e minorias precisam ser corretamente registrados para que tenhamos mais informações para combatê-los“, diz o policial.
Apesar da especialização no combate à homofobia e nos avanços que a Vespol tem obtido, Hentschel também explica que fica difícil avaliar se a violência contra homossexuais diminuiu ou não. "Difícil dizer. É uma violência que se sente mas que não se registra. E é nisso que nos debruçamos agora, em números para que possamos trabalhar melhor nossas campanhas.“
Divulgação/Vespol
Policiais femininas da Vespol: gays e lésbicas que sofriam preconceito dentro da polícia se reuniram para criar a nova divisão
Em relação à campanha brasileira contra a homofobia, Hentschel considera a iniciativa positiva, mas acredita que ela, sozinha, não basta.
Uma das chaves para a mudança, acredita ele, está no trabalho que envolve cidadão e polícia.
"Os homossexuais precisam aprender a procurar ajuda, a denunciar. Para isso estamos aqui, mas leva tempo para que o cidadão aprenda a usar o serviço.“
A experiência com a criação de unidades especiais, e com a postura assumida dos agentes que se declararam homossexuais, criou, na Alemanha, um ambiente mais favorável à denúncia.
"Os homossexuais quando procuravam a polícia eram discriminados e não eram levados a sério. Criava-se uma distorção nos registros oficiais: não se registrava e, portanto, não havia a vítima. Logo, não havia o crime. O resultado é que não existiam recursos para combater um crime que, formalmente, não acontece“, explica ele.
Marcus Hentschel entrou para o curso preparatório da polícia e no meio do processo se descobriu homossexual.
A princípio, não quis falar de sua escolha para ninguém, até ouvir comentários desnecessários de colegas.
Pesquisando na internet por algum tipo de apoio, descobriu a existência da Vespol, onde hoje atua como parte da diretoria.
Aos 34 anos, casado com um também policial e associado à Vespol, Hentschel percebe que há mais tolerância hoje do que há 16 anos, quando a instituição começou.
"Há mais aceitação, e a divisão passou a acumular experiência e conhecimento no tratamento de todo tipo de assédio. A mensagem é clara: não precisa gostar do fato de eu ser homossexual, mas precisa respeitar“.
Tudo bem que é na Alemanha, um dos países mais avançados do mundo, mas cabe aqui a pergunta:
Até quando homossexuais serão chacinados às centenas no Brasil, para que nossas polícias tomem decisão semelhante à criação da Vespol alemã?
Essa matéria, da repórter Luciana Rangel, foi publicada na Revista Veja em 22.05.2011, e foi enviada pelo leitor - e amigo - Ângelo Massuchetto, de Baurú - SP
ATOR DE 30 ROCK PEDE DESCULPAS POR PIADA HOMOFÓBICA, E AINDA VAI SE ENCONTRAR COM LÍDERES GAYS
Após piada homofóbica feita em seu show de stand-up em Nashville, nos EUA, na última sexta (10), o astro da série 30 Rock Tracy Morgan irá se encontrar com a comunidade gay para se desculpar mais uma vez - no palco, ele disse que "mataria seu filho se ele fosse homossexual".
De acordo com o jornal The New York Times, a GLAAD - Aliança Gay e Lésbica Contra a Difamação, um dos principais grupos LGBT do mundo - revelou que Morgan irá se encontrar em Nova York com jovens gays que foram abandonados, e com pais que tiveram seus filhos mortos em crimes motivados pelo ódio.
A organização disse também quem o ator irá voltar ao Tennessee para encontrar as pessoas que se sentiram ofendidas pelas suas frases, além de gravar um comunicado de serviço público.
O ator já divulgou na semana passada um pedido de desculpas:
"Não sou uma pessoa detestável e não apoio nenhum tipo de violência contra as pessoas", declarou.
"Apesar de eu ser um piadista igual a todo mundo, e de meus amigos saberem como é o meu coração, minha apresentação foi muito longe, e não foi engraçada em nenhum contexto."
Getty Images
O ator Tracy Morgan
Jarrett Barrios, presidente da GLAAD, disse em comunicado que "ao enviar uma mensagem de apoio aos gays e transexuais, Tracy irá ajudar muitas pessoas a perceberem que ninguém deve ser tratado de forma diferente ou violenta".
E aqui no Brasil?
Até quando os gays - e as associações que dizem defendê-los - vão fechar os olhos para os tais "humoristas" que achincalham homossexuais a toda hora?
Os exemplos são muitos, e vão desde os insuportáveis Danilo Gentille e Rafa Bastos - ambos do CQC - à triste figura da noite chamada Silvetty Montilla, que continuam enxovalhando sem dó os LGBT, a título de serem "engraçados" ou "humoristas".
Até hoje, não tenho conhecimento de - ao menos nos três nomes acima citados, todos com anos de carreira - terem pedido desculpas pelas grosserias que fazem com o rótulo de "humor".
É que nos EUA isso dá multa de milhares de dólares e na reincidência, cadeia - sem contar que isso, lá, pega mal, muito mal.
Enquanto os bolsos e a liberdade dessas tristes figuras não forem atingidos, por aqui tudo ficará no dito pelo não dito.
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