
Agora, o personagem criado pelo diretor José Padilha - e interpretado com rara maestria por Wagner Moura - reaparece dez anos depois primeiro como comandante do Bope e, logo em seguida, a subsecretário de Segurança Pública.
Foto: Bento Marzo/ Divulgação

Nascimento se vê mergulhado no retrato mais amplo de uma máquina de corrupção perversa, um inferno do qual parece não haver saída.
Padilha teve a chance de fazer correções de curso, como elaborar o argumento e o roteiro do zero em torno de Nascimento, e não de outro personagem, o que lhe economizou noites de insonia em frente a ilha de edição, imaginando soluções para corrigir os problemas narrativos do primeiro filme.
Esse cuidado tornou a segunda parte mais consistente e coesa, abrindo espaço para novos personagens, como o militante de direitos humanos Diogo Fraga, interpretado magistralmente por Irandhir Santos.
Se no primeiro "Tropa de Elite" essa brecha narrativa abria espaço para interpretações dúbias sobre a visão crítica e desesperançada de Padilha, no "2" não há espaço para dúvidas ou ambiguidades, já que tudo está às claras, acompanhado de velhos - "Bandido bom é bandido morto" - e novos - "Porrada neles" - bordões.
Alexandre Lima / Divulgação

Prova disso está na reação do público que lotou o Theatro Municipal de Paulínia na pré estreia na última terça feira, formado por jornalistas, exibidores e uma parcela de convidados do município.
Dois momentos de alívio cômico, no início do filme, seguidos de risadas espontâneas. E pelo menos três momentos de aplausos em cena aberta, quando Nascimento resolve agir movido por uma quase tragédia que o atinge pessoalmente.
Padilha sai do micro para o macro, reposiciona atores - Milhem Cortaz, André Ramiro - da primeira parte em papéis mais elaborados e incorpora novos atores - Seu Jorge - em papéis estratégicos, para tornar o cenário mais verossímil e chocante.
O que não muda é a visão do diretor - que continua a mesma -, apesar de toda cautela na abordagem da violência, o o mesmo vale também a maneira como o publico, por mais seleto e envolvido que possa ser o dessa primeira sessão, percebe essa visão, um tanto simplificada, de como se estabelece um estado de coisas em que os fins continuam justificando os meios.
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Afinal,essa é a premissa de "Tropa de Elite 2": você pode tirar o capitão Nascimento do Bope, mas não pode tirar o Bope do Capitão Nascimento.
O maior lançamento para um filme brasileiro até agora promete - como o primeiro filme de 2007 -, ser uma das maiores bilheterias nacionais do ano, além de causar muita polêmica e até algum debate.
A controvérsia do segundo filme persegue aquela causada pelo primeiro que em 2008 levou o Urso de Ouro - prêmio máximo do festival de Cinema de Berlim.
Há questionamentos sobre o papel do governo, da miséria e do tráfico na violência no Rio de Janeiro e no Brasil.
Não por acaso, numa das cenas em que os personagens vão ao cinema, todos os filmes em cartaz são do diretor Costa-Gavras, presidente do júri de Berlim que consagrou o primeiro "Tropa de Elite".
O filme abre com um letreiro alertando o espectador que, "apesar das possíveis coincidências com a realidade, esta é uma obra de ficção", uma leve pitada de cinismo que parece dissolver-se ao longo das duas horas de boa e velha ultraviolência que, com jorros de sangue e cadáveres sortidos, parece materializar um desejo inconfesso de parte da platéia.
Nascimento - o bem acima da média Wagner Moura, que acaba de ser premiado no Festival do Rio como melhor ator em "VIPs" - já não usa mais a farda preta do Bope, e agora passa a usar o terno e a gravata quando é promovido ao posto de sub-secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, numa manobra do governo populista.
Como no "Tropa 1", uma narração em off reitera e explica tudo aquilo que é visto, num didatismo meio chato, como se o diretor José Padilha não acreditasse apenas nas imagens e precisasse verbalizar a ação para que tudo fique bem claro, especialmente nas primeiras cenas, quando introduz o ativista Diogo Fraga - o ótimo Irandhir Santos, de "Quincas Berro D'água" -, apresentado como um intelectual de esquerda, adorado pelos maconheiros de plantão.
A grande ironia é que a ex-mulher de Nascimento - vivida por Maria Ribeiro -, é casada com Fraga, o avesso de Nascimento, que agora é coronel.
Mathias - André Ramiro -, personagem marcante de "Tropa 1", é preparado por Nascimento para substituí-lo, e traz a ideologia do Bope nas veias ao ignorar a hierarquia, o que acaba causando um massacre em Bangu, dando início à trama de "Tropa 2".
As trajetórias de Nascimento e Fraga caminham para um amálgama, e poderia ser a humanização do primeiro e o endurecimento do segundo.
Só que o ativista - eleito deputado -, sempre é tratado como um fraco diante das atitudes extremadas do coronel.
Nascimento até tenta não baixar a cabeça para o jogo político do governador e dos deputados que o usam como marionete, mas seus métodos, eficientes apesar de questionáveis, lhe dão notoriedade e legitimidade.
"Se o eleitor estava dizendo que eu era herói, não ia ser o governador que ia dizer o contrário", diz.
O inimigo maior, porém, são as milícias criadas e sustentadas por policiais corruptos, que operam um esquema de segurança informal, tomando o lugar dos traficantes à custa de muito medo, e tudo isso é usado numa eleição, envolvendo governador e deputados.
O diretor Padilha alega que seja apenas uma coincidência a chegada do filme aos cinemas depois da reeleição de alguns governadores, e às vésperas do segundo turno.
No roteiro - de Padilha e Bráulio Mantovani -, temos frases de efeito - como "faca na caveira e porrada na vagabundagem" ou "terrorista não é gente" - que saem da boca de um apresentador de TV espalhafatoso, enquanto Nascimento medita sobre os bastidores do poder e a corrupção.
Uma nota de desesperança permeia todo o filme e se concretiza no final, quando parece não haver solução para o país.
"No Brasil, eleição é negócio e o voto é a mercadoria mais valiosa da favela", diz o ex-capitão do Bope, que descobre isso a duras penas, ao perceber que algumas instituições em que acreditava são passíveis de corrupção.
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A ele não resta muita opção se quiser mudar o país, e agora, todos se perguntam qual será o próximo passo do coronel Nascimento.
Talvez na próxima eleição pra presidente...
Confira o trailer do filme:
"TROPA DE ELITE 2"
Título original: Tropa de Elite 2
Diretor: José Padilha
Produção: Zazen Produções
Elenco:
Wagner Moura
Seu Jorge
Tainá Müller
André Ramiro
Maria Ribeiro
Milhem Cortaz
Rod Carvalho
Pedro Van-Held
Gênero: Ação, Policial
Duração: 115 mins, que passam rápido demais
Ano: 2010
Data da Estreia: 08/10/2010
Cor: Colorido
Classificação: Não recomendado para menores de 16 anos
País: Brasil
COTAÇÃO DO KLAU:

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